Trabalhos aprovados 2024

Ficha do Proponente

Proponente

    Thais Faria (UFBA)

Minicurrículo

    Doutora em Comunicação pela UFPE, com a tese sobre produção cinematográfica das lesbianidades na América Latina realizada por mulheres. Mestra pela UFBA no Programa de Pós-graduação Multidisciplinar em Cultura e Sociedade com dissertação sobre produção de pornografia feminista realizada por mulheres. Curadoria da I Mostra Pornô Feminista, realizado no Cine XIV no Pelourinho em 2017. Atualmente integra o Núcleo de Cultura e Sexualidade (NUCUS) e o Observatório Latino-Americano de Realizadoras.

Ficha do Trabalho

Título

    Las mestizas: lesbianidades latinas pelos filmes de Ángeles Cruz

Seminário

    Tenda Cuir

Formato

    Presencial

Resumo

    Neste diálogo vamos nos debruçar sobre duas produções da atriz e realizadora Ángeles Cruz e sua gana em produzir imagens e imaginários em que possamos contar as nossas histórias, potentes com a nossa própria voz, fazendo da produção audiovisual uma experiência corporal, política, de memória, amor e cura. Protagonizadas por lesbianidades mestizas, trago o curta La Carta e o longa Nudo Mixteco em ralação para produzirmos miradas lesbianas na Tenda Cuir.

Resumo expandido

    Neste espaço-tempo dessa carta vamos nos debruçar sobre os filmes La Carta e Nudo Mixteco, imergindo no olhar e construção das imagens e imaginários de Ángeles Cruz. Embaixo, envolta, feita, afetada, ralada pelas narrativas lesbianas construídas no curta e no longa respectivamente. “Hablo de temas que no se hablan públicamente” essa é a mensagem que aparece logo que chegamos ao site da artista. Cruz traz em suas produções a existência de muitos Méxicos e como as histórias são contadas nas comunidades. É uma prerrogativa dela que o cinema seja feito em comunidade, em especial a Villa Guadalupe Victoria, onde vem a sua ancestralidade, e também são feitos os filmes.

    Ángeles traz à luz as violências de gênero e contra as sexualidades dissidentes de mulheres, transversalizando com a raça, classe e território e deixa as feridas abertas, pulsantes em suas histórias. Para irmos estreitando os laços e fluindo as águas desse encontro, volto aos filmes La Carta e Nudo Mixteco para mergulharmos. O curta conta a história de Lupe que regressa a sua comunidade depois de muitos anos de ausência. Lá ela reencontra Rosalía, sua melhor amiga de infância e a carta que ela escreveu quando se despediram, mudam os rumos das suas vidas. O amor ressurge com mais força entre as duas. Já o longa conta a história de 3 personagens que migraram da sua comunidade: María, Esteban e Toña. São as festividades da padroeira do povoado de San Mateo, a população mixteca de Oaxaca que reinventa a Villa Guadalupe Victoria. María vai ao funeral da mãe e por acaso reencontra Piedad; Esteban traz presentes para os filhos e a esposa, mas não sabe que Chabela formou outra família na sua comunidade; Toña revive a própria dor diante dos abusos de que foi vítima no passado e agora essa é a realidade que vive sua filha; para protegê-la, ela terá que enfrentar sua família. Neste filme, vamos nos dedicar a história de María.

    Angeles traz na sua produção de imagens e imaginário o contexto e paisagens para compor as narrativas lesbianas mestizas* e através delas vamos sendo permeadas e vamos costurando as possibilidades de pontes entre grupos étnicos, linguísticos e culturais que se encontram e se misturam e transformam o imaginário e as miradas lesbianas na América Latina. E é a partir da forma que essas produções ralam na/com a gente, lesbianas, que vamos inventando formas de resistência. O nosso corpo a roçar com a sociedade e esses afetos são forças mobilizadoras de organização subjetiva individual e coletiva. E para que esse roçar aconteça, nós precisamos umas das outras(s).

    “A homossexualidade foi riscada no mundo por causa da ignorância e por causa desse impasse que existe. Para mim foi importante nomeá-lo e mostrá-lo com força, não deixar para a imaginação, não se autocensurar e deixar ficar na linha da imaginação para o espectador completar. Sinto que é uma bela manifestação de amor e sinto que as mulheres lésbicas nas comunidades também permaneceram no escuro, marginalizadas. A homossexualidade masculina tem nome, tudo a partir do olhar masculino. Pareceu-me importante nomeá-lo.”(CRUZ, online)

    Cruz quer se ver nos filmes e com isso também recriar o seu lugar no mundo como lesbiana. Assim como ela, reconhecer as vozes compartilhadas em sussurros ou envoltas em risos ou ainda aquelas que não são ouvidas, nos faz reconhecer nossas dores, afetos, e nossas próprias encruzilhadas, que nos levam a questões como: Quais são as batalhas que enfrentamos? Como defender os nossos corpos e o direito à alegria? Como viver a nossa sexualidade? Como enfrentar as dificuldades e humanizar o nosso cotidiano? Como produzir imagens sobre nós, por nós e para nós? Como comunicar as nossas diferenças e ainda assim criar pontes? A partir dessas duas produções de Angeles Cruz vamos tentar nos localizar a partir da sua comunidade, responder essas questões do local para o global e partilhar as possibilidades de miradas lesbianas.

    *Conceito de mestiza de Glória Anzaldúa

Bibliografia

    ANN CVETKOVICH. The Queer Art of the Counterarchive, IN: Frantz, David; Lock,Mia (Org.) Cruising the Archive: Queer Art and Culture in Los Angeles, 1945-1980. Los Angeles: ONE National Lesbian and Gay Archives, 2011,p. 32-35.
    GIULIANA BRUNO. Atlas of Emotion: Journeys in Art, Architecture, and Film. Londres: Verso, 2007.
    GLORIA ANZALDÚA. Borderlands/La frontera: The new mestiza. San Francisco: Aunt Lute Books, 2007.
    RAMAYANA LIRA SOUSA; ALESSANDRA BRANDÃO. Bodylands para além da in/visibilidade lésbica no cinema: brincando com água. Revista Brasileira de Estudos de Cinema e Audiovisual. Ano 9. N. 2 – REBECA 18 | Julho – Dezembro 2020.
    VIRGINIA CANO. Ética tortillera – Ensayos en torno al êthos y la lengua de las amantes. Buenos Aires: Madreselva, 2015.
    YURDESKY ESPINOSA MIÑOSO. Escritos de una lesbiana oscura: reflexiones críticas sobre feminismo y política de identidade en América Latina. Lima/Buenos Aires: en la frontera: 2007.