Trabalhos aprovados 2024

Ficha do Proponente

Proponente

    Caio Cardoso Holanda (UFSCAR)

Minicurrículo

    Graduado em Cinema e Audiovisual pela Universidade Federal do Ceará (UFC) e Mestrando no Programa de Pós Graduação em Imagem e Som (PPGIS) da Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR) com a dissertação “A música performando na narrativa de Inferninho”. Dirigiu o curta-metragem “Trancados” (2018). Trabalhou no setor sonoro do curta-metragem inspirado na instalação “2020” contemplado pelo edital da Secultfor em 2018.Também sonorizou o curta “Username” (2021), participando no design de som.

Ficha do Trabalho

Título

    O Canto Semi Amador em Inferninho

Formato

    Presencial

Resumo

    O “canto amador” é um estudo de Claudia Gorbman, analisando o canto nos filmes, principalmente hollywoodianos, indicando que personagens cantam sem a intenção de soar profissional como nos musicais ou em filmes sobre ou com músicos. Questionando sobre a existência de um meio termo no filme Inferninho, essa proposta de pesquisa reflete sobre as apresentações musicais da personagem Luizianne que trabalha profissionalmente no bar como cantora, mas é desafinada e erra a letra das músicas.

Resumo expandido

    Claudia Gorbman em 2011 publica na revista Music Sound and the Moving Image seu artigo Artless Singing que na tradução brasileira se tornou “O Canto Amador”, que comenta sobre o fenômeno em filmes de ficção onde os personagens cantam ou cantarolam, sozinhos ou acompanhados, canções sem a pretensão de ser um número musical com a produção, afinação, instrumentação e sem escapar da realidade. Assim, naturaliza o ato de cantar dentro da narrativa como um aspecto da realidade, pois o canto no banho, ao lavar louças, cantarolar ao citar uma música ou ao ouvir soando em aparelhos como o rádio e a televisão é um recurso narrativo para criar empatia entre o personagem e o espectador que reconhece ou também gosta da canção.
    O canto amador está nas “lacunas” da crítica cinematográfica, pois não é exatamente trilha musical, nem diálogo, nem performance como geralmente é considerado. A análise de uma série de exemplos mostra que ter personagens cantando de forma realista tem uma variedade surpreendente de funções narrativas, dramáticas e estruturais. (Gorbman, 2011, pág 157, tradução livre).
    No filme cearense Inferninho (2018), de Pedro Diógenes e Guto Parente, a música é um elemento presente e importante para a narrativa como um catalisador de emoções e conflitos. Diegeticamente, a música se manifesta a partir das canções performadas pela cantora do bar (Luizianne) e seu tecladista (Richard) que reproduzem as composições de Rita de Cássia em um ritmo diferente do forró, lembrando um brega soturno e melodramático que são comumente executados em bares de esquina.
    O canto de Luizianne tem a pretensão de ser profissional, com o objetivo de efetuar um número musical para todos presentes, porém se interrompe diversas vezes para conversar com o público, canta a música modificando a letra, repete os mesmos versos, além de desafinar. Essas características se aproximam com o que Gorbman descrevia o canto amador autêntico, sendo essas com as imperfeições na voz, como a respiração vacilante e trêmula, notas falsas, o canto desconfortável, excesso de pausas, letras esquecidas ou erradas, entre outras características que nivelam amadorismo com autenticidade, e que fazem do canto uma expressão natural e sincera da personagem (2012, pág 26).
    Porém, no texto de Claudia Gorbman não há sequer um exemplo de canto amador que seja efetuado durante a performance de uma cantora profissional em atividade no seu ambiente de trabalho. Os exemplos mais próximos são sobre a performance de Watanabe, personagem de Viver (1952), que não é um profissional, mas canta acompanhado por um tecladista – assim, remetendo a Richard nesta análise – e a outra performance é a de Doris Day em O Homem que Sabia Demais (1956) Uma cantora aposentada performa para uma plateia com o intuito de alcançar seu filho (que está no andar superior), cantando a canção “Que sera, sera” não há intenção de profissionalismo, mesmo com a voz sendo afinada e agradável.
    E então, a partir da cena em que Luizianne canta “Tatuagem”, composição de Rita de Cássia, são analisadas todas as características do canto, as repetições de versos, o desafinar da cantora, a intenção de profissionalismo ao exercer o ofício para o público que responde em sentimento e postura para com a mensagem da canção romântica. Portanto, a pesquisa discute a existência de um meio termo entre o canto amador e o profissional, este seria o canto semi amador, pois este se aproxima mais do amadorismo, porém com intencionalidade e posicionamento de um canto profissional.

Bibliografia

    Chion, Michel. Film, a sound art. New York: Columbia University Press, 2009.
    Conrich, Ian (ed.), Film’s musical moments. Edinburgh University Press, 2006.
    Costa, F. M.; Alvarenga, B. M. . Quando a música fala pela personagem: o uso de canções românticas diegéticas em três filmes brasileiros contemporâneos. REVISTA ECO-PÓS (ONLINE), v. 25, p. 39-51, 2022
    Gorbman, Claudia. Artless Singing. Music, Sound, and the Moving Image. Liverpool, 2011.
    Gorbman, Claudia. O canto amador. In: COSTA, Fernando Morais, SÀ, Simone Pereira. Som + Imagem. Rio de Janeiro: & Letras, 2012.
    Gorbman, Claudia, Unheard Melodies: narrative film music. Londres: The British Film Institute, 1987
    Kassabian, Anahid. Hearing Film Tracking Identifications in Contemporary Hollywood Film Music. Abingdon: Routledge, 2000.