Ficha do Proponente
Proponente
- Sebastião Guilherme Albano (UFRN)
Minicurrículo
- Professor da graduação e pós-graduação no Departamento de Comunicação da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Seu último livro foi publicado pela Appris editora (Curitiba:2022) com o título de O cinema da América Latina como world cinema.
Ficha do Trabalho
Título
- Radicais do realismo democrático em documentários brasileiros
Mesa
- Desaprender sobredeterminações: anarquivar documentos e invenções
Formato
- Presencial
Resumo
- O estudo que ora se apresenta parte da premissa que de que a ideia de democracia sobredetermina idealmente o espaço representativo contemporâneo por intermédio de um entendimento amplo da noção de realismo. Analisamos quatro documentários brasileiros em que as variantes desse regime de governo se apresentam e se reproduzem: Cabra marcado para morrer, Bicicletas de Nhanderú, Ressurgentes e O processo.
Resumo expandido
- Este é um estudo em andamento das subjacências representativas da democracia em quatro documentários brasileiros de fatura diversa com radicais morfológicos irmanados, Cabra marcado para morrer (Eduardo Coutinho, 1964-1984), Bicicletas de Nhanderú (Ariel Ortega e Patrícia Ferreira, 2008), Ressurgentes (Dácia Ibiapina, 2014) e O processo (Maria Augusta Ramos, 2018). Entreleio a organização audiovisual do governo da democracia no país a partir da consolidação (prática) de uma idealidade desse regime como afluente de seu radical filológico e filosófico, canalizador de enunciados em continuidade, descontinuidade, suspensos ou com alguma cognação com a liberdade humana, os liberalismos (não confundir com liberdade advinda da soberania individual. NIETZSCHE, 1987) conforme um entendimento de época (1964-2024), aqui nem soma nem síntese apenas uma simultaneidade comunitária de manifestações sob determinadas condições teóricas e materiais auspiciadas pela crítica em sinonímia com o consenso acerca do radicalismo racional (CUNHA & CINTRA, 1985; EAGLETON, 1984). Reitero que os filmes são de gerações contemporâneas e tematizam conjunturas paradoxais da democracia liberal da pequena política local ou nacional (executiva e legislativa) com enfoques díspares. Improntaremos o dado de o realismo repuxar um substrato de expressividade privilegiado para apreender as paixões e os raciocínios heréticos enquanto imanentes da ação democrática e seu exercício retórico e poético nas obras, comutando o senso comum acerca da história política e das formas artísticas por ideias dissidentes em teoria enleadas a elas por perorações de autores congêneres das estruturas, das sincronicidades e dos sintagmas, tais como Antonio Candido, Philipe Hamon e George Didi-Huberman, entretanto díspares na tradição interpretativa e incônscios articuladores de um prisma exigido por nosso programa e seus plasmas sensoriais e propositivos aos quais arrogamos legibilidade ao liberal modo realista da publicidade da democracia (HAMON, 1984).
O termo radicais do título sobreveio antes da observação das peças e de seu emprego e corresponde ao morfema lexical e fixo que compõe a mínima unidade de referencialidade ou de gênese da escrita alfabética em uma palavra, não obstante o mobilizamos como prolongamento das convenções em sua temperatura crítica com a promessa de metamorfose nos filmes intimados, não revolucionária de todo (especialmente no que tange aos parâmetros do realismo representativo e sua linhagem nas grafias sociais) mas sempre de oposição progressista. Essa redobra de radical da democracia em crítica radical (de tópica e lei ao pacto, à transformação e à jurisprudência) à qual nos devotamos, supõe instâncias de estímulos de crise representativa vasta que os filmes documentam e vivenciam, e cuja raiz mínima ou genealógica ampara-se para além e para aquém da eminência da praxis do materialismo. Tomo o marco da democracia contemporânea, elusiva a uma definição cerrada por ser o mais universal dos valores políticos de hoje (arbitrário e motivado) paradigmático de legitimação das associações, operativo por seu caráter aberto às intermitências de suas constâncias manifestas (soberania popular, representação eleitoral da maioria demográfica, liderança partidária, grupos hegemônicos com opiniões publicitadas com visos de organicidade retórica, contratos que contemplam desaprovação refletida até a razão de Estado, entre outros. BOBBIO, 2001). Assentam-se sobremaneira no compromisso de auto-determinação e liberdade individual sob, sobre e dentro dos protocolos coletivos do Estado de direito. Referi-me adrede antes a Antonio Candido, Philipe Hamon e Georges Didi-Huberman por radicalizarem (verbalizarem os radicais sociais substitutos da crítica da democracia) suas explanações estéticas e sociológicas dentro da fábrica liberal porém não coordenando e tampouco se subordinando a citações cristalizadas por outros cadinhos dos saberes humanos de seu interesse.
Bibliografia
- BOBBIO, Norberto. Estado, governo, sociedade. Para uma teoria geral da política. 9 ed. São Paulo: Paz e Terra, 2001.
CANDIDO, Antonio. A educação pela noite e outros ensaios. São Paulo: Ática, 1989.
COMOLLI, Jean-Louis. Ver e poder. A inocência perdida: cinema, televisão, ficção, documentário. Trad. Agustin de Tugny et al. Belo Horizonte: Universidade Federal do Rio Grande do Norte, 2008.
DIDI-HUBERMAN, Georges. Diante do tempo. História da arte e anacronismo das imagens. Trad. Vera Casa Nova; Márcia Arbex. Belo Horizonte: Humanitas, 2015.
MORETTI, Franco. The Bourgeois. Between History and Literature. Londres: Verso, 2023.
NIETZSCHE, Friedrich. Genealogia da moral. Um escrito polêmico. Trad. De Paulo Cesar Souza. São Paulo: Brasiliense, 1987.
SARTRE, Jean Paul. A imaginação. 5 ed. Trad. Luiz Roberto Salinas Fortes. São Paulo: Difel, 1980.
UNAMUNO, Miguel. Del sentimiento trágico de la vida. En los hombres y en los pueblos. Madri: Alianza Editorial, 1986.