Trabalhos aprovados 2024

Ficha do Proponente

Proponente

    Noel dos Santos Carvalho (UNICAMP)

Minicurrículo

    Professor de cinema do Departamento de Multimeios, Mídia e Comunicação e do Programa de Pós-Graduação em Multimeios – UNICAMP. Concentra pesquisas no campo da sociologia do cinema com foco nas conexões entre cinema, política e cultura brasileira; cinema negro brasileiro; produção, inovação e mercado cinematográfico.

Ficha do Trabalho

Título

    Aí vem o cinema negro! – a trajetória de José Rodrigues Cajado Filho

Seminário

    Cinema no Brasil: a história, a escrita da história e as estratégias de sobrevivência

Formato

    Presencial

Resumo

    O cineasta José Rodrigues Cajado Filho iniciou a carreira de cenógrafo no teatro nos anos 1940. No mesmo período entrou para o cinema onde fez cenografia, assistência de direção, direção de arte, argumentos, roteiros e dirigiu cinco produções: Estou aí? (1949), …Todos por um! (1950), O falso detetive (1951), …E o espetáculo continua! (1958) e Aí vem alegria (1959). Nesta comunicação exploro a sua trajetória no teatro, cinema até a rápida passagem pela televisão.

Resumo expandido

    O objetivo da minha comunicação é apresentar a trajetória profissional do cineasta José Rodrigues Cajado Filho. Ele nasceu na cidade do Rio de Janeiro no dia 14 de maio de 1912. Antes de trabalhar no cinema foi desenhista industrial em uma companhia metalúrgica. Nos anos 1940, convidado pela atriz Dulcina de Moraes, ingressou na Companhia Teatral Dulcina-Odilon na qual fez cenografia. Pouco tempo depois foi levado pelo amigo Murilo Lopez – também cenógrafo e decorador – para trabalhar na recém criada Atlântida Cinematográfica. Nas décadas de 40, 50 e 60 o seu nome aparece ladeado dos principais realizadores de chanchadas como José Carlos Burle, Watson Macedo, Alinor Azevedo, Moacyr Fenelon, Carlos Manga, Eurides Ramos, J.B Tanko e Victor Lima.
    Com Fenelon, Macedo e Manga desenvolveu trabalhos em coautoria. Trabalhou com o primeiro quando ele saiu da Atlântida e fundou a Cine-Produções Fenelon. Nessa fase fez direção de arte, escreveu roteiros e dirigiu as produções Estou aí? (1949), …Todos por um! (1950) e O falso detetive (1951). Este último foi produzido pela Flama – Produtora Cinematográfica.
    Com a morte prematura de Fenelon em 1953, com apenas 49 anos, Cajado voltou à trabalhar na Atlântida. Antes, escreveu argumentos, roteiros e fez cenografia para Watson Macedo na sua produtora independente – a Watson Macedo Produções.
    Em 1958 dirigiu o filme …E o espetáculo continua! e no ano seguinte Aí vem alegria, sua quinta e última direção.
    Na nova fase Atlântida desenvolveu extensa colaboração e amizade com o diretor Carlos Manga. Quando este principiou na direção com A dupla do barulho (1953), Cajado – dezesseis anos mais velho – já era um artista experiente que dominava o estilo e as gambiarras da produção de chanchadas. Manga aproveitou a experiência do colega e a parceria resultou em vinte produções. Em dezesseis delas Cajado foi o autor do argumento e do roteiro, portanto, coautor das obras. O homem do Sputnik (1959) foi, seguramente, o exemplo mais bem sucedido dessa parceria.
    No final da década de 1950 o modelo de negócios da chanchada estava em crise. A modernização capitalista pela qual o país passara alterou as disposições do público para as inocentes comédias. Elas migraram das salas de projeção para a televisão – onde estão até hoje. Embora alguns pequenos produtores tentassem reanimar o gênero, as bilheterias não responderam como no período anterior. A Atlântida fechou as portas em 1962. Nesse contexto Cajado fez cenografia para Herbert Richards, Victor Lima, Eurídes Ramos, J. B Tanko entre outros.
    Nos 1960 a televisão foi a mídia em ascensão. Em 1963 Cajado foi contratado para trabalhar na TV Excelsior. O convite partiu de Carlos Manga, naquele momento diretor geral de programação da emissora carioca. Em 1964 fez os cenários para o programa infantil Gladys e Seus Bichinhos, primeiro da televisão voltado para o público infantil, apresentado por Gladys Mesquita Ribeiro. No mesmo ano fez as alegorias para o desfile da escola de samba Império Serrano e decoração para bailes de carnaval (atividade que realizou esporadicamente desde os anos 1940). Em 1965 escreveu roteiros para a série 002 Contra o Crime, programa de aventuras dirigido por Daniel Filho. No mesmo ano integrou a equipe montada pelo empresário de rádio e televisão Abraham Medina para trabalhar na preparação das atrações de comemoração do IV Centenário da cidade do Rio de Janeiro. O grupo foi formado por profissionais experientes ligados à TV Excelsior.
    A trajetória de Cajado Filho foi interrompida com a sua morte prematura em uma sexta-feira no dia 29 de abril de 1966. No dia 05 de maio de 1966 foi celebrada missa em sua homenagem no altar mor da igreja de São Francisco na cidade em que nasceu e trabalhou. Ele tinha 53 anos.

Bibliografia

    AUGUSTO, Sérgio. Este mundo é um pandeiro. São Paulo, Companhia das Letras, 2001.
    MELO, Luis Alberto Rocha. Argumento e roteiro: o escritor de cinema Alinor Azevedo. 2006. 351f. Dissertação (Mestrado em Comunicação) – Programa de Pós-Graduação em Comunicação, Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2006.
    MELO, Luis Alberto Rocha. “Cinema independente”: Produção, distribuição e exibição no Rio de Janeiro (1948-1954). 2011. 425f. Tese (Doutorado em Comunicação). Instituto de Arte e Comunicação Social, Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2011.
    LIMA, Andre Luiz Machado de. A chanchada brasileira e a mídia: o diálogo com o rádio, a imprensa, a televisão e o cinema nos anos 50. 2007. 217f. Dissertação (Mestrado em Ciência da Comunicação). Escola de Comunicação e Artes, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2007.
    VIEIRA, João L. “A chanchada e o cinema carioca (1930-1950)”. In RAMOS, Fernão; SCHVARZMAN, Sheila. Nova história do cinema brasileiro. Vol. 1. São Paulo, SESC, 2018.