Trabalhos aprovados 2024

Ficha do Proponente

Proponente

    Felipe Davson Pereira da Silva (UFF)

Minicurrículo

    Graduado em História pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Mestre em História pela Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) e Doutorando em Cinema e Audiovisual pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Atualmente, desenvolve pesquisas sobre o cinema na Primeira República, com ênfase no combate nacional aos estabelecimentos cinematográficos que eram pejorativamente denominados cinemas “livres/alegres”.

Ficha do Trabalho

Título

    Da discrição à perseguição: o caso do “cinema alegre”

Mesa

    New Cinema History e histórias de cinemas: interfaces Cinema/ História

Formato

    Presencial

Resumo

    Este trabalho visa compreender, a partir de uma sala localizada no Recife, pejorativamente denominada de “cinema alegre”, em 1915, elementos de uma estrutura de dominação social em formação no país e como o cinema foi inserida nela. Nossa metodologia de análise será a micro-história. Constituiremos como fontes textos dos detratores do “cinema alegre”, publicados nos primeiros meses do ano de 1915, e anúncios de outros estabelecimentos cinematográficos “alegres”, veiculados entre 1909 e 1917.

Resumo expandido

    Este trabalho tem como ponto de partida uma sala de cinema localizada na cidade do Recife, no ano de 1915, que, supostamente devido ao tipo de filme que exibia, durou menos de três meses, sendo fechado por ordem judicial. Durante o debate promovido na imprensa local, enquanto o estabelecimento seguia funcionando, este cinema foi batizado pelos seus detratores de “cinema alegre”. A palavra alegre, nesse período, era utilizada de forma pejorativa para produtos como fotos, livros, jornais, revistas, peças ou filmes que continham conotações sexuais ou que contivessem algo considerado impróprio para os padrões morais vigentes à época.
    Nesse sentido, estabelecimentos como o do Recife precisavam criar mecanismos de defesa para não chamarem a atenção das autoridades e perderem não só a sua licença, como o seu público, que preferia anonimato, e consequentemente sua renda. Dentre tais mecanismos, podemos citar como exemplo a não publicação (com raras exceções, como o Teatro Carlos Gomes do Rio de Janeiro, que durante vários anos publicizou sua sala de gênero “alegre” nos principais jornais cariocas) da programação dos cinemas nos periódicos locais, algo comum e diário a partir dos anos 1910.
    Contudo, mesmo com certa discrição, determinados indivíduos se colocavam como educadores morais, via imprensa, buscando denunciar, censurar e criminalizar, através da opinião pública, qualquer cena vista por eles que, em suas concepções, ferissem os bons costumes. Dentre eles, podemos destacar Britto Alves, que, ao escrever “Façamos do cinematographo um meio de cultura e civilização e não, em nome do presente e do futuro! um elemento de perversão individual e social”(Jornal do Recife, 1914, p. 1), sintetizou um pensamento à época sobre os perigos do cinema. Outro indício de uma sala “alegre” era a proibição da entrada de crianças e mulheres nas sessões.
    Ainda assim, vários espectadores escreviam cartas, que eram publicadas em periódicos, relatando que precisaram se retirar com suas famílias, após as primeiras cenas dos filmes, por não saberem de antemão que se tratava de uma fita “alegre”. Isso demonstra que a noção de “imoralidade” também atingia películas que eram exibidas em cinemas não “alegres”.
    Como este trabalho se insere a partir da relação Cinema e História, no que se relaciona ao campo da História, utilizaremos como metodologia a micro-história, que “dedica-se ao problema de como obtemos acesso ao conhecimento do passado, através de vários indícios, sinais e sintomas” (Levi, 1992, p. 154). Ela nos ajudará a compreender elementos de uma estrutura de dominação social em formação no país e como o cinema foi inserida nela, tendo como estudo de caso o “cinema alegre” no Recife.
    No que tange ao campo do Cinema, dialogaremos com perspectivas que vêm se configurando a partir dos anos 1980, de descentralização do foco nos filmes para outros elementos, como distribuição, exibição e recepção. Dentre elas, histórias de cinemas: “trata-se de uma empreitada teórico-prática de natureza transdisciplinar que joga luz sobre a trajetória paralela da formação de públicos e das transformações culturais, tecnológicas e mercadológicas do cinema” (Vieira, 2021, p. 7). Cabe destacar a relação desta com a New Cinema History, focada também numa história social do cinema, que engloba diferentes metodologias de diversos campos de estudo, dentre eles, a História (Maltby, 2011).
    As fontes deste trabalho serão os textos dos detratores do “cinema alegre”, publicados nos primeiros meses do ano de 1915. Somado a isso, foram localizados entre 1909 e 1917, na parte dedicada a estabelecimentos cinematográficos, anúncios de outros “cinemas alegres”, mas que, diferente da sala do Recife, conseguiram divulgar na imprensa, o seu negócio.

Bibliografia

    LEVI, Giovanni. Sobre a micro-história. In: BURKE, Peter (Org.). A escrita da história: novas perspectivas. São Paulo: Editora UNESP, 1992.
    MALTBY, Richard. New Cinema Histories. In: MALTBY, Richard; BILTEREYST, Daniël; MEERS, Philippe (orgs.). Explorations in New Cinema History: approaches and case studies. Oxford: Blackwell Publishing, 2011.
    PEREIRA, Cristina Schettin. Um gênero alegre: imprensa e pornografia no Rio de Janeiro (1896-1916). Dissertação (Mestrado em História) Programa de Pós-Graduação em História. Universidade Estadual de Campinas, 1997.
    VIEIRA, João Luiz. Prefácio. In: BRUM, Alessandra; BRANDÃO, Ryan (orgs.). Histórias de cinemas de rua em Minas Gerais. Juiz de Fora: Editora UFJF, 2021.