Trabalhos aprovados 2024

Ficha do Proponente

Proponente

    Guilherme Maggi Savioli (CB / ECA-USP)

Minicurrículo

    Bacharel em audiovisual e mestrando em meios e processos audiovisuais, ambos pela Escola de Comunicações e Artes da USP. Atualmente é técnico de preservação de filmes da Cinemateca Brasileira.

Ficha do Trabalho

Título

    “Não é o acaso, é a técnica”

Mesa

    Nitratos e acetatos: pesquisas e preservação na Cinemateca Brasileira

Formato

    Presencial

Resumo

    Tomando como ponto de partida a ideia de sintaxe visual, tal como desenvolvida por estudiosos dos campos da gravura e da fotografia, a apresentação procurará verificar a aplicabilidade desse conceito para a abordagem das imagens em movimento. Tendo como foco os filmes realizados entre o final do século XIX e início do XX, discutiremos como aspectos historiográficos da evolução tecnológica do cinema nos ajudam a refletir sobre a preservação e apresentação desses registros na atualidade.

Resumo expandido

    A comunicação propõe averiguar como o conceito de sintaxe visual – surgido originalmente dentro do campo das imagens fixas – pode ser transposto para o campo das imagens em movimento, mais especificamente em uma reflexão acerca da preservação e apresentação de filmes realizados entre o final do século XIX e início do XX.

    Em 1953, sete anos após sua aposentadoria como curador de gravuras do Metropolitan Museum of Art de Nova York, William M. Ivins Jr. publica o livro Prints and Visual Communication. Fruto de uma série de palestras para as quais havia sido convidado a ministrar em Chicago, a obra acabou se tornando uma das principais referências teóricas e historiográficas no campo da gravura.

    A principal ideia da obra consiste em elaborar e desenvolver o conceito de “sintaxe visual”. Segundo Ivins Jr., o estabelecimento da gravura em meados do século XV constituiu um dos principais eventos na história da comunicação humana. Para ele, a possibilidade de reproduzir mecanicamente registros visuais idênticos e em série representou um salto quântico na capacidade de se apreender e transmitir fatos da realidade. Ainda dependente, porém, da habilidade humana em entalhar uma matriz reprodutível, a história da gravura foi marcada pelas diversas estratégias e abordagens desenvolvidas, ao longo dos séculos, para a disposição na placa das linhas que conferem forma, volume e textura aos desenhos. O estudo das variações na disposição de tais linhas, privilegiando determinados aspectos da comunicação visual, é o que caracterizaria para o autor a sintaxe visual da gravura.

    Apesar de sua enorme importância – tendo influenciado, inclusive, autores seminais da teoria da comunicação, como Marshall McLuhan – Ivins Jr. considera, de forma equivocada, que com o surgimento da fotografia a sintaxe visual deixaria de ser um operador hermenêutico valido, uma vez que a técnica fotomecânica libertaria a manifestação da interferência primeira da mão humana, tal como acontece na gravura. A fim de rebater esse pressuposto, o fotógrafo e impressor William Crawford publica em 1979 o livro The Keepers of Light. Elaborado originalmente como um guia prático para a produção de processos fotográficos característicos do século XIX, Crawford aproveita o primeiro capítulo de seu livro para escrever uma pequena história da fotografia baseada na forma como as rápidas alterações técnicas típicas do período influenciaram a elaboração e recepção dos objetos. Para ele, em fotografia, a sintaxe visual se resume justamente às possibilidades e limitações impostas pela tecnologia disponível ao operador.

    Em nossa comunicação, num primeiro momento, propomos pontuar como o conceito de sintaxe visual aparece no debate historiográfico acerca da evolução tecnológica do cinema. Tomaremos como referência o paradigma cronológico estabelecido por Lenny Lipton em seu livro The Cinema in Flux – The Evolution of Motion Picture Technology from the Magic Lantern to the Digital Era, a fim de caracterizarmos o que configuraria tecnicamente a sintaxe visual dessas obras dentro de seu contexto histórico.

    Já em um segundo momento, discutiremos a sintaxe visual da apresentação e preservação desses registros. Abordaremos como o conceito reaparece na abordagem de André Gaudreault acerca da importância das “séries culturais” na caracterização das “kineto-atrações”, bem como o paradigma da “performance” estabelecido por Paolo Cherchi Usai como elemento central na apresentação contemporânea do dito “cinema silencioso”.

    Por fim, a partir das provocações de Alfonso del Amo García contidas no texto “Qué aportan los soportes originales a la preservación cultural de la cinematografía?”, buscaremos apontar como o estudo da evolução técnica do cinema, embasado pelo conceito de sintaxe visual, pode contribuir para a compreensão metodológica do trabalho de preservação dessas obras.

Bibliografia

    Crawford, W. The Keepers of Light – A History & Working Guide to Early Photographic Processes. Dobbs Ferry: Morgan & Morgan, 1979.

    Garcia, A. “Qué aportan los soportes originales a la preservación cultural de la cinematografia?”. Journal of Film Preservation. FIAF. Brussels Nº 103, outubro de 2020

    Gaudreault, A. Film and Attraction: From Kinematography to Cinema. Urbana: University of Illinois Press, 2011.

    Ivins Jr., W. Prints and Visual Communication. Cambridge: MIT Press, 1969.

    Lipton, L. The Cinema in Flux – The Evolution of Motion Picture Technology from the Magic Lantern to the Digital Era. Berlin: Springer, 2021.

    Narboni, J. (org.). Henri Langlois: Trois cents ans de cinema – Écrits. Cahiers du Cinéma, La Cinemathèque Française, Fondation Européene des Métiers de l’Image et du Son: Paris, 1986.

    Usai, P. C. Silent Cinema – A Guide to Study, Research and Curatorship. London: British Film Institute, 2019.