Trabalhos aprovados 2024

Ficha do Proponente

Proponente

    DANIELA ZANETTI (UFES)

Minicurrículo

    Daniela Zanetti é doutora em Comunicação e Cultura Contemporânea pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), e atualmente é professora associada do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Territorialidades e do Departamento de Comunicação Social da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). Coordena o grupo de pesquisas Cultura Audiovisual e Tecnologia (CAT/UFES).

Ficha do Trabalho

Título

    Questões socioambientais em uma obra de realidade virtual

Formato

    Presencial

Resumo

    O trabalho é um relato de pesquisa-criação que resultou na produção de uma obra audiovisual em realidade virtual. “Territórios do presente” objetiva dar visibilidade a questões socioambientais ao problematizar a relação dos participantes com os territórios representados, considerando os conceitos de “transporte” e “presença”. Nessa perspectiva, o trabalho também contribui para uma reflexão sobre documentários interativos.

Resumo expandido

    O trabalho apresenta o processo de uma pesquisa-criação que se dedicou a desenvolver produtos de comunicação interativos e imersivos com o objetivo de ampliar a visibilidade de conflitos socioambientais existentes em um determinado território. Um dos produtos criados foi uma obra audiovisual em realidade virtual que problematiza a relação dos interatores com os territórios físicos representados, considerando os conceitos de “transporte” (DE MUSSO, 2021) e “presença” (STUDT SJ (2021). A pesquisa partiu de um estudo anterior que analisou obras audiovisuais interativas que tratassem de temas relacionados ao meio ambiente, investigação que forneceu subsídios para o desenvolvimento da obra imersiva proposta.
    A pesquisa-criação propõe a articulação das metodologias da pesquisa acadêmica com processos criativos e práticas artísticas e midiáticas. Para Chapman e Sawchuk (2012), a pesquisa-criação propõe formas alternativas de representação e de articulação do conhecimento científico, configurando-se de diferentes modos: i) pesquisa para criação (research-for-creation); ii) pesquisa desde a criação (research-from-create); iii) apresentações criativas de pesquisa (creative presentations of research); e iv) criação como pesquisa (creation-as-research).
    Uma obra audiovisual em realidade virtual possibilita ao participante se mover em espaços construídos predeterminados ou interagir com versões digitalizadas de objetos e espaços (DE MUSSO, 2021). A pesquisa-criação relatada traz contribuições teóricas para se refletir sobre a dimensão documental na realidade virtual a partir da categoria de documentários interativos ou imersivos que, segundo Domènech (2022), permitem a criação de um espaço “teatralizado”, assumindo uma forma alegórica da realidade atual.
    A obra em realidade virtual – intitulada Territórios do Presente: conflitos, mediações, interações – foi desenvolvida a partir de imagens captadas com uma câmera de 360° e construída na plataforma WondaVR. Ao acessar o link disponibilizado na plataforma do projeto, um hub inicial oferece ao interator a possibilidade de escolher quais localidades quer “visitar” a partir de um painel com várias imagens, que representam 12 pontos da região metropolitana retratada. Uma 13ª imagem cria um ambiente “artificial” que permite ao interator ter a sensação de estar coberto de embalagens plásticas, em referência ao excesso de resíduos sólidos que se acumulam no meio ambiente. Durante a experiência, os lugares não são identificados de antemão, e o participante é encorajado a adivinhar qual é o território em destaque, selecionando uma dentre três opções que aparecem num quadro. Em seguida, em algum lugar da imagem é disponibilizado um texto informativo sobre alguma questão local. Para o visitante, ora os lugares parecem familiares, ora são completamente desconhecidos, colocando em questão a relação dos indivíduos com o território onde vivem e os aspectos socioambientais ali existentes. A realidade virtual favorece uma experiência imersiva, exigindo maior atenção do participante e também algum tipo de agência, ou seja, alguma ação, como movimentos corporais para melhor visualização do espaço representado e a escolha de opções de acesso em tela, como no caso do Territórios do Presente. A narrativa se organiza por meio da disposição dos quadros em tela que deslocam o participante de um território a outro, sem uma ordem pré-estabelecida, ou seja, o interator decide qual lugar quer visitar e por quanto tempo permanece em cada um. Tal processo de narrativa também é um “processo de design sensorial para criar, balancear e gerar histórias (enredo) e emoções em uma atmosfera virtual” (SALLES; RUGGIERO, 2019, p. 90).

Bibliografia

    CHAPMAN, O.; SAWCHUK, K. Research-Creation: Intervention, Analysis and “Family Resemblances”. Canadian Journal of Communication, Vol 37 (2012), 5-26.

    DE MUSSO, F. Interactive documentaries. In GRASSENI, C. et al (Eds.). Audiovisual and Digital Ethnography: A Practical and Theoretical Guide (pp. 143-167). London: Routledge, 2021. DOI:10.4324/9781003132417-7
    DOMÈNECH, J. M. C. Alegorías de lo real. La teatralización de la realidad documental. In: ROSELLÓ, R. A.; FELICI, J. M.; ROMERO, T. S. (Eds.) Más allá del documento. Derivas y ampliaciones del cine de lo real contemporáneo. Valencia: Tirant Humanidades, 2022.
    SALLES, J.; RUGGIERO, M. L. Narrativas imersivas: imaginando múltiplas realidades. In: PAZ, André; GAUDENZI, Sandra. (Orgs) Bug: narrativas interativas e imersivas. 1. ed. – Rio de Janeiro: Automatica, 2019.

    STUDT SJ, E. Virtual reality documentaries and the illusion of presence. Studies in Documentary Film. Volume 15, Issue 2, 175-185, 2021. DOI: 10.1080/17503280.2021.1923