Ficha do Proponente
Proponente
- Giulianna Nogueira Ronna (PUCRS)
Minicurrículo
- Doutora pelo PPGCOM/ PUCRS, com bolsa de pesquisa CNPq. Mestre pelo mesmo programa com incentivo bolsa CAPES. Participa dos Grupos de Pesquisa Kinepoliticom (Comunicação, Estética e Política) e Encruzilhada (Cinema, audiovisual, tecnologias e processos formativos) vinculados ao CNPq
Coautores
- JULIANA VIEIRA COSTA (PUCRS)
Anna Karolina Veiga Santa Helena (PUCRS)
Ficha do Trabalho
Título
- Identidade, imagem e território em Bimi Shu Ikaya (2018)
Seminário
- Cinema e audiovisual na América Latina: novas perspectivas epistêmicas, estéticas e geopolíticas
Formato
- Presencial
Resumo
- Neste texto propomos uma reflexão a partir do filme Bimi Shu Ikaya (2018), analisando os aspectos estéticos e narrativos em correspondência com os saberes originários, buscando compreender como a construção fílmica apresenta e potencializa questões sobre o território, a identidade e o gênero no cinema indígena contemporâneo. Entendemos que o filme revela os contornos políticos dos modos de existência e resistência que permeiam uma importante revisão histórica.
Resumo expandido
- Neste texto propomos uma reflexão a partir do filme Bimi Shu Ikaya. Bimi Poder De Sopro (2018), analisando os aspectos estéticos e narrativos em correspondência com os saberes originários, permitindo compreender como a construção fílmica apresenta e potencializa questões sobre território, identidade e gênero no cinema indígena contemporâneo, trazendo uma nova visibilidade histórica e política às lutas, à cultura e à cosmovisão dos povos indígenas. Entendemos que o filme contribui com o conjunto de produções e práticas artísticas atuais em que os princípios ancestrais passam a ser agentes ativos do conhecimento, da compreensão identitária e da preservação das tradições, estabelecendo um diálogo intercultural, como sugerem Edson Kayapó, Kássia Karajá e Renata Tupinambá (2023). O filme, estruturado em torno do ritual do nixi pae, também conhecido como ayahuasca, explora as atividades da pajé de cura Bimi, pertencente à aldeia Huni Kuin Segredo do Artesão, localizada na Terra Indígena Praia do Carapanã, município de Tarauacá, Acre. A etnia Kaxinawá/Huni Kuin tem sua tradição e suas práticas firmemente estabelecidas com base na sabedoria da floresta, na qual a interação com as plantas e ervas medicinais está intrinsecamente relacionada a elementos imagéticos e oníricos. Desse modo, com base nos sentidos da palavra huni kuin e na forma como a noção de imagem é mobilizada, é possível estabelecer uma conexão imagética que permeia as práticas culturais, sendo possível relacionar a própria constituição identitária com a alteridade e a imagem/a miragem que a beberagem do cipó proporciona (Lagrou, 1991). Tal expressividade estética pode ser verificada nos rituais, na cultura e nos grafismos Kene Kuin, caracterizados pelo estilo geométrico, exposto no vestuário, nas pinturas, no artesanato e, também, desenhado nos corpos. Entre os rituais, interessa para este estudo a mitologia que envolve o uso da bebida nixi pae, uma vez que sua mitologia é central no modo de vida da comunidade e está presente na essência narrativa do filme em análise. É a partir deste contexto que podemos cotejar o filme Bimi Shu Ikaya. Bimi Poder De Sopro como parte da produção artística e cinematográfica dos Huni Kuin que se relaciona com a essência ancestral a partir da imagem e da apropriação das técnicas e dispositivos que as possibilitam, engendrando um espaço pelo qual uma outra escrita da história dos povos originários se torna possível. Considerando o cinema indígena como uma importante ferramenta para a preservação e transmissão das suas matrizes, iremos estabelecer nossas análises e reflexões com base na mitologia que envolve o ritual da bebida do cipó, narrada por Ibã Huni Kuin no texto intitulado “Mito do Surgimento do nixi pae” e os estudos etnográficos de Lagrou, em diálogo com as percepções de Gersem dos Santos Luciano Baniwa sobre o que representa o território para os indígenas e de Diego Madi Dias, sobre o lugar do audiovisual nas transformações das identidades indígenas. Ao garantir que as conexões ancestrais do cinema indígena respondam às perspectivas contemporâneas do povo Huni Kuin, entendemos que o filme revela os contornos políticos dos seus modos de existência e resistência que permeiam uma importante revisão histórica. Propomos assim, por meio de uma análise dos aspectos estéticos do filme Bimi Shu Ikaya. Bimi Poder De Sopro, bem como de questões culturais e his- tóricas que o filme apresenta, compreender como as ideias sobre cultura, identidade, território e imagem se articulam e se integram ao cinema do povo Huni Kuin, ao passo que visibilizam suas lutas históricas e políticas, visando à autonomia e a continuidade da prática cinematográfica na aldeia.
Bibliografia
- DIAS, D. M. Três paradigmas para pensar o vídeo entre os Kayapós. Cosmologias da imagem: cinemas de realização indígena / coordenação Daniel Ribeiro Duarte, Roberto Romero, Júnia Torres. 1. ed. Belo Horizonte, MG: Filmes de Quintal, 2021.
GIUFRIDA, G. Mirações: pessoas de verdade pintam. In MAHKU. Mirações. Orgs. Adriano Pedrosa e Guilherme Giufrida. São Paulo: MASP, 2023.
HUNI KUIN, I. Mito do Surgimento do nixi pae. In MAHKU. Mirações. Orgs. Adriano Pedrosa e Guilherme Giufrida. São Paulo: MASP, 2023.
LAGROU, Els. Uma Etnografia da Cultura Kaxinawá: Entre a Cobra e o Inca. Dissertação de Mestrado, PPGAS/Universidade Federal de Santa Catarina,1991.
LUCIANO, Gersem dos Santos. O índio brasileiro: o que você precisa saber sobre os povos indígenas no Brasil de hoje. Brasília: MEC/SECAD; LACED/Museu Nacional, 2006.
MONDARDO, Marcos. Geografias indígenas e territórios ancestrais. Revista Tocantinense de Geografia, [S. l.], v. 12, n. 26, p. 145–176, 2023. DOI: 10.20873/rtg. v12i26.