Ficha do Proponente
Proponente
- Thiago Nogueira Carvalho (PPGMC/UFRJ)
Minicurrículo
- Mestre pelo PPGMC da ECO/UFRJ (2022). Graduado em Cinema pela UFF (2004) com especialização pelo IE/UFRJ (2009). Especialista em Regulação da Ancine, desde 2006. Atuação na área de Cinema e Comunicação, com ênfase em políticas públicas de fomento e regulação do setor. Sócio da produtora Asterysko Filmes (2000-2003). Experiência como produtor, diretor e editor de curtas e vídeos. Experiência como professor em curso de graduação (substituto), e de especialização.
Ficha do Trabalho
Título
- Cinefilia celebratória na revitalização dos cinemas no pós-pandemia
Seminário
- Festivais e mostras de cinema e audiovisual
Formato
- Presencial
Resumo
- A partir da análise das taxas de ocupação dos cinemas do Rio de Janeiro no pós-pandemia, e com base no exame da programação e entrevista com o responsável pela nova estratégia de atuação do Grupo Estação, o trabalho objetiva investigar a adoção de práticas cinéfilas celebratórias presentes em mostras, festivais, e em experiências cineclubistas da região nos anos 2000, como sinergia para a revitalização das salas na atualidade, tendo como perspectiva teórica o campo da sociologia da cultura.
Resumo expandido
- Recentemente, a pandemia global interrompeu drasticamente a experiência coletiva de assistir filmes nos cinemas, levando ao aumento do consumo de conteúdo em casa através de plataformas digitais e gerando incertezas sobre o futuro das exibições cinematográficas tradicionais. No entanto, as salas de cinema estão se adaptando e buscando atrair o público de volta, explorando novos modelos e formatos.
O presente trabalho objetiva investigar as possibilidades de contribuição de mostras, festivais de cinema, e do resgate de práticas cineclubistas celebratórias presentes na região nos anos 2000, para o desafio atual de revitalização das salas de cinema no Rio de Janeiro.
Incialmente, será apresentada uma análise quantitativa das taxas de ocupação das salas de cinema da cidade no pós-pandemia, abrangendo o período de reabertura ao público em outubro de 2021 a fevereiro de 2024. O objetivo é fornecer um panorama da recuperação do setor na cidade.
A pesquisa inclui também a observação do Grupo Estação de Cinema, focando nas salas do bairro de Botafogo. O exame de sua programação de filmes, e uma entrevista semiestruturada com o principal responsável pelo novo modelo de atuação do cinema, revela uma reviravolta impressionante em apenas dois anos, transformando um espaço quase desativado em um centro vibrante da cena cinéfila da cidade, atraindo uma nova geração de jovens espectadores.
A história do Grupo Estação de Cinema começou em 1985 com a fundação do cineclube Estação Botafogo (MENDES, 2022), durante um período em que cineclubistas buscavam profissionalização utilizando a bitola 35 mm (GATTI, 2000). O grupo expandiu suas atividades, organizando o Festival do Rio e formando uma rede de exibição comercial com mais de vinte salas em cidades como Rio de Janeiro, São Paulo e Niterói.
Desde 2006, enfrentam uma crise financeira devido a altos custos operacionais e problemas de gestão, levando ao fechamento de várias salas, e culminando em 2021, com uma ameaça de despejo judicial de seu principal complexo devido a dívidas de aluguel. A estratégia de recuperação atual inclui a reformulação do modelo de operação, com ênfase na incorporação de práticas cinéfilas presentes em mostras, festivais e experiências cineclubistas fluminenses de caráter celebratório.
O cineclubismo tem suas raízes nos primórdios do cinema, e encontra-se na própria constituição do estatuto das formas em movimento enquanto sétima arte. No Brasil, os cineclubes desempenharam um papel crucial na educação, reflexão, pesquisa e difusão da cultura cinematográfica ao longo do tempo. Após um período de “letargia e apatia” nos anos 90 (GATTI, 2000, p. 166), surge no início do século XXI, em função da popularização das tecnologias digitais mais acessíveis, uma nova onda de cineclubes no país, denominada por Gatti como “primavera dos cineclubes” (2000, p. 167).
No Rio de Janeiro, durante esse período, a cena cineclubista destacou-se por seu caráter celebratório e pela efervescência cultural, com uma variedade de espaços alternativos de exibição, mostras e festivais que atraíam regularmente milhares de pessoas. Além da exibição de filmes, esses eventos envolviam expressões artísticas diversas, como festas, performances e intervenções em locais pouco convencionais, incorporando a sociabilidade local e resgatando símbolos da cidade. No entanto, a cena entrou em declínio na segunda década do século XXI devido à expansão da internet e interrupção das políticas públicas, aliado à escassez de financiamento.
Este trabalho visa investigar a adoção dessas práticas cinéfilas celebratórias nas estratégias de revitalização de salas de cinema no Rio de Janeiro no pós-pandemia, com a reformulação de modelos de programação, curadoria, divulgação e operação. Dessa forma, pretende-se refletir sobre as possibilidades da sinergia entre mostras, festivais, cineclubismo e salas de cinema como caminho de sustentabilidade para o futuro dos espaços de exibição na contemporaneidade.
Bibliografia
- ANCINE. Público e nº de sessões de salas de cinema-Rio de Janeiro 2012 a 02/2024. Rio de Janeiro: SCB, 26 mar. 2024.
BORGES, C. V. [Cavi]. Rio de Janeiro, 2024. Entrevista concedida a Thiago Carvalho.
CARVALHO, T. Cinema é celebração: a cena de exibição de cinema e audiovisual independentes do Rio de Janeiro na virada dos anos 2000. Rio de Janeiro: Autografia, 2023.
IKEDA, M. Das garagens para o mundo: movimentos de legitimação no cinema brasileiro dos anos 2000. Tese (Doutorado) – UFPE, Pernambuco, 2021.
GATTI, André. Cineclube. In: RAMOS, F. P.; MIRANDA, L. F. (Orgs). Enciclopédia do cinema brasileiro. São Paulo: Senac/Sesc SP, 2000. p. 164-167.
MENDES, M. Eu que amava tanto o cinema: uma viagem pessoal pela aventura do cineclube estação botafogo. Rio de Janeiro: Cobogó, 2022.
XAVIER, I. Maquinações do olhar: a cinefilia como “ver além”, na imanência. In: MÉDOLA, A. S.; ARAUJO, D,; F. B. (Orgs). Imagem, visibilidade e cultura midiática. Porto Alegre: Sulina, 2007. p. 21-46.