Trabalhos aprovados 2024

Ficha do Proponente

Proponente

    João Luiz Vieira (UFF)

Minicurrículo

    Professor Titular do Departamento de Cinema e Vídeo e do PPGCine da UFF. Doutor em Cinema Studies pela New York University (1984) com pós-doutorado em Film and Television Studies na Universidade de Warwick (1997-98). Em 1996 foi Fulbright Visiting Scholar no Departamento de Artes e Mídia da Universidade do Novo México e em 2002 no Departamento de Cinema e Literatura Comparada da Universidade de Iowa. Conferencista, curador e autor de vários textos, ensaios, livros e capítulos de livros.

Ficha do Trabalho

Título

    A História encontra as histórias de cinemas

Mesa

    New Cinema History e histórias de cinemas: interfaces Cinema/ História

Formato

    Presencial

Resumo

    A partir de vivência e trajetória pessoal, a comunicação traça um panorama concentrado da institucionalização do campo dos Estudos Cinematográficos no universo acadêmico em sua abertura para a inclusão do complexo processo cultural mais amplo do qual o cinema sempre fez parte, para muito além dos textos fílmicos. Em diálogo com a New Cinema History, destaca trabalhos pioneiros no Brasil em torno da exibição e das histórias de cinemas, indicando a confluência e superposição entre essas duas áreas

Resumo expandido

    O período no qual desenvolvi meu doutorado em Cinema Studies (Estudos Cinematográficos) na New York University (1977-1984) marcou a institucionalização acadêmica desse campo nos EUA e na Europa. Nesse início, um texto fundamental ampliou meu interesse latente pelo cinema visto como processo cultural ao se abrir para a inclusão de outras áreas como produção, distribuição, exibição e práticas sociais, dando ênfase maior ao contexto ao invés de manter o foco principal apenas nos filmes, gêneros, autores, períodos, movimentos, História. Trata-se de “Film History, Theory and Practice” (1985), de Robert Allen e Douglas Gomery. Quando publicado, eu já havia concluído em 1983 uma pesquisa pioneira sobre a exibição no Rio de Janeiro, intitulada “Espaços de sonho”, projeto de pesquisa premiado em 1981 no concurso Cinetema, da Embrafilme em co-autoria com Margareth Campos Pereira, professora do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura da UFRJ. Sete anos depois, outro livro de Gomery, “Shared Pleasures: A History of Movie Presentation in the United States”, (1992), consolidou esses interesses em décadas recentes a partir de conceitos como o de espectatorialidades sócio-históricas (Vieira, 2023). Por este viés, nosso investimento teórico vem caminhando com as histórias de cinemas, abrindo um amplo campo de investigação ao incluir a partir de uma sala de cinema geolocalizada, a variedade de fontes materiais e imateriais de pesquisa que afetam as práticas de recepção e a interpelação espectatorial (anúncios de imprensa, cartazes, folhetos, as diferentes formas de publicidade de um passado impresso, o presente virtual da internet com suas novas formas de comunicação nas redes sociais, dados de bilheteria, diferentes formatações e suportes de crítica, entre outros). E as formas de espectatorialidade observadas a partir de situações contemporâneas tanto na pré-pandemia quanto nestes últimos anos afetados pelo covid como “binge watching” (Caetlin Benson-Allot, 2022). Mais recentemente, e por caminhos variados, diferentes histórias de cinemas e regimes de espectatorialidade estão presentes em pesquisas de uma nova geração de origem universitária onde se destacam Rafael de Luna Freire, Talitha Ferraz, Luciana Araújo, Kate Saraiva, Wilson Oliveira, André Dib, Márcia Bessa, Alessandra Brum, Renata Pozzo, entre muitos e muitas, incluindo o grupo de pesquisadoras e pesquisadores dos encontros da SOCINE entre 2017 e 2022 no Seminário Temático “Exibição cinematográfica, espectatorialidades e artes da projeção no Brasil”. Dois livros recém publicados projetam impacto no campo:”O negócio do filme”, de Rafael de Luna Freire (2022), abrangente pesquisa cobrindo o período que vai de 1907 a 1915 e os primórdios do binômio distribuição-exibição no Rio de Janeiro a partir da hegemonia econômica globalizada da Pathé Frères; e a coletânea organizada pela historiadora argentina Clara Krieger e o pesquisador estadunidense Nicolás Poppe, “Salas, negócios y públicos de cine en Latinoamérica” (2023), abrangente grupo de pesquisas que, pela primeira vez, apresenta a diversidade de abordagens teórico-metodológicas em torno das histórias de cinemas no continente. E vale destacar aqui também o Grupo de Pesquisa Modos de Ver (CNPq), liderado pela profa. Talitha Ferraz, além do crescente interesse em uma concentração de projetos de mestrado e doutorado dentro da linha de pesquisa Histórias e Políticas do Cinema e do Audiovisual, no PPGCine da Universidade Federal Fluminense. Mas pelo país todo, encontramos hoje uma bibliografia bastante substancial, com muitas publicações e estudos inéditos em torno das salas de cinema que precisam ser recuperados. Definitivamente é uma área, ou sub-área dos Estudos Cinematográficos em expansão pelo país, certamente devido aos desafios enfrentados pela exibição cinematográfica em salas de cinema, dos quais, a pandemia e a concorrência do streaming são apenas dois sintomas dos mais alarmantes.

Bibliografia

    Ferraz, Talitha. A segunda Cinelândia carioca, cinemas, sociabilidade e memória na Tijuca. Rio de Janeiro: Multifoco, 2009.

    Freire, Rafael de Luna. O negócio do filme, a distribuição cinematográfica no Brasil, 1907-1915. Rio de Janeiro: Museu de Arte Moderna, 2022.

    Kriger, Clara & Nicolás Poppe (orgs). Salas, negócios y públicos de cine en Latinoamérica. Buenos Aires: Prometeo Libros, 2023.

    Mantecón, Ana Rosas. Ir al cine: antropologia de los públicos, la ciudad y las pantallas. Ciudad de Mexico: UAM, 2017.

    Vieira, João Luiz. Prefácio. In: Brum, Alessandra & Ryan Brandão (orgs). Histórias de cinemas de rua de Minas Gerais. Juiz de Fora: Editora UFJF, 2021