Ficha do Proponente
Proponente
- Christian Jordino Antonio Ferreira Alves da Silva (FCA/UFMT)
Minicurrículo
- Mestre em Cinema e Audiovisual, pelo PPGCine/UFF, com a dissertação “Cine Globo de Três Passos: uma história de resistência”, Christian trabalha com audiovisual desde 1994, atuando como diretor e roteirista. O interesse pela temática do cinema de rua se acentua com a produção do documentário “Cine Paissandu: histórias de uma geração”, lançado em 2014. Atualmente, é professor no curso de Cinema e Audiovisual, da FCA/UFMT, e prepara o lançamento do longa-metragem “Cine Globo: uma vida de cinema”.
Ficha do Trabalho
Título
- Cine Globo: a construção de uma rede exibidora no interior do Brasil
Formato
- Presencial
Resumo
- Este trabalho pretende refletir sobre o processo de formação da rede Cine Globo Cinemas, uma companhia exibidora, de administração familiar, com salas dispostas em cinco cidades do interior do Rio Grande do Sul, e como as transformações tecnológicas ocorridas no parque exibidor brasileiro, particularmente a adoção do sistema Digital, como formato de exibição, na década de 2010, contribuíram para a posterior expansão da rede, além de observar as relações da gestão com o poder público.
Resumo expandido
- Uma rede exibidora formada por cinco salas de cinema, distribuídas por cinco cidades no interior do Rio Grande do Sul e com um raio de ação com 160 quilômetros. Três gerações de uma família dedicadas à administração do ramo de exibição cinematográfica. Uma história que começa na década de 1940, em Três Passos, munícipio distante 472 quilômetros da capital Porto Alegre, e que hoje, passados quase setenta anos da fundação do Cine Teatro Globo, segue tendo a família Levy como protagonista (ALVES DA SILVA, 2022).
Administrar uma casa de exibição cinematográfica no interior do Brasil representa um desafio para empresários locais como a família Levy. Dados de 2021, do Informe de Mercado do Segmento de Salas de Exibição, publicado pela Ancine (Agência Nacional do Cinema) revelam que apenas 152 municípios brasileiros, na faixa de análise de 20.001 a 100 mil habitantes, de um total de 1.474 possuem ao menos um cinema, ou 10,3%. O recorte na faixa de análise de até 20 mil habitantes, realidade populacional mais próxima a de Três Passos, compreende 3.770 municípios e somente quatro deles possuem ao menos uma sala de exibição, ou seja, 0,1% do total.
Indo na contramão dos números, a gestão consegue manter o cinema-sede em funcionamento desde 1955, além de expandir a marca Cine Globo com as filiais de Palmeira das Missões, em 2014; de Santa Rosa, em 2015; de Frederico Westphalen, em 2019; e para Cruz Alta, com inauguração feita na retomada das atividades pós-pandemia, em 2021. A rede já deveria estar operando com seis cinemas, mas as obras de construção da unidade em Ijuí foram paralisadas devido à pandemia Covid-19, sendo retomadas lentamente em virtude da crise financeira gerada com o fechamento das salas no Brasil, entre março de 2020 e abril de 2021, e que impactou os investimentos da empresa.
A gestão lida com uma rede heterogênea, tanto entre as cidades escolhidas para receberem uma filial, quanto na própria formatação das salas. Em Palmeira das Missões e em Santa Rosa, os cinemas estão instalados em edifícios pertencentes ao poder público municipal através de licitações vencidas pelos Levy. Os lucros e eventuais custos são compartilhados entre a municipalidade e a rede Cine Globo conforme contratos firmados e pré-estabelecidos nos editais. A sala em Frederico Westphalen segue a linha de cinema de rua, mas está instalada em edifício alugado e adaptado para receber a projeção cinematográfica. A recente filial aberta em Cruz Alta também opera em espaço alugado, sendo a primeira da rede a funcionar num centro comercial, o Shopping Érico Veríssimo.
No início da década de 2010, o mercado exibidor nacional enfrentava um dilema com o anunciado fim da comercialização dos filmes em película, capitaneado pelas grandes empresas norte-americanas que apostavam na digitalização da produção, distribuição e exibição da indústria cinematográfica mundial (FREIRE; TORRES, 2011). Em 2014, quando os Levy realizaram o pedido de importação de três projetores DLP-Barco DP2K-19B, que seriam instalados nos cinemas geridos pela família, a Ancine calculava que apenas 57% das salas no Brasil estavam operando com o sistema Digital e demostrava preocupação com o atraso do país em relação ao resto do mundo.
Atual administrador, Levy Filho viu a transição do 35 mm para o Digital e não acredita que o negócio da família teria sobrevivido mais um ano com a exibição em película. Para ele, a expansão da rede está diretamente ligada a digitalização das salas e a atração de público com a exibição em 3D, nas cidades do interior. O uso da internet como facilitador de gestão, através de ferramentas como aplicativos para compra de ingressos, e a possiblidade de realizar download tanto dos filmes quanto dos materiais promocionais, tornou a administração mais eficiente, aumentando a capacidade de resposta nos períodos de crise. A “Revolução Digital” que seria responsável pelo fim do cinema surge como aliada e força motriz para a expansão da rede (GAUDREAULT; MARION, 2016).
Bibliografia
- ALVES DA SILVA, Christian J. A. Ferreira. Cine Globo de Três Passos: uma história de resistência. Dissertação – Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2022.
BAHIA, L. Discursos, políticas e ações: processos de industrialização do campo cinematográfico brasileiro. São Paulo: Itaú Cultural, 2012.
ELSAESSER, Thomas. Cinema como arqueologia das mídias. São Paulo: Sesc, 2018.
FERRAZ, Talitha. Os lugares dos cinemas no subúrbio carioca da Leopoldina: falências, usos e destinos da sala de exibição. Contemporanea (UFBA. Online), 2015.
FREIRE, Rafael de Luna; TORRES, Rodrigo Rodrigues. A conversão para a projeção cinematográfica digital: Estudo de caso de três cinemas do Rio de Janeiro. Cambiassú (UFMA), 2011.
GAUDREAULT, André e MARION, Philippe. O fim do cinema: uma mídia em crise na era digital. Campinas; Papirus, 2016.
VIEIRA, João Luiz e PEREIRA, Margareth Campos da Silva. Espaços do sonho: arquitetura dos cinemas no Rio de Janeiro 1920-1950. Rio de Janeiro: Embrafilme, 1983.