Trabalhos aprovados 2024

Ficha do Proponente

Proponente

    Thiago de Castro Sobral (UFF)

Minicurrículo

    Mestrando em cinema da UFF. Graduação em cinema pela UFF. Nível técnico em música pela Escola Villa-Lobos. Licenciatura em música, em curso, pela UNIRIO. É mixador, técnico e editor de som. Esteve na mostra Aurora de Tiradentes (2023) com o longa Peixe Abissal. Foi premiado em diversos festivais com os longas Torquato Neto: Todas as Horas do Fim (2017); Yorimatã (2016); Crônicas da Demolição (2015). Trabalhou na restauração de Rico Ri à Toa, de Roberto Farias, e Estou Aí, de Cajado Filho.

Ficha do Trabalho

Título

    Som, mémoria e magia em Yorimatã, de Rafael Saar

Seminário

    Estilo e som no audiovisual

Formato

    Presencial

Resumo

    Yorimatã é o longa de estreia de Rafael Saar, um documentário musical que aborda a vida e obra da dupla de compositoras Luhli e Lucina. Mergulhando no universo mágico-musical da dupla, o filme costura imagens de arquivos, gravações caseiras, discos e cassetes junto a registros contemporâneos de números musicais e entrevistas. Esta pesquisa busca investigar particularmente o desenho de som do longa e sua contribuição na construção da memória e dessa dimensão mágico-sensorial.

Resumo expandido

    Já nas cartelas iniciais, ainda sob as logomarcas, as cigarras invadem a banda sonora com seus assobios. Uma nova camada de tambores, apitos e pássaros se juntam a elas anunciando a magia das matas. Entidades que irão percorrer todo filme Yorimatã, de Rafael Saar (2014). A paisagem é cortada pelo dedilhado dos violões e pelas vozes de Luhli e Lucina. As duas, em imagens em P&B da década de 70, costuram suas vozes de forma única, onde se entrelaçam e se complementam, num parafuso musical como dizia Luhli. As duas jovens e lindas então largam as cordas e evocam os tambores transformando a apresentação numa gira. Em seguida, sobre a imagem de um por do sol em Mangaratiba, transitam livremente vozes de crianças, apitos de trem, cigarras, pássaros e ruídos de fita magnética, ao mesmo tempo que a música em off preenche o espaço.

    Esta pesquisa tem uma motivação pessoal de se debruçar sobre o meu próprio fazer e revisitar este trabalho marcante em minha trajetória. Eu tive a honra de assinar o desenho de som deste filme, que me apresentou diversos desafios que ainda me intrigam do ponto de vista da concepção sonora. Para além de uma construção convencional dos documentários biográfico-musicais, onde se costuram entrevistas, voice over e imagens de arquivo, Yorimatã se deixa contaminar pelo espírito das personagens trazendo uma camada sensorial e subliminar por onde passeiam, memórias, texturas, sensações e simbolismos que evocam entidades e Orixás. A vivência mistico-religiosa da dupla nos terreiros de umbanda e toda a beleza da sua construção familiar à margem dos padrões sociais da época, se expressam na banda sonora numa costura delicada que se coloca entre as falas, entre os sons ambientes e musicais. Camadas difíceis de definir e que exigem uma atenção aguçada do espectador para percebê-las em sua plenitude.

    Apoiado em autores como Chion (2011), Amaral (2015), Baltar (2007) e Costa (2008), este projeto busca investigar de forma analítica esta construção tão particular do desenho sonoro no intuito de entender como o som pode evocar esta dimensão mágico-religiosa, assim como contribuir para novas camadas de memória. Citando uma fala de Luhli: ” se magia é mexer com as coisas invisíveis. Então todo músico, já que a música é uma coisa invisível, é mais ou menos mago dependendo de quanto se assuma. “

Bibliografia

    AMARAL, Guilherme Gustav Stolzel. Os documentários musicais brasileiros: uma análise do filme Nelson Freire. São Carlos, 2015.
    BALTAR, Mariana. Realidade Lacrimosa: Diálogos entre o universo do documentário e a imaginação melodramática. Niterói, 2007.
    CHION, Michel. A Audiovisão: some imagem o cinema. Lisboa, 2011.
    COSTA, Fernando Morais da. O som no cinema brasileiro. Rio de Janeiro, 2008.
    FERRO, Marc. Cinema e História. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992.
    LE GOFF, J. História e memória. Trad.: Bernardo Leitão et al. Campinas, SP, 1990.
    LOWENTHAL, David. Como conhecemos o passado. Projeto História. São Paulo, 1998.
    MACHADO, Arlindo. O ponto de escuta. São Paulo, 2007
    MARKS, Laura. The Skin of Film: intercultural cinema, embodiment and the senses. Duke University Press, 2000.
    POLLAK, Michel. Memória e identidade Social. Revista de Estudos Históricos, Rio de Janeiro, 1992
    VIEIRA JR., Erly. Texturas sonoras de um mundo em imersão in Sonoridade Cinema, 2015.