Ficha do Proponente
Proponente
- Marina Mapurunga de Miranda Ferreira (UFRB)
Minicurrículo
- Artista sonora, sonidista, pesquisadora e professora do curso de Cinema e Audiovisual da UFRB. Tutora do PET Cinema da UFRB, coordenadora do projeto de extensão SONatório – Laboratório de pesquisa, prática e experimentação sonora e do projeto Cartografia Aural de Cachoeira. Integrante do grupo de pesquisa Linklivre e do Nusom – Núcleo de Pesquisas em Sonologia da USP. Professora permanente do PPGCOM-UFRB.
Ficha do Trabalho
Título
- Escuta(s) no cinema e audiovisual
Seminário
- Estilo e som no audiovisual
Formato
- Presencial
Resumo
- Ao falarmos de som no cinema, estamos tratando diretamente da escuta. A escuta está intrinsecamente ligada à experiência audiovisual, seja no processo de criação ou recepção da obra. Nesta comunicação, trago um panorama de autoras(es) que tratam da escuta no cinema e apresento um recorte de dois contextos sobre o tema, um voltado à teoria e outro à técnica do som. De que maneiras podemos nos voltar a outras formas de escuta e práticas sonoras fora do campo do cinema e trazê-las para nós?
Resumo expandido
- Ao falarmos de som no cinema, estamos tratando diretamente da escuta. Ouvimos, escutamos, relacionamos os sons com o que (não) vemos na tela. Os sons potencializam as imagens visuais, podendo tornar uma cena mais realista ou hiper-realista. Certos sons que escutamos, como os foleys, são criados para uma aproximação maior do(a) espectador(a) com a cena. Os sons que escutamos, mas que não vemos suas fontes sonoras no enquadramento ampliam o espaço da diegese audiovisual. Estes sons são imaginados, construídos em nossa mente. A escuta está intrinsecamente ligada à experiência audiovisual, seja no processo de criação ou recepção da obra.
Escutar exige intenção e atenção. Segundo Truax (2001, p. 18), a escuta envolve diferentes níveis de atenção que pode ser mais casual e distraído ou pode estar em um estado de prontidão, e o seu alcance pode ser global ou focalizado em uma fonte, excluindo outros sons.
Os diversos tipos, modos, atitudes, qualidades de escutas não se opõem, mas se complementam no entendimento dos processos de escuta. Pesquisadoras(es) do som no cinema e audiovisual têm refletido sobre a escuta fílmica em relação à análise e recepção dos filmes. Véronique Campan é uma delas. Em L’écoute filmique: écho du son en image (1999), Campan comenta que a escuta é uma das dimensões da recepção fílmica e distingue ouvir e escutar, ao afirmar que “o que ouvimos (ruídos ambientes junto às paisagens fotografadas, vozes nascidas dos corpos que habitam a imagem), não é o que se dá a escutar.” (CAMPAN, 1999, p. 11). Para a autora, no cinema, a escuta é “o comportamento sensível, perceptivo e cognitivo que está ligado ao som, um dado fenomenal a partir do qual os sons plurais são elaborados” (1999, p. 7).
Outra pesquisadora que tem refletido sobre a escuta fílmica é Virgínia Flôres (2013) que utiliza conceitos ligados à escuta e à classificação morfológica de Schaeffer para aplicá-los à escuta fílmica, além de adotar conceitos de Edmund Husserl, o conceito de écoute panique de Barthes (1982) e de som como vestígio de Campan (1999). Para Flôres (2013), as quatro formas de escuta de Schaeffer são fundamentais para o trabalho sobre o sonoro no cinema.
Outras abordagens de escuta no cinema seguem emergindo, como na tese de José Cláudio Castanheira (2014), que trata de escutas cinematográficas e suas relações entre tecnologias e audibilidades no cinema, como as tecnologias de som condicionam formas de ouvir um filme. Carlo Cenciarelli (2021) também explora a escuta relacionada às genealogias das práticas audiovisuais dos pré-cinemas aos pós-cinemas, a relação entre estética fílmica e protocolos de escuta.
Nesta apresentação, busco, além de trazer um panorama de autoras(es) que tratam da escuta no cinema, apresentar um recorte de dois contextos sobre o tema. Um deles mais voltado à teoria e outro à técnica do som no cinema. Ambos autores são professores-pesquisadores que já trabalharam artística e tecnicamente com cinema, coincidentemente nascidos em 1947, Michel Chion e Claude Bailblé. Estes são professores e realizadores (fazem filmes) e seus textos estão ligados a práticas de ensino do som no cinema. Chion segue exemplificando seus conceitos por meio das descrições fílmicas, enquanto Bailblé aponta experiências de escuta para serem praticadas. Chion traz em seu texto a presença de seus alunos, compartilhando alguns de seus questionamentos. Já o texto de Bailblé está em uma seção do Cahiers du Cinéma que busca outras abordagens de ensino da técnica no cinema, por isso intitulada: Por uma nova abordagem do ensino da técnica cinematográfica.
O que gostaria de problematizar nesta apresentação é de que maneiras podemos nos voltar a outras formas de escuta e de práticas sonoras fora do nosso campo do cinema e trazê-las para perto de nós? Quais as contribuições delas para nossa área e para nós mesmas(os) como seres no mundo?
Bibliografia
- BAILBLÉ, Claude. Programmation de l’écoute. (in fourparts) Cahiers du Cinéma, nº 292, 293, 297, 298. Sept. 1978 – Apr. 1979b.
BARTHES, Roland. L’obvie et l’obtus: essais critiques III. Paris: éditions du seuil, cop. 1982.
CAMPAN, Véronique. L’écoute filmique. Nouvelle édition. Saint-Denis: Presses universitaires de vincennes, 1999.
CASTANHEIRA, José C. S. Escutas cinematográficas. Brasil, 2014. 418 f. Tese (Doutorado em Comunicação) – UFF, Niterói, 2014.
CENCIARELLI, Carlo (ed). The oxford handbook of cinematic listening. NY, Oxford University Press, 2021.
CHION, Michel. L’audio-vision. Paris: Armand Colin, 2012.
FERREIRA, Marina M. de M. Reativação da escuta. Brasil, 2022. 252 f. Tese (Doutorado em Música) – USP, São Paulo, 2022.
FLÔRES, Virgínia. O cinema: uma arte sonora. São Paulo: Annablume, 2013.
SCHAEFFER, Pierre. Traité des objets musicaux. Paris: éditions du seuil, 1966.
TRUAX, Barry. Acoustic communication. Westport: greenwood publishing group, 2001.