Ficha do Proponente
Proponente
- Leonardo Mont’Alverne Câmara (UFC)
Minicurrículo
- Pesquisador, realizador e formador
audiovisual, é graduado em Comunicação
Social – Publicidade e Propaganda pela
Universidade Federal do Ceará e Mestre
pela linha de Pragmáticas da Imagem do
Programa de Pós-Graduação em
Comunicação Social da Universidade
Federal de Minas Gerais.
Coordena o projeto Cinema no Brejo –
Laboratório Rural de Formação e
Experimentação Audiovisual. É membro do
LEEA – Laboratório de Estudos e
Experimentação em Artes e Audiovisual,
vinculado ao PPGCom da UFC.
Ficha do Trabalho
Título
- Quando o invisível faz vibrar as imagens
Formato
- Presencial
Resumo
- Este trabalho trata sobre a experiência de realização de três Retratos
Audiovisuais com mestres indígenas do Ceará desenvolvidos com alunos da disciplina de realização em documentário do Curso de Cinema da UFC. Sobre
esse processo, tomamos duas questões relativas aos momentos em que o fazer
documentário foi pautado pelo que chamamos, provisoriamente, de forças
invisíveis que atuam diretamente na composição dos retratos audiovisuais e das
práticas audiovisuais enquanto processos pedagógicos.
Resumo expandido
- Este trabalho trata sobre a experiência que tivemos com a realização de três Retratos
Audiovisuais com mestres e mestras da cultura dos povos Pitaguary,
Jenipapo-Kanindé e Kanindé de Aratuba, no Ceará. Esses trabalhos foram
desenvolvidos com estudantes de uma disciplina de realização em documentário do
Curso de Cinema e Audiovisual da Universidade Federal do Ceará, como parte do
projeto “Políticas da terra – encontros da universidade com os saberes e fazeres
afro-indígenas”, coordenado pela Universidade Federal de Minas Gerais, e que
conta também com a participação da Universidade Federal do Sul da Bahia. Sobre
esse processo, tomamos duas questões relativas aos momentos em que o fazer
documentário foi pautado pelo que chamamos, provisoriamente, de (1) forças
invisíveis que atuam diretamente na composição dos retratos audiovisuais e (2) das
práticas audiovisuais enquanto processos pedagógicos.
A rede constituída entre as universidades e os saberes tradicionais se mostrou, em
nossa experiência, um exercício de escuta e diálogo que se fez presente muito fortemente no
modo de lidar com as práticas de formação audiovisual. Acostumados aos modos do fazer
audiovisual hierarquizados, onde alguém dirige, outros produzem, outros mais fotografam, e
montam etc., enfrentamos os primeiros embates. As equipes deveriam ser compostas no
processo de trabalho onde a criação metodológica deveria instituir um processo dialógico,
baseada no exercício da escuta. Tal como se explicitou na proposição dos Retratos
Audiovisuais, era preciso que todes nós estivéssemos conscientes de que as práticas
audiovisuais deveriam ser aliadas aos processos contracolonizadores que envolve os modos
de vida e as atuações políticas dos mestres e mestras na defesa de seus territórios.
Efetivamente, o diálogo com as mestres e mestras indígenas exigiu a reconfiguração
das práticas do ensino da área, que se assentam nas regras de mercado, da divisão do trabalho
hierarquizado, colocando em xeque o papel de toda equipe, os seus saberes e as rotinas de
trabalho. Tudo isso produz uma experiência de troca e de construção de conhecimentos e de
metodologias matizados por saberes e enfrentamentos específicos. Era esse modelo que já se
inscrevia desde a construção do projeto “Políticas da terra – encontros da universidade com
os saberes e fazeres afro-indígenas”.
O que vimos nesse processo de realização dos Retratos Audiovisuais nos permite
afirmar que não apenas as universidades brasileiras precisam enfrentar o desafio da
contracolonização, o modelo eurocêntrico e monoepistêmico que pautam as formas de
produção de conhecimento experimentadas nos territórios acadêmicos. É preciso que as suas
práticas, que as práticas de realização audiovisuais superem o modelo neoliberal da produção
de saber.
Neste artigo, tentamos descrever os embates éticos e estéticos que se deram em um
processo de formação audiovisual cujo desejo se firmou na tentativa de engendrar o encontro
e a afetação entre saberes acadêmicos produzidos na universidade e conhecimentos
vinculados a territórios tradicionais guardados e transmitidos por mestres e mestras da
cultura. Ao longo da disciplina, refletir junto aos alunos sobre como o fazer documental
poderia se desviar de certos processos de realização em que o cinema opera como uma
centralidade diante dos sujeitos filmados para ser experimentado enquanto uma tecnologia de
escuta, de encontro e de criação compartilhada.
Assim, nos deslocamos aos territórios dos mestres e mestras menos com o interesse de guiá-los em mise-en-scènes construídas anteriormente e mais com o desejo de sermos guiados pelos espaços, trilhas, sons, ritmos, histórias que eles gostariam de compartilhar conosco e com as imagens, abrindo-nos para a presença do acaso e do inefável e acolhendo-as como forças vivas constituintes do processo de criação.
Bibliografia
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