Ficha do Proponente
Proponente
- Samuel Baptista Mariani (ECA – USP)
Minicurrículo
- Samuel Mariani é formado em Midialogia pela Unicamp e é mestrando da Pós-Graduação em Meios e Processos Audiovisuais da USP, membro do MidiAto: Grupo de Estudos de Linguagem: Práticas Midiáticas. Trabalha como animador, montador e explorador de IA na Coala Filmes, para o Núcleo de Cinema de Animação de Campinas e para o Dia Internacional da Animação do Brasil.
Ficha do Trabalho
Título
- Das estéticas atribuídas à IA: crítica mediada pela animação.
Formato
- Presencial
Resumo
- A partir da análise de um experimento de animação com arte generativa dotada de inteligência artificial, realizado para a divulgação do Dia Internacional da Animação no Brasil em 2022, buscou-se vislumbrar os novos paradigmas de des-realismo da imagem de arte, dada a persistência de sua condição metacrítica, sua relação com as teorias analíticas da cultura e seu papel na construção das narrativas sobre IA.
Resumo expandido
- Desde 2018, alguns pesquisadores da área de tecnologia e novas mídias como Lev Manovich apontam a condição de “caixa preta” da Inteligência Artificial, condição reiterada nos últimos anos com a extrema popularização de modelos de arte generativa instrumentalizados com IA (ARIELLI, MANOVICH, 2023). Motivados por essa narrativa, a crítica de arte especializada, acadêmica e dispersa nas redes sociais têm se deparado com a necessidade de identificar elementos nas imagens geradas que identifiquem a artesania humana, ou denunciem a presença da máquina. Esses mesmos elementos são baseados em vícios, tanto humanos quanto maquínicos que, com o surgimento de mais lógicas híbridas de trabalho, aumento do seu fluxo de postagem e o constante escrutínio ao qual são submetidas essas mesmas imagens, sua depuração é cada vez mais intensa, gerando promessas de simbiose que superam as classificações simples e definições historicizadas.
O efeito gerado por essas imagens parece derivar de uma perturbação no seu público que corrobora com a ciência da computação de Alan Turing, quando este reformula a noção de originalidade da máquina a partir de um receptor “pego de surpresa” (TURING apud CAVE et al, 2020); além de compactuar com o desenvolvimento do efeito de desrealização do mundo desde a época da adoção da fotografia e proliferação do cinema, algo sugerido a partir das previsões de Walter Benjamin, que em seus escritos destitui a aura da obra de arte, com ganho do “inconsciente ótico” fotográfico (BENJAMIN, 1985). Dando continuidade às previsões de Benjamin e atravessando termos que desde os anos 60 vêm reformando as velhas hermenêuticas, como “espetáculo” e “simulação”, a crítica especializada vai inclusive reforçar as condições de recepção dessas criações algorítmicas, que já nem se prestam a documentar ou desrealizar o mundo, mas, pelo contrário, “as imagens virais modelam as próprias realidades, não raro de forma independente de nossa agência e contra nossos interesses” (FOSTER, 2021).
Seguindo a cronologia de “AI Narratives: A History of Imaginative Thinking about Intelligent Machines” (2020), essas promessas acrescentam ao panorama mitológico sobre a IA e contribuem muito para a migração da produção audiovisual sobre inteligência artificial, da ficção para o documentário. Sua conversão em método de trabalho atinge uma dimensão simbólica quando é utilizada para sintetizar as perspectivas do fazer animado na vinheta de abertura do Dia Internacional da Animação de 2022 no Brasil, ano em que os serviços de geração de imagem diversificaram-se por entre vários fornecimentos, engendrando uma grande proliferação de artes produzidas por IA através do complexo internético.
A animação do DIA, sempre com a proposta de representar o cenário do cinema de animação contemporâneo a cada edição, historicamente levantando temas políticos e versando com as produções de suas épocas, foi, no ano em questão, produzida somente com imagens geradas por inteligência artificial, sintetizando não só a nova política que começava a parasitar os meios de produção como também as ansiedades dos realizadores diante das novas configurações do mercado. Seu reflexo foi sentido no meio e pelos seus realizadores, desencadeando rodas de conversa temáticas e discussões nos fóruns promovidos pela Associação Brasileira de Cinema de Animação. Não à toa, pois o alcance do DIA é considerável, as exibições são realizadas simultaneamente no dia 28 de outubro em mais de 100 cidades em todo o país (DIA, 2024).
Analisando a fundo o trabalho, sendo o autor desta pesquisa também autor da animação, foi possível acessar, a partir da produção instrumentalizada por IA de caráter experimental, vislumbres da quebra de expectativa sobre a neutralidade da máquina, da tensão associada à autonomia dessas tecnologias desprovida de supervisão, e algo do desgaste das noções de belo na arte, principalmente quando associado ao original, criativo e diverso na esfera simbólica.
Bibliografia
- ARIELLI, Emanuele; MANOVICH, Lev. Artificial Aesthetics: A Critical Guide to AI in Art, Media and Design. Online edn: Manovich.net, 2023. Disponível em: http://manovich.net/index.php/projects/artificial-aesthetics-book/ . Acesso em: 25 de março de 2024.
BENJAMIN, Walter. Magia e Técnica, Arte e Política. Ensaios Sobre Literatura e História da Cultura – Volume 1. Série Obras Escolhidas. São Paulo: Editora Brasiliense, 1985.
CAVE, Stephen; DIHAL, Kanta; DILLON, Sarah (org.), AI Narratives: A History of Imaginative Thinking about Intelligent Machines. Oxford: Oxford Academic online edn, 2020. Disponível em: https://doi.org/10.1093/oso/9780198846666.001.0001. Acesso em: 25 de março de 2024.
DIA. Dia Internacional da Animação. “Sobre o DIA”. Disponível em: https://diadaanimacao.com.br/. Acesso em: 29 de março de 2024.
FOSTER, Hal. Telas Estilhaçadas. Em: FOSTER, Hal. O que vem depois da farsa?: Arte e crítica em tempos de debacle. São Paulo: Ubu, 2021.