Ficha do Proponente
Proponente
- Lisandro Nogueira (ufg)
Minicurrículo
- Lisandro Nogueira é prof. de cinema na Universidade Federal de Goiás, desde 1989. Ex-diretor da Cinemateca Brasileira (2013/2014). Pós-doutorado pela USP. Doutor em cinema pela PUC-SP. Mestre em Cinema pela USP. Autor do livro “O autor na TV” (edusp-UFG), Foi do comitê cientifico da Socine (2020-2022). Parecerista da Socine em diversos eventos.
Ficha do Trabalho
Título
- A atualidade do Melodrama e a Imaginação Melodramática
Formato
- Presencial
Resumo
- Está consolidado nos estudos do Melodrama (lembrando que ele não é um gênero e sim uma forma narrativa presente em vários gêneros) a ideia de que o maniqueísmo do Bem contra o Mal está superado. O conceito de Imaginação Melodramática (P. Brooks) faz uma reviravolta ao mostrar que existe uma “moral oculta”: os “modos de excesso” que consolidam nas narrativas uma moralidade universal repleta de encenações de emoções complexas. É uma nova interpretação do mundo através das ficções.
Resumo expandido
- O melodrama, forma narrativa presente em vários gêneros do cinema, nasceu na literatura, ganhou o teatro e, no inicio do século 20, firmou-se como a base do cinema narrativo clássico. A complexidade do mundo
moderno, ao contrário do que se imaginava, reforçou os pilares do melodrama que se tornou uma nova forma de interpretação, conservadora, das intensas mudanças sociais e politicas ocorridas ao longo do
século 20.
O melodrama é uma forma narrativa presente em quase todos os gêneros cinematográficos: desempenha um papel crucial na história e na evolução do cinema. Originário do teatro do século XVIII, o melodrama no cinema caracteriza-se pela exploração intensa das emoções, conflitos dramáticos exagerados e, muitas vezes, uma clara distinção entre heróis e vilões. O melodrama tem sido fundamental na construção de narrativas que falam diretamente ao coração do público, criando uma conexão emocional profunda e oferecendo uma escapada da realidade cotidiana.
O melodrama tem sido fundamental no desenvolvimento de personagens ricos e multifacetados. Ao colocar os personagens em situações extremas, o “gênero” revela suas camadas mais profundas, suas vulnerabilidades e suas forças. Esse processo não apenas enriquece a narrativa, mas também permite uma exploração mais nuançada dos temas abordados. Além disso, as estruturas narrativas melodramáticas, com seus picos de tensão e resoluções emocionantes, servem como um veículo poderoso para contar histórias envolventes e memoráveis.
Mas não podemos mais falar de Melodrama sem lembrar do conceito de “Imaginação Melodramática”. O conceito de “imaginação melodramática” é uma ferramenta analítica e interpretativa que transcende a simples categorização do melodrama como um gênero literário, teatral ou cinematográfico. Em sua obra, “The Melodramatic Imagination” (1976), Brooks argumenta que a imaginação melodramática é uma maneira de perceber e estruturar a realidade, caracterizada por uma sensibilidade aguda para o conflito moral, a expressão emocional intensificada e a busca por significados claros em um mundo desencantado.
O Melodrama é um conceito próprio das narrativas do teatro, do cinema e da TV (teve início no século 18). O Melodrama ficou conhecido como a experiencia dramática do “bem contra o mal” ou das historias de lagrimas que cercam o encontro amoroso. A imaginação melodramática, por outro lado, é um modo de percepção e interpretação que se aplica a uma ampla gama de experiências humanas e formas de expressão cultural, não se limitando a uma categoria artística. E esse é ponto central da minha reflexão.
Um filme ou uma série de TV podem ter personagens que não se contrapõem (o bem contra o mal). Podem existir personagens em que o mal luta contra o mal (a série Breaking Bad). Ou personagens “bons” que lutam entre si (Os Miseráveis de 2012). Desta forma, a Imaginação Melodramática traz uma nova forma de abordagem para o que denominamos de Melodrama há algum tempo. Essa nova forma de abordagem impõe desafios aos pesquisadores que podem analisar filmes e series com uma amplitude e complexidade sem as amarras do “gênero melodrama” que sempre nos obrigava a ver o mundo bipolar (o bem e o mal).
A Imaginação Melodramática nos ajuda a ver e compreender uma nova subjetiva contemporânea complexa, presentes em filmes que estão no escopo do Melodrama, mas que ultrapassam seus limites históricos para ironizar e colocar de “cabeça para baixo” o próprio cânone que surgiu no século 18. (Fassbinder e Pedro Almodóvar).
Bibliografia
- ALVES, Fernando Figueiredo. Melodrama no cinema norte-americano. Portugal-Beira, 2020.
BALTAR, Mariana. Realidade lacrimosa – o melodramático no documentário brasileiro contemporâneo.
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BROOKS, Peter. The Melodramatic Imagination. EUA, Yale University Press, 1995.
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NOGUEIRA, Lisandro. Lúcio Flávio, o passageiro da agonia. Comunicação & Informação. Goiânia: V. 7,
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NOGUEIRA, Lisandro. COSTA, A. F. O espiritismo e as imaginações: a operacionalização da
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SINGER, Ben.
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