Ficha do Proponente
Proponente
- Thais Ponzoni (USP)
Minicurrículo
- Thais Ponzoni é pesquisadora do projeto “Enxerto” de dança, performance e vídeo, contemplado pelo programa de pesquisa em dança “Residança” do Sesc (2017) e pelo Projeto Nascente de Artes Visuais da USP (2023). É produtora de obras multidisciplinares, como: Gancho, Afrodite Caótica e Bailarina Fulera. Tem formação em Artes Cênicas, Técnica Klauss Vianna. Atualmente é orientada pelo Dr. Prof. Cristian Borges na Escola de Comunicações e Artes da USP.
https://thaisponzoni.wixsite.com/ponzoni
Ficha do Trabalho
Título
- O movimento coreográfico em Hand Movie e Hand Catching Lead
Seminário
- Cinema experimental: histórias, teorias e poéticas
Formato
- Presencial
Resumo
- A partir do hibridismo dança/ cinema, analisaremos os movimentos coreográficos das mãos diante de uma câmera fixa em duas obras experimentais dos anos 1960: Hand Movie (1966) da dançarina Yvonne Rainer e Hand Catching Lead (1968) do escultor Richard Serra. A noção de “corpo como objeto”, proposta por Rainer (WOOD, 2007), será associada aqui ao ato masturbatório a fim de refletirmos sobre as fronteiras entre linguagens e gêneros que aparecem nestes dois filmes minimalistas.
Resumo expandido
- De forma comparativa, analisaremos os movimentos coreográficos das mãos em dois filmes experimentais silenciosos e rodados em branco e preto, com câmera fixa, na década de 1960: Hand Movie (1966), da coreógrafa e dançarina Yvonne Rainer, cuja mão é vista verticalmente, e Hand Catching Lead (1968), do escultor Richard Serra, cuja mão é vista horizontalmente. Trata-se, respectivamente, do primeiro exercício cinematográfico da série “Five Easy Pieces” (Rainer) e do primeiro filme da série “Hand and Process” (Serra). Do ponto de vista performático, observamos, em ambos os filmes, o trabalho de uma mão que ocupa o centro da tela, ora movendo seus dedos (Hand Movie), ora tentando pegar e soltar folhas de chumbo lançadas do alto (Hand Catching Lead).
Rainer comenta (em LAMBERT-BEATTY, 2007) que o título Hand Movie vem de um trocadilho com a expressão hand job – que significa, em inglês, o ato de masturbar outra pessoa – e descreve o filme da seguinte maneira: “Uma explosão de cinco minutos de uma mão, vista verticalmente. Os dedos se esfregam, se movem. Duas ou três vezes a mão vira e a câmera acompanha. Por outro lado, a câmera está imóvel. Filme muito erótico” (RAINER, 2020). Podemos observar a mão abrindo e fechando numa qualidade de movimento de contração e relaxamento, concentração e expansão dos dedos, assim como notamos a ponta do dedo do meio esfregando em outra ponta de dedo, sugerindo o movimento de esfregar o clitóris durante a masturbação, movendo-o de baixo para cima ou vice-versa. Em outro momento todos os dedos se recolhem até cerrar o punho, apertando como uma contração de vagina e expandindo os dedos como num gozo. O movimento de contração dos metacarpos em direção ao carpo, cerrando o punho, pode remeter a uma contenção de energia muscular ou à forma de um soco ou quem sabe de um útero. A poeta Angélica Freitas (2012) diz que um útero é do tamanho de um punho, pois muitas coisas cabem dentro de um útero, inclusive uma pessoa, então útero e punho se amoldam, se adaptam e ajustam-se. Curiosamente, se a mão estiver aberta, a autora relaciona útero e punho a um possível colo, encaixe e acolhimento de uma pessoa: “o que não implica gênero, degeneração ou generosidade / ter alguém na palma da mão / conhecer como a palma da mão”.
Richard Serra, autor da série Hand and Process – que inclui Hand Catching Lead, Hands Tied e Hands Scraping –, afirmou, em entrevista a Annette Michelson (1979), que Hand Movie “e seus dedos dançando” lhe deram coragem de começar a fazer filmes. Em Hand Catching Lead, erotismo e desejo aparecem na coreografia de uma mão masculina que se move, contraindo e expandindo, tentando agarrar ou segurar um objeto, para em seguida soltá-lo, repetindo o mesmo ritmo e gesto, apesar de suas pequenas variações. Os dedos e a mão, manchados pelas folhas de chumbo que caem do extracampo superior do quadro, seguem num exercício repetitivo apalpando tanto o vazio quanto o objeto que insiste em lhes escapar. Também aqui é possível observar, da perspectiva de um movimento repetitivo e erótico, uma possível coreografia da masturbação masculina, que pode igualmente se relacionar com humor, distanciamento e crítica, uma vez que, como em Rainer, não se trata de mímica ou interpretação de ações corriqueiras. Este trabalho procura investigar uma abordagem híbrida entre os meios artísticos da dança e do cinema a fim de refletir sobre o movimento dos corpos e dos objetos. Pois, como sugere Bukhari (2017), “que o sentido da obra se multiplique na medida em que cada meio envolvido acrescente a sua própria história e convenções particulares à leitura”.
Bibliografia
- BUKHARI, Kyle. “Movements of Media in Yvonne Rainer’s Hand Movie (1966) and Richard Serra’s Hand Catching Lead (1968)”, in The International Journal of Screendance, vol. 8, 2017.
FREITAS, Angélica. Um útero é do tamanho de um punho. São Paulo: Cosac Naify, 2012.
LAMBERT-BEATTY, Carrie. Being Watched. Yvonne Rainer and the 1960s. Cambridge, Londres: MIT Press/ October Books, 2007.
MICHELSON, Annette. “The Films of Richard Serra”. October, vol. 10, 1979.
RAINER, Yvonne. Work 1961-1973. Nova York: Primary Information, 2020.
WOOD, Catherine. Yvonne Rainer, The mind is a Muscle. Nova York: Afterall Books, 2007.