Trabalhos aprovados 2024

Ficha do Proponente

Proponente

    Rodrigo Archangelo (CB / ECA-USP)

Minicurrículo

    Doutor em História Social pela FFLCH-USP; Pós-doutorando em Meios e Processos Audiovisuais pela ECA-USP; Pesquisador do Centro de Documentação e Pesquisa da Cinemateca Brasileira; Pesquisador associado FAPESP (Projeto Temático 2022/06032-0); Participante do Grupo de Pesquisa CNPq História e Audiovisual: circularidades e formas de comunicação.

Coautor

    Fernanda Porto Gonzalez (CB / MAE-USP)

Ficha do Trabalho

Título

    Re(a)ver a notícia: a imprensa filmada e preservada na Cinemateca

Mesa

    Nitratos e acetatos: pesquisas e preservação na Cinemateca Brasileira

Formato

    Presencial

Resumo

    Cinejornais e telerreportagens, obras seriadas compostas por materiais fílmicos e documentos correlatos. Na Cinemateca Brasileira, as atividades para preservar suas imagens em movimento e as suas informações de contexto. Rever essas notícias implica catalogar o conteúdo e processar os suportes materiais em acetato de celulose; reaver suas informações significa compreender a materialidade dessa tipologia específica de filme no acervo.

Resumo expandido

    Essa comunicação apresenta resultados dos trabalhos profissionais desenvolvidos na Cinemateca Brasileira e dos estudos acadêmicos realizados no campo da pesquisa histórica, catalogação e preservação audiovisual dos seus autores. Em discussão, o escopo das atividades do Projeto Temático FAPESP “Audiovisual, história e preservação: o lugar dos cinejornais e das telerreportagens brasileiros na construção da memória (1946-1974)”, e da proposta do projeto “Preservação de Acervo Audiovisual e Atualização Tecnológica”, cujas abordagens envolvem a catalogação e o processamento técnico, para preservação e acesso, de notícias pertencentes à imprensa filmada brasileira do início dos anos 1960: o cinejornal Canal 100 e os telejornais Repórter Esso e Diário de São Paulo na TV exibidos na TV Tupi de São Paulo, todos no recorte entre 1961 e 1964.

    De indiscutível importância para os estudos da cultura cinematográfica e jornalística no Brasil, essas duas coleções são bastante representativas das porções projetadas e televisionadas da imprensa audiovisual no século XX. Dois conjuntos: os cinejornais e as telerreportagens compostos por materiais fílmicos 35mm e 16mm e por documentos correlatos, como os roteiros originais de locução. O seu processamento na Cinemateca expõe o diálogo atinente à cadeia de atividades intersetorial para preservar imagens em movimento e as informações do seu contexto. Nesse sentido, e sobretudo nos trabalhos com fontes audiovisuais seriadas, para rever as notícias o mais próximas da sua experiência original é necessário passar por um processo resultante da sintonia entre catalogação de conteúdo e processamento dos suportes materiais, inclusive para reavê-las na sua materialidade física e informacional.

    Atividade inserida na tradição metodológica da Cinemateca e da FIAF, a catalogação de conteúdo a partir de vestígios do que foi dito aos espectadores – os roteiros de locução – é o caminho para recompor o perfil editorial desses veículos de comunicação nos cinemas e na televisão. Trata-se de uma etapa essencial para reorganizar as ocorrências e ausências de um verdadeiro quebra-cabeça sistematizado em base de dados, evocando a ambiência dessas categorias audiovisuais, e gerando subsídios para os trabalhos técnicos e de compreensão mais ampla da dimensão do arquivo, tanto em relação aos filmes, quanto ao contexto político e socioeconômico dessas ramificações audiovisuais na evolução da imprensa brasileira.

    Quanto ao artefato fílmico, o acetato de celulose foi utilizado como suporte na totalidade dos cinejornais e telejornais filmados entre 1960 e 1964. Estes são um produto de seu tempo em mais de um sentido: seu conteúdo e sua forma estão intrinsecamente ligados ao suporte no qual foram originalmente registrados. Catalogar e reaver essas informações implica no enfrentamento e na compreensão da materialidade dessa tipologia específica de coleção no acervo, comum em arquivos de filmes, e do seu processo de deterioração.

    O “acetato”, também chamado de safety film, se tornou o padrão da indústria a partir da década de 1950, quando substituiu por completo o nitrato de celulose. Ele sofre um processo de deterioração característico, apelidado de “síndrome do vinagre”. Em suas etapas mais avançadas, essa síndrome altera permanentemente a imagem e o som registrados, podendo até mesmo torná-los irrecuperáveis.

    Toda película em acetato de celulose, se armazenada de forma inapropriada, sofrerá de modo acelerado este processo de deterioração. Levando em conta que os principais fatores para o início da síndrome são temperatura e umidade altas, vê-se que esse é um problema especialmente agudo para arquivos e cinematecas localizados em regiões de clima tropical ou subtropical, como é o caso no Brasil. É, portanto, de fundamental importância o conhecimento dos mecanismos da deterioração, seus efeitos nas películas e possíveis ações para mitigar a síndrome do vinagre, preservando por mais tempo essas notícias na Cinemateca.

Bibliografia

    ALLEN, Norman et al. Degradation of Historic Cellulose Triacetate Cinematographic Film: The
    Vinegar Syndrome. Polymer Degradation and Stability, n. 19, p. 379-387, 1987.

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