Trabalhos aprovados 2024

Ficha do Proponente

Proponente

    Leonardo Mont’Alverne Câmara (UFC)

Minicurrículo

    Pesquisador, realizador e formador
    audiovisual, é graduado em Comunicação
    Social – Publicidade e Propaganda pela
    Universidade Federal do Ceará e Mestre
    pela linha de Pragmáticas da Imagem do
    Programa de Pós-Graduação em
    Comunicação Social da Universidade
    Federal de Minas Gerais.
    Coordena o projeto Cinema no Brejo –
    Laboratório Rural de Formação e
    Experimentação Audiovisual. É membro do
    LEEA – Laboratório de Estudos e
    Experimentação em Artes e Audiovisual,
    vinculado ao PPGCom da UFC.

Ficha do Trabalho

Título

    Quando o invisível faz vibrar as imagens

Formato

    Presencial

Resumo

    Este trabalho trata sobre a experiência de realização de três Retratos
    Audiovisuais com mestres indígenas do Ceará desenvolvidos com alunos da disciplina de realização em documentário do Curso de Cinema da UFC. Sobre
    esse processo, tomamos duas questões relativas aos momentos em que o fazer
    documentário foi pautado pelo que chamamos, provisoriamente, de forças
    invisíveis que atuam diretamente na composição dos retratos audiovisuais e das
    práticas audiovisuais enquanto processos pedagógicos.

Resumo expandido

    Este trabalho trata sobre a experiência que tivemos com a realização de três Retratos
    Audiovisuais com mestres e mestras da cultura dos povos Pitaguary,
    Jenipapo-Kanindé e Kanindé de Aratuba, no Ceará. Esses trabalhos foram
    desenvolvidos com estudantes de uma disciplina de realização em documentário do
    Curso de Cinema e Audiovisual da Universidade Federal do Ceará, como parte do
    projeto “Políticas da terra – encontros da universidade com os saberes e fazeres
    afro-indígenas”, coordenado pela Universidade Federal de Minas Gerais, e que
    conta também com a participação da Universidade Federal do Sul da Bahia. Sobre
    esse processo, tomamos duas questões relativas aos momentos em que o fazer
    documentário foi pautado pelo que chamamos, provisoriamente, de (1) forças
    invisíveis que atuam diretamente na composição dos retratos audiovisuais e (2) das
    práticas audiovisuais enquanto processos pedagógicos.

    A rede constituída entre as universidades e os saberes tradicionais se mostrou, em
    nossa experiência, um exercício de escuta e diálogo que se fez presente muito fortemente no
    modo de lidar com as práticas de formação audiovisual. Acostumados aos modos do fazer
    audiovisual hierarquizados, onde alguém dirige, outros produzem, outros mais fotografam, e
    montam etc., enfrentamos os primeiros embates. As equipes deveriam ser compostas no
    processo de trabalho onde a criação metodológica deveria instituir um processo dialógico,
    baseada no exercício da escuta. Tal como se explicitou na proposição dos Retratos
    Audiovisuais, era preciso que todes nós estivéssemos conscientes de que as práticas
    audiovisuais deveriam ser aliadas aos processos contracolonizadores que envolve os modos
    de vida e as atuações políticas dos mestres e mestras na defesa de seus territórios.

    Efetivamente, o diálogo com as mestres e mestras indígenas exigiu a reconfiguração
    das práticas do ensino da área, que se assentam nas regras de mercado, da divisão do trabalho
    hierarquizado, colocando em xeque o papel de toda equipe, os seus saberes e as rotinas de
    trabalho. Tudo isso produz uma experiência de troca e de construção de conhecimentos e de
    metodologias matizados por saberes e enfrentamentos específicos. Era esse modelo que já se
    inscrevia desde a construção do projeto “Políticas da terra – encontros da universidade com
    os saberes e fazeres afro-indígenas”.

    O que vimos nesse processo de realização dos Retratos Audiovisuais nos permite
    afirmar que não apenas as universidades brasileiras precisam enfrentar o desafio da
    contracolonização, o modelo eurocêntrico e monoepistêmico que pautam as formas de
    produção de conhecimento experimentadas nos territórios acadêmicos. É preciso que as suas
    práticas, que as práticas de realização audiovisuais superem o modelo neoliberal da produção
    de saber.

    Neste artigo, tentamos descrever os embates éticos e estéticos que se deram em um
    processo de formação audiovisual cujo desejo se firmou na tentativa de engendrar o encontro
    e a afetação entre saberes acadêmicos produzidos na universidade e conhecimentos
    vinculados a territórios tradicionais guardados e transmitidos por mestres e mestras da
    cultura. Ao longo da disciplina, refletir junto aos alunos sobre como o fazer documental
    poderia se desviar de certos processos de realização em que o cinema opera como uma
    centralidade diante dos sujeitos filmados para ser experimentado enquanto uma tecnologia de
    escuta, de encontro e de criação compartilhada.

    Assim, nos deslocamos aos territórios dos mestres e mestras menos com o interesse de guiá-los em mise-en-scènes construídas anteriormente e mais com o desejo de sermos guiados pelos espaços, trilhas, sons, ritmos, histórias que eles gostariam de compartilhar conosco e com as imagens, abrindo-nos para a presença do acaso e do inefável e acolhendo-as como forças vivas constituintes do processo de criação.

Bibliografia

    ALVARENGA, Clarisse (org.). Aprender com imagens: práticas audiovisuais em escolas da Região
    Metropolitana de Belo Horizonte e da Terra Indígena Xakriabá. Belo Horizonte: LAPA (Coleção Cinema e Educação), 2022.

    BRASIL, André; GUIMARÃES, César; ASPAHAN, Pedro. Pedagogias do vento. In: Revista Mundaú, v. 1, n.
    9, p. 127-145, 2020.

    COMOLLI, Jean-Louis. Ver e poder. A inocência perdida. Cinema, televisão, ficção, documentário. Belo
    Horizonte: Editora UFMG, 2008.

    KOPENAWA, Davi; ALBERT, Bruce. A queda do céu: palavras de um xamã yanomami. Editora Companhia das letras, 2019.

    RUFINO, Luiz. Vence-demanda: educação e descolonização. 1. ed. Rio de Janeiro: Mórula, 2021.

    XAKRIABÁ, Célia. Amansar o giz. PISEAGRAMA, Belo Horizonte, n. 14, p. 110-117, jul. 2020.