Trabalhos aprovados 2024

Ficha do Proponente

Proponente

    Patricia Moran Fernandes (USP)

Minicurrículo

    Professora na ECA/USP no Curso Superior do Audiovisual, integra o PPGMPA. Diretora do CINUSP entre 2014 e 2017, coordenou coleção de onze livros, co-organizando dois volumes. Em 2020 redigiu com Marcus Bastos “Audiovisual ao vivo. Tendências e Conceitos”. Em 2023 “Histórias e Técnicas de Cinemas”. Realiza o documentário “Tempo Presente”. Pesquisa e escreve sobre poéticas audiovisuais. Idealizadora e coordenadora do site: Inquietações Audiovisuais na Pandemia. https://iap.eca.usp.br/index.ph

Ficha do Trabalho

Título

    Inquietações Audiovisuais na Pandemia: banco de dados e epistemologia

Formato

    Presencial

Resumo

    A motivação inicial do site Inquietações Audiovisuais na Pandemia era criar um banco de dados sobre a produção Audiovisual experimental de um momento traumático. No corpo a corpo com os vídeos a pesquisa se impõe na organização do acervo. Nesta apresentação abordaremos nosso objeto a partir categorias normalmente utilizadas pela media, partindo do pressupostos que os objetos são reestruturados no processo – um círculo hermenêutico que constitui um processo de pesquisa.

Resumo expandido

    A motivação inicial para se criar o site Inquietações Audiovisuais na Pandemia era a organização de um banco de dados sobre a produção Audiovisual experimental de um momento traumático, que prontamente foi estrategicamente esquecido. A preservação de nosso acervo audiovisual costuma ser precária em trabalhos reconhecidos internacionalmente, a produção de realizadores à margem do circuito das galerias e do cinema, seria apagada ainda mais velozmente. Houve algo de relevante? Que sociedade há nestes vídeos? Sem a preservação impossível se saber.

    No corpo a corpo com os vídeos a pesquisa se impõe exigindo critérios para a “indexação” do acervo. Se não indexação, pelo menos para se estabelecerem relações entre os vídeos. Criamos tags para relacionar trabalhos, localizar recursos expressivos comuns nos vídeos e a partir dos grupos formados, circunscrever linhas de força e tendência. No horizonte da investigação colocavam-se o “Atlas Mnemosyne” de Warburg e o livro “Passagens” de Walter Benjamin como referências de bancos de dados, que para além da guarda dos materiais, se configura como um mapeamento de interrogações de uma época. O Atlas propõe história através das imagens, do que enunciam e pensam. No lugar de uma formalização do pensamento por palavras, pelas imagens, pelas relações entre elas afirmada na montagem/composição das pranchetas do Atlas. Já Benjamin coleciona situações e citações em suas Passagens, para quem o tempo e a história se relacionam como uma rede, ou seja, não de forma linear mas por correspondências em uma espécie de constelação que se organiza e reorganiza através de cenas e acontecimentos.

    Vamos apresentar algumas constelações possíveis, e como tal instáveis, abrigadas pelo site. Parte-se de categorias normalmente utilizadas pela media para abordar nosso objeto, que são as supostas mudanças causadas pela migração dos criadores para a internet. Haveria uma continuidade de formatos e questões? A época impactou na forma e conteúdo, nos perguntávamos enquanto selecionávamos os trabalhos. Parte-se do pressupostos que os objetos são reestruturados no processo – um círculo hermenêutico que constitui a pesquisa como movimento de encontros e desencontros.

    Propõe-se desenhar pequenas arqueologias enfocando por um lado tendências que partem de movimentos consolidados, ou seja, voltadas à concretização de experimentos cujos antecedentes estão colocados pelos próprios realizadores. Outro grupo de vídeos se apresenta como adaptação formal a um meio, ou seja, o realizador migrou, saiu do palco para a tela, o que se mantém do trabalho original? Algo se manteve, e finalmente há um terceiro grupo de realizadores que reinventaram a existência artística na internet com performances nonsense, fazendo transbordar o desconforto experimentado durante a pandemia.

    O festival internacional online de Glitch Art1. é representativo de pequena arqueologia de trabalhos voltados à exploração do ruído. O criador do site e festival já adotara a glitch arte como lugar de criação, durante a pandemia ele organiza o festival, que ainda existe, e recebe vídeos que se aproximam do “glitch” para além do erro. Este é adotado como representação e ferramenta narrativa, interpondo-se entre a imagem e o espectador, passa a definir o como.
    https://iap.eca.usp.br/evento.php?id=22

    No segundo grupo destacamos os eventos promovidos por Mirella Brandi e Muep Etmo na residência online Pink Umbrella. Será objeto de nossa leitura “Futuro Fantasma” de Alejando Ahmed e do grupo Cena 11 para quem o trabalho “e a manifestação prática do desvio de temporalidades nas quais estamos imersos como coletivos bio-culturais. Futuro Fantasma é o Projeto que publica a materialização artística e as ferramentas temporárias e ancestrais, do modo de existir em estado de homeostase, adaptação, mistura, assimetria, coerência, incerteza e risco.”
    https://www.youtube.com/watch?app=desktop&v=T0o6SB3W_HA

    O terceiro grupo é de performances disruptivas do Coletivo Cocoré.

Bibliografia

    ARANTES, Priscila. “Re/escrituras da Arte Contemporânea. Arte contemporânea: história, arquivo e mídia”. Porto Alegre: editora Sulina, 2015.
    ANDREA, Carlos D. “Pesquisando plataformas on-line: Conceitos e métodos.” Salvador: EDUFBA, 2020.
    BENJAMIN, Walter. “O anjo da história.” Organização e tradução: João Barreto. 2º ed. – Belo Horizonte:
    Autêntica Editora, 2013.
    _______________. “Passagens”. Belo Horizonte: ed. UFMG, 2007.
    MONDLOCH, Kate (org.). “Screens. Viewing a Media Installation Art. Eletronic Mediations.” Vol. 30. Minneapollis: University of Minessota, 2010.
    MORAN, Patricia; PARANHOS, Tom. “Afetos on-line: memória, presença e trocas em eventos na pandemia.” Revista Novos Olhares. Vol. 11. N.2/ Jul-Dez, 2022
    PELBART, Peter Pál; FERNANDES, Ricardo Muniz (org.) “Pandemia Crítica.” SP:N-1 Edições. SOC000000, Outono 2020.
    VAN DIJCK, J. “The culture of connectivity: a critical history of social media.” Oxford, New York: Oxford University Press, 2013.