Ficha do Proponente
Proponente
- Joyce Felipe Cury (UFSCar)
Minicurrículo
- Fotógrafa, realizadora audiovisual e educadora. Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Ciência, Tecnologia e Sociedade da UFSCar (Universidade Federal de São Carlos), onde pesquisa os produtos culturais ligados à fotografia e ao audiovisual que foram financiados pelas lojas Fotoptica entre os anos 1950 e 1990. É professora de fotografia cinematográfica no Instituto Criar de Cinema, TV e Novas Mídias e na Escola Livre de Cinema e Vídeo de Santo André.
Ficha do Trabalho
Título
- Thomaz Farkas: um fotógrafo-empresário no campo cultural brasileiro
Formato
- Presencial
Resumo
- O trabalho trará reflexões em torno da figura do fotógrafo, produtor, empresário e professor Thomaz Farkas (1924-2011), apontando suas contribuições e singularidades no campo cultural brasileiro. Dono das lojas Fotoptica, desempenhou papel significativo no fomento à fotografia e ao audiovisual no Brasil, financiando diversas iniciativas entre as décadas de 1950 e 1990. O lugar ambíguo de Farkas, entre artista e mecenas, será problematizado na comunicação.
Resumo expandido
- Em 2024, Thomaz Farkas (1924-2011) completaria 100 anos. Seu papel enquanto fotógrafo e produtor cinematográfico é bem conhecido e já foi abordado em inúmeros trabalhos acadêmicos. Ora tratando de sua relevância na construção da fotografia moderna brasileira (COSTA e SILVA, 2004), ora com análises e perspectivas históricas em torno do conjunto de documentários que produziu e financiou entre os anos 1960 e 1980, conhecido hoje como Caravana Farkas (LUCAS, 2012 e SOBRINHO, 2008).
Um aspecto ainda pouco debatido é a contribuição de Farkas, como empresário, para a criação de outros produtos culturais vinculados à rede de lojas Fotoptica, empresa com sede em São Paulo da qual era herdeiro e que comercializava equipamentos, tecnologia e materiais relacionados à criação de imagens e sons – câmeras fotográficas; câmeras de vídeo e Super8; equipamentos de captação e gravação de som; filmes 35mm, 16mm e 8mm; serviços de cópia e revelação; livros de fotografia e cinema; e filmoteca para locação de filmes.
São produtos culturais financiados pela Fotoptica: o periódico Novidades Fotoptica (1953-1987); os Super Festivais do Filme Super8 (1973-1983); o Festival Fotoptica Videobrasil (1983-1990); a Foto Galeria Fotoptica (1979-1997); e os já mencionados documentários da Caravana Farkas (1964-1981). Extrapolando as reflexões de Pierre Sorlin (1985) acerca do Cinema, pensamos esses produtos culturais como “objetos fabricados”, que resultam em produtos econômicos, em que estão implicadas práticas culturais determinadas por um conjunto de fatores sociais.
A proposta desta comunicação não é esmiuçar cada um desses produtos culturais, mas debater o lugar sui generis que Thomaz Farkas ocupa dentro do campo cultural brasileiro. Ele é, ao mesmo tempo, o artista entusiasmado com a cena cultural do país; um articulador institucional (foi presidente e diretor de várias instituições culturais, como MASP, Cinemateca e Associação Cultural Kinoforum); e o empresário que representa a burguesia nacional progressista, fomentando a fotografia e o audiovisual brasileiros com produtos culturais que levavam a marca Fotoptica e que deveriam reverter algum lucro para a empresa.
A simultaneidade de papéis que Thomaz Farkas desempenhou aponta para a ambiguidade de sua figura. O artista que presume lucro é o oposto do que Pierre Bourdieu (1996) afirma como condição necessária para entrar e ter autonomia no campo de produção cultural: “[…] aqueles que nele entram têm o interesse no desinteresse [econômico]” (BOURDIEAU, 1996, p.245).
Nem sempre Farkas quis vincular o nome da loja aos produtos culturais, o que corrobora com a questão ideológica colocada acima. Os filmes da Caravana, por exemplo, não mencionam diretamente a empresa, embora saibamos que foram financiados com seu lucro, que boa parte dos equipamentos, insumos e processos foram da Fotoptica e que muitas reuniões de produção ocorreram na sede que ficava na rua Conselheiro Crispiniano, no centro de São Paulo.
A Foto Galeria Fotoptica é outro exemplo. Rosely Nakagawa (2020), a primeira diretora da galeria, disse que inicialmente o espaço não levaria o nome da loja, mas que Farkas foi convencido pelos outros administradores a fazê-lo, já que isso ajudaria comercialmente a empresa. Ao lado do interesse comercial, havia intenção de criar uma “galeria para o fotógrafo brasileiro” (NOVIDADES FOTOPTICA, 1980, n.92, p.23), de contribuir para a produção cultural do país.
Neste sentido, há dificuldade de encontrar uma única adjetivação para Farkas, que desempenha papéis de fotógrafo, produtor e empresário. Nossa hipótese é a de que os produtos culturais atrelados à marca Fotoptica apontam para um modo particular de “mecenato cultural de empresa” (CONDE e SANTOS, 1990), prática na qual ele foi agente central.
Bibliografia
- BOURDIEU, Pierre. As regras da arte. São Paulo: Companhia das Letras, 1996.
COSTA, Helouise e SILVA, Renato Rodrigues da. A fotografia moderna no Brasil. São Paulo: Cosac Naify, 2004.
CONDE, Idalina e SANTOS, Maria de L. C. Lima dos. Mecenato Cultural de Empresa em Portugal. In: Análise Social, vol. 25, no. 107, 1990, p. 375-439.
LUCAS, Meize. Caravana Farkas: itinerários do documentário brasileiro. São Paulo: Annablume, 2012.
NAKAGAWA, Rosely. Entrevista concedida a Joyce Felipe Cury. São Paulo, 26 de outubro de 2020.
NOVIDADES FOTOPTICA. São Paulo: Fotoptica, 1953-1987. Disponível em:
SOBRINHO, Gilberto Alexandre. A Caravana Farkas e o moderno documentário brasileiro: introdução aos contextos e conceitos dos filmes. In: HAMBURGER, Esther et al (org.). IX Estudos de Cinema e Audiovisual Socine. São Paulo: Annablume, 2008, p.155- 162.
SORLIN, Pierre. Sociología del cine. México: Fondo de Cultura Económica, 1985