Ficha do Proponente
Proponente
- Gilberto Alexandre Sobrinho (Unicamp)
Minicurrículo
- Professor Associado junto ao Departamento de Multimeios, Mídia e Comunicação, do IA/UNICAMP. Leciona na graduação em Comunicação Social – Midialogia e nos Programas de Pós-graduação em Multimeios e Artes Visuais. Atualmente é Presidente da Comissão Assessora de Diversidade Etnico-racial – CADER, junto à Diretoria Executiva de Direitos Humanos, da Unicamp. Também é coordenador do PPG Multimeios.
Ficha do Trabalho
Título
- A estética do quilombismo em A Deusa Negra (1978), de Ola Balogun
Seminário
- Cinemas negros: estéticas, narrativas e políticas audiovisuais na África e nas afrodiásporas.
Formato
- Presencial
Resumo
- Análise fílmica do longa-metragem A Deusa Negra (Black Goddess, Nigéria e Brasil, 1978), dirigido pelo cineasta e músico nigeriano Ola Balogun. O filme sustenta-se sob duas temporalidades em sua enunciação, passado e presente, com suas demandas históricas e de representação específicas. Proponho uma leitura, a partir de seus elementos textuais e paratexuais, ancorado, principalmente, na abordagem do conceito de quilombismo (Abdias Nascimento), como categoria estética afro-centrada.
Resumo expandido
- Análise fílmica do longa-metragem A Deusa Negra (Black Goddess, Nigéria e Brasil, 1978), dirigido pelo cineasta e músico nigeriano Ola Balogun. A co-produção brasileira (Magnus Filmes) e nigeriana (Afrocult Foundation) foi proposta por Jece Valadão e teve distribuição pela Embrafilme. O filme entrou no circuito comercial brasileiro em 1978 e recebeu, internacionalmente, prêmios nos Festivais de Cinema da Tunísia e de Cartago. Oba Balogun pertence a uma geração pioneira de cineastas africanos, pós-independência colonial. Trata-se de um intelectual bastante influente e que atuou em outras frentes de conhecimento, como a diplomacia, a história da arte e a música, sendo o cinema sua principal atividade. Ele nasceu em 1945 em Aba, no Estado de Imo. Sua formação inclui as instituições: King’s College, Nigéria; Universidade de Dakar, Senegal; University of Caen, França; Institut des hautes études cinématographiques, França. Sua filmografia inclui One Nigeria (1969), Les ponts de Paris (1971), Fire in the Afternoon (1971), Alpha (1972), Thundergod (1972), Nupe Mascarade (1972), Ajani Ogun (1975), In the Beginning (1972), Owuama, a New Year Festival (1973), Eastern Nigeria Revisited (1973), Alpha (1973), Vivre (1974), Nigersteel (1975), Amadi (1975), Musik Man (1976), Ija Ominira (1978), A Deusa Negra (Black Goddess) (1978), Aiye (1979), Cry Freedom (1981), Money Power (1982), Orun Mooru (1982), Money Power (1984), River Niger, Black Mother (1988), Magic of Nigeria (1993), Destination Barbados (1994), Gods of Africa in Brazil (1998) distribuídos entre ficção e documentário, nos formatos curta e longa-metragem. Em A Deusa Negra, narram-se dois enunciados fílmicos interligados, um melodrama histórico voltado para o período da colonização e da violência da escravidão e uma saga afro-diaspórica contemporânea. Um filme de encontros e deslocamentos, dois continentes – América e África, dois países – Brasil e Nigéria. Iemanjá, a Deusa Negra, e toda uma cultura iorubana, e os sincretismos e ressignificações que se seguiram na composição do Atlântico Negro (Gilroy, 2001) estão dispostos nas camadas do filme. No plano contemporâneo da narrativa, temos o percurso de deslocamentos e encontros do personagem Babatunde (Zózimo Bulbul), carregando uma estatueta da orixá, em uma saga em busca de seus familiares, o que reverbera em outros sentidos e significações. O filme sustenta-se sob duas temporalidades, passado e presente, com suas demandas históricas e de representação específicas. Proponho uma leitura, a partir de seus elementos textuais e paratexuais, ancorado, principalmente, na abordagem do conceito de quilombismo (Nascimento, 2019), como categoria estética afro-centrada. Parte-se, assim, da presença, no discurso audiovisual, de elementos de controle e submissão, inerentes à configuração da forma da visualidade colonizadora e as relações de poder na formação da visualidade. Nesse sentido, sigo com Nicholas Mirzoeff (2011) e suas considerações sobre o ‘olhar da autoridade’ e seus ‘complexos de visualidade’. Esse mesmo autor traz a reação emancipadora desses dispositivos de controle, na esfera da contra-visualidade. Desse modo, entre em operação o conceito de quilombismo como categoria estética. Trata-se da formação de um campo de forças de expressão visual e sonora, que inclui agentes em circulação e em rede na formação da resistência na construção de uma estética negra, do qual o conceito abdiano é uma chave essencial. Penso, portanto, que a articulação textual (análise das imagens, sons e narrativa, em seu desenvolvimento enunciativo) se entrelaça com elementos paratextuais (a escalação de atores e atrizes, a composição da ficha técnica, com destaque para Raquel Trindade – figurino e coreografia – e a composição da trilha musical por Remi Kabaka, entre outros) na definição de uma estética quilombista para o cinema.
Bibliografia
- Bomfim, F.C. ; Sobrinho, G.A. (2023). Em torno de estratégias de visualidade e do direito de olhar. DOC ON-LINE: REVISTA DIGITAL DE CINEMA DOCUMENTARIO, v. 34.
Diawara, M. (1992). African cinema: politics and culture. Bloomington: Indiana University.
Gilroy, P. (2001). O Atlântico negro. São Paulo: 34.
Mirzoeff, N. (2011). The right to look. A counterhistory of visuality. Durham: Duke University Press.
Nascimento. A. (2019). O quilombismo. Documentos de uma militância Pan-africanista. São Paulo: Perspectiva.
Pfaff, Françoise (2004). Focus on African films. Bloomington: Indiana University.
Sobrinho, G.A. (2023). A estética do quilombismo: as imagens de Abdias Nascimento. In: 32° Encontro Anual da COMPÓS – Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação, 2023, São Paulo. Anais do 32° Encontro Anual da COMPÓS. São Paulo: Compós, 2023.