Trabalhos aprovados 2024

Ficha do Proponente

Proponente

    Clarisse Maria Castro de Alvarenga (UFMG)

Minicurrículo

    É cineasta, pesquisadora e professora na Faculdade de Educação da UFMG, onde coordena o Laboratório de Práticas Audiovisuais (LAPA) e o Laboratório e Arquivo de Imagem e Som (LAIS). Entre os filmes que dirigiu, estão os longas-metragens Ô, de casa! (2007) e Homem-peixe (2017). É autora dos livros Da cena do contato ao inacabamento da história (2017) e Aprender com imagens (2022). Atualmente, integra a coordenação da Rede Kino – Rede Latino-Americana de Educação Cinema e Audiovisual.

Coautor

    Gustavo Jardim (UFMG)

Ficha do Trabalho

Título

    Espaços de cultivo: criação audiovisual e territórios do campo

Mesa

    Desaprender sobredeterminações: anarquivar documentos e invenções

Formato

    Presencial

Resumo

    A partir de diálogo com Antônio Bispo dos Santos, pretendemos tratar de uma experiência de criação audiovisual com estudantes da Licenciatura em Educação do Campo (UFMG) transcorrida nos anos de 2022 a 2024, que envolveu curadoria, exibição de filmes, pedagogias do cinema, criação audiovisual, elaboração de uma plataforma digital e práticas cineclubistas em interface com questões que surgem na relação com o espaço (com a terra) e com o tempo (a temporalidade dos territórios) de cada estudante.

Resumo expandido

    Pretendemos, a partir de diálogo com Antônio Bispo dos Santos, tratar de uma experiência de criação audiovisual com estudantes do Curso de Licenciatura em Educação do Campo (Lecampo) da UFMG, transcorrida nos anos de 2022 a 2024. O curso atende pessoas pertencentes a diferentes segmentos sociais do campo: filhos e filhas de agricultores, professores e técnicos que atuam na área rural, quilombolas, populações atingidas por barragens, educadores da Associação Mineira da Escola Família-Agrícola e assalariados rurais, dentre outros.

    A experiência que pretendemos analisar envolveu curadoria, exibição de filmes, pedagogias do cinema, criação audiovisual, elaboração de uma plataforma digital e práticas cineclubistas em interface com questões que surgem na relação com o espaço (com a terra) e com o tempo (a temporalidade dos territórios) de cada estudante. Por meio da análise dos processos cinematográficos e pedagógicos experimentados, iremos identificar o “início, meio e início” desses processos, localizando maneiras em que acontecem “confluências” entre os vínculos dos espaços e tempos da terra e do cinema, o que chamaremos de “espaços de cultivo”.

    A história do cinema brasileiro por diversas vezes “confluiu” com a história da luta pela terra. Um dos maiores exemplos desse encontro talvez seja Cabra marcado para morrer (1964-1984), filme-processo por meio do qual Eduardo Coutinho recupera a história das ligas camponesas no Nordeste, no período compreendido entre 1964, quando se iniciam as filmagens, até 1984, ano em que é finalizada sua montagem. O filme foi interrompido pelo Golpe Militar, em 1964, e retomado em 1981/1982, quando foi possível voltar à campo para filmar devido ao contexto da redemocratização do país. A partir daí, o cineasta reencontra as pessoas que ele filmou, trabalhadores do campo que eram moradores do Engenho Galileia, no interior de Pernambuco, entre elas Elizabeth Teixeira, cujo marido era o camponês assassinado, João Pedro Teixeira, presidente da Liga de Sapé (Paraíba). Foi justamente a história de vida de João Pedro que inspirou a escrita do roteiro do primeiro Cabra (1964).

    A atuação de Coutinho junto aos povos do campo é uma motivação importante para o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), que surge em 1984, ano em que Cabra é concluído. Desde a criação do movimento, a comunicação e o audiovisual são aspectos constitutivos das políticas do campo. A Brigada Audiovisual da Via Campesina, criada em 2007, teve seu nome alterado em 2014 para Brigada Audiovisual Eduardo Coutinho em homenagem ao cineasta quando da sua morte. “O filme [Cabra marcado para morrer] foi um importante documento imagético não só para a história do cinema nacional e a história brasileira, contribuindo também para a construção da identidade do próprio MST”, como testemunham Carlos Eduardo de Souza Pereira, Luara Dal Chiavon e Maria Aparecida da Silva, militantes do MST (Pereira, Dal Chiavon, Silva, 2018: p. 69).

    Iremos propor, seguindo a trilha aberta por Coutinho, uma confluência entre a luta pela terra e as imagens do cinema para refletir sobre o “início, meio e início” do percurso com estudantes de comunidades do campo que se preparam para se tornarem professores e professoras. O que podemos criar juntos pela via da experimentação cinematográfica? Nosso desafio é a construção colaborativa de uma trajetória coletiva entre o cinema, a terra e a licenciatura. Nos perguntamos como o processo não linear e as transformações que acontecem dentro e fora da sala de aula colocam em cena um outro conhecimento dos estudantes e possibilitam a emergência de outras narrativas, entre a terra e as imagens promovendo a criação de “espaços de cultivo”.

Bibliografia

    ALVARENGA, Clarisse (org). Aprender com imagens. Belo Horizonte: LAPA, 2022.
    JARDIM, Gustavo. A imagem emaranhada: cartografias do cinema experimental na educação, Tese de doutorado em Comunicação Social, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2023.
    LINS, Consuelo. O documentário de Eduardo Coutinho: televisão, cinema e vídeo. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2004.
    MESQUITA, Cláudia. A família de Elizabeth Teixeira: a história reaberta. In: Catálogo do 18º Festival do filme documentário e etnográfico/ Fórum de Antropologia e Cinema, 2014, p. 215-225.
    PEREIRA, Carlos Eduardo de Souza; DAL CHIAVON, Luara; e SILVA, Maria Aparecida da. O audiovisual no MST: histórias, processos e estéticas. In: Revista Devires – Cinema e Humanidades. Belo Horizonte: Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas. Dossiê Pedagogias do Cinema II. v. 15, n. 2, p. 60-75, jul-dez, 2018.
    SANTOS, Antônio Bispo. A terra dá, a terra quer. São Paulo: Ubu Editora/Piseagrama, 2023.