Trabalhos aprovados 2024

Ficha do Proponente

Proponente

    Thais Ponzoni (USP)

Minicurrículo

    Thais Ponzoni é pesquisadora do projeto “Enxerto” de dança, performance e vídeo, contemplado pelo programa de pesquisa em dança “Residança” do Sesc (2017) e pelo Projeto Nascente de Artes Visuais da USP (2023). É produtora de obras multidisciplinares, como: Gancho, Afrodite Caótica e Bailarina Fulera. Tem formação em Artes Cênicas, Técnica Klauss Vianna. Atualmente é orientada pelo Dr. Prof. Cristian Borges na Escola de Comunicações e Artes da USP.
    https://thaisponzoni.wixsite.com/ponzoni

Ficha do Trabalho

Título

    O movimento coreográfico em Hand Movie e Hand Catching Lead 

Seminário

    Cinema experimental: histórias, teorias e poéticas

Formato

    Presencial

Resumo

    A partir do hibridismo dança/ cinema, analisaremos os movimentos coreográficos das mãos diante de uma câmera fixa em duas obras experimentais dos anos 1960: Hand Movie (1966) da dançarina Yvonne Rainer e Hand Catching Lead (1968) do escultor Richard Serra. A noção de “corpo como objeto”, proposta por Rainer (WOOD, 2007), será associada aqui ao ato masturbatório a fim de refletirmos sobre as fronteiras entre linguagens e gêneros que aparecem nestes dois filmes minimalistas.

Resumo expandido

    De forma comparativa, analisaremos os movimentos coreográficos das mãos em dois filmes experimentais silenciosos e rodados em branco e preto, com câmera fixa, na década de 1960: Hand Movie (1966), da coreógrafa e dançarina Yvonne Rainer, cuja mão é vista verticalmente, e Hand Catching Lead (1968), do escultor Richard Serra, cuja mão é vista horizontalmente. Trata-se, respectivamente, do primeiro exercício cinematográfico da série “Five Easy Pieces” (Rainer) e do primeiro filme da série “Hand and Process” (Serra). Do ponto de vista performático, observamos, em ambos os filmes, o trabalho de uma mão que ocupa o centro da tela, ora movendo seus dedos (Hand Movie), ora tentando pegar e soltar folhas de chumbo lançadas do alto (Hand Catching Lead).
    Rainer comenta (em LAMBERT-BEATTY, 2007) que o título Hand Movie vem de um trocadilho com a expressão hand job – que significa, em inglês, o ato de masturbar outra pessoa – e descreve o filme da seguinte maneira: “Uma explosão de cinco minutos de uma mão, vista verticalmente. Os dedos se esfregam, se movem. Duas ou três vezes a mão vira e a câmera acompanha. Por outro lado, a câmera está imóvel. Filme muito erótico” (RAINER, 2020). Podemos observar a mão abrindo e fechando numa qualidade de movimento de contração e relaxamento, concentração e expansão dos dedos, assim como notamos a ponta do dedo do meio esfregando em outra ponta de dedo, sugerindo o movimento de esfregar o clitóris durante a masturbação, movendo-o de baixo para cima ou vice-versa. Em outro momento todos os dedos se recolhem até cerrar o punho, apertando como uma contração de vagina e expandindo os dedos como num gozo. O movimento de contração dos metacarpos em direção ao carpo, cerrando o punho, pode remeter a uma contenção de energia muscular ou à forma de um soco ou quem sabe de um útero. A poeta Angélica Freitas (2012) diz que um útero é do tamanho de um punho, pois muitas coisas cabem dentro de um útero, inclusive uma pessoa, então útero e punho se amoldam, se adaptam e ajustam-se. Curiosamente, se a mão estiver aberta, a autora relaciona útero e punho a um possível colo, encaixe e acolhimento de uma pessoa: “o que não implica gênero, degeneração ou generosidade / ter alguém na palma da mão / conhecer como a palma da mão”.
    Richard Serra, autor da série Hand and Process – que inclui Hand Catching Lead, Hands Tied e Hands Scraping –, afirmou, em entrevista a Annette Michelson (1979), que Hand Movie “e seus dedos dançando” lhe deram coragem de começar a fazer filmes. Em Hand Catching Lead, erotismo e desejo aparecem na coreografia de uma mão masculina que se move, contraindo e expandindo, tentando agarrar ou segurar um objeto, para em seguida soltá-lo, repetindo o mesmo ritmo e gesto, apesar de suas pequenas variações. Os dedos e a mão, manchados pelas folhas de chumbo que caem do extracampo superior do quadro, seguem num exercício repetitivo apalpando tanto o vazio quanto o objeto que insiste em lhes escapar. Também aqui é possível observar, da perspectiva de um movimento repetitivo e erótico, uma possível coreografia da masturbação masculina, que pode igualmente se relacionar com humor, distanciamento e crítica, uma vez que, como em Rainer, não se trata de mímica ou interpretação de ações corriqueiras. Este trabalho procura investigar uma abordagem híbrida entre os meios artísticos da dança e do cinema a fim de refletir sobre o movimento dos corpos e dos objetos. Pois, como sugere Bukhari (2017), “que o sentido da obra se multiplique na medida em que cada meio envolvido acrescente a sua própria história e convenções particulares à leitura”.

Bibliografia

    BUKHARI, Kyle. “Movements of Media in Yvonne Rainer’s Hand Movie (1966) and Richard Serra’s Hand Catching Lead (1968)”, in The International Journal of Screendance, vol. 8, 2017.

    FREITAS, Angélica. Um útero é do tamanho de um punho. São Paulo: Cosac Naify, 2012.

    LAMBERT-BEATTY, Carrie. Being Watched. Yvonne Rainer and the 1960s. Cambridge, Londres: MIT Press/ October Books, 2007.

    MICHELSON, Annette. “The Films of Richard Serra”. October, vol. 10, 1979.

    RAINER, Yvonne. Work 1961-1973. Nova York: Primary Information, 2020. 

    WOOD, Catherine. Yvonne Rainer, The mind is a Muscle. Nova York: Afterall Books, 2007.