Ficha do Proponente
Proponente
- Adriana Mabel Fresquet (CINEAD/UFRJ)
Minicurrículo
- Professora da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Coordena o Grupo CINEAD: Laboratório de Educação, Cinema e Audiovisual, que atua em parceria com a Cinemateca do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, escolas públicas e o Hospital Universitário. É uma das fundadoras da Rede KINO: Rede Latino-Americana de Educação, Cinema e Audiovisual e participou da elaboração da Proposta de regulamentação da lei 13006/14. Estuda sobre acervos audiovisuais digitais (USP/2024).
Ficha do Trabalho
Título
- De Fernando Birri ao Acervo Audiovisual Escolar Livre: desver Tire dié
Mesa
- Desaprender sobredeterminações: anarquivar documentos e invenções
Formato
- Presencial
Resumo
- Ao pensar nas possibilidades de uma pedagogia do cinema na escola surge o filme “Tire dié”. Trata-se de um bom exemplo latino-americano com potência estética, social e política, dentro das propostas para a criação do protótipo do Acervo Audiovisual Escolar Livre, na articulação das pesquisas Acervos Audiovisuais e Universidades na produção de conhecimento (UFRJ) e Acervos Digitais no contexto do Plano Nacional de Educação Digital e da Estratégia Nacional de Escolas Conectadas (USP).
Resumo expandido
- Em 2015 a Rede Kino, Rede Latino-Americana de Educação, Cinema e Audiovisual propôs a criação de um Acervo Audiovisual Escolar Livre. Em 2022, na UFRJ aprovamos um projeto para dar início a um protótipo desse acervo, que depois se tornará algo maior, interativo, acessível, legendado em português e espanhol, e fundamentalmente latino-americano. É nesse contexto que surge o interesse por Tire dié e as possibilidades pedagógicas, estéticas e políticas de “desver” este filme.
Tire dié é também uma primeira enquete social filmada. Seu diretor afirma: “Ao chegar às margens da cidade de Santa Fé, como em tantas outras cidades organizadas, as estatísticas se tornam incertas. Há muitos – quantos? – muitos ranchos nos quais vivem – quantos? – centenas de famílias de Santa Fé […]. Aqui foi filmada, com meios precários, entre 4 e 5 horas de uma tarde de primavera, verão, outono e inverno em 1956, 1957, 1958, a presente pesquisa, enquanto as crianças vêm pedir um dinheiro ao trem “Tire dié”… Tire dié, digaaa…”. – que, no ritmo de um homem, avança sobre uma ponte de dois quilômetros de comprimento” (Birri, 2008, p. 55).
O que aprendemos com ele? Que infâncias o filme cartografa? Que relações estabelece um filme entre universidade e comunidade? As questões se multiplicam.
Trata-se de uma obra emblemática para o campo de encontro entre cinemas e educações. A presença de inúmeras crianças subindo por lugares perigosos para pegar moedas de 10 centavos asusta e emociona e, ao mesmo tempo, revela uma realidade socio-política argentina tão sofrida como a de hoje. O processo de produção do filme constitui uma pedagogia de cinema comunitária, com antecedentes elogiados internacionalmente.
Lembremos que a formação académica fundamental de Birri está vinculada com sua viagem a Roma, onde estudou no Centro Sperimentale de Cinematografia entre 1950 e 1952. Nessa cidade, filmou o documental Selinunte, atuou fugazmente e auxiliou alguns cineastas, como Vittorio de Sica em Il tetto (1954). Em 1956, regressou à cidade de Santa Fe com o propósito de criar um cinema realista, nacional, popular e crítico. Com 30 anos fundou o Instituto da Cinematografia da Universidad Nacional del Litoral, mas foi acompanhado de um projeto intermediário de cinema que deu magníficos resultados: o fotodocumental; exposição sequencial de fotografias sobre um tema, John Grierson disse, referenido-se a uma exposição fotodocumental em Montevideu: “É um esplêndido exemplo do método de ensino e o primeiro que tenho visto que contribui tão simplesmente e tão bem ao aprendizado de como fazer um filme”. (Soberón Torchia, 2012, VI, p. 208).Tire dié faz parte do catálogo dos filmes produzidos pelo Instituto Nacional de Cinematografía da UNL. Existem duas versões do filme. A original, em 16 mm, realizada por estudantes de Birri e com a colaboração dos vizinhos do bairro, em preto e branco, de 59 minutos, de 1958. E a versão definitiva, gravada em 35 mm, em preto e branco, por Argentina Sono Film.
Esta comunicação gira em torno de um fragmento deste filme analisado por um grupo de diversos países latino-americanos, durante um curso de formação docente oferecido por um Festival de cinema de Valparaíso, Chile. O formato dado ao exercício foi o do plano comentado, inspirado na História dos planos de Alain Bergala. A metodologia consiste em editar o plano 3 vezes, mas na segunda vez, ensaiar um diálogo comentando detalhes, fixando, retrocedendo ou avançando as imagens enquanto se descreve o que vemos e escutamos, mas também imaginando, levantando hipóteses, supostos, arriscando possíveis especulações para essas imagens e sons. Para uma boa realização deste exercício, e seguindo ao poeta Manoel de Barros, que afirma que “o olho vê, a memória revê e a imaginação transvê, é preciso transver o mundo” consideramos que é preciso ver (atenção), rever (memória) e transver (imaginação), mas também “desver”, no sentido de revisar a contrapelo valores e supostos que o filme afirma (Fresquet, 20
Bibliografia
- Azulay, A. A. História potencial. São Paulo: UBU, 2024.
Birri, F. La Escuela Documental de Santa Fe. Rosario: Prehistoria Ediciones. Instituto Superior de Cine y Artes Audiovisuales de Santa Fe, 2008.
Fresquet, A. Ver-rever-transver: uma aproximação aos motivos visuais do cinema e ao plano comentado, entre outros modos de ver cinema na escola. Em: Farias Gomes, Ana Angela; Melo, Marcos Ribeiros de; e Colucci, Maria Beatriz. Cinema e Educação em Mapas Abertos. Aracaju, SE : Criação Editora, 2021.
Neil, C. et al., Instituto de Cinematografia de la Universidad Nacional del Litoral 1956-1976. Estudio histórico, memórias, catálogo de películas. Rosario: Ediciones UNL, 2022.
Quijano, A. Colonialidad del poder, eurocentrismo y América Latina. In: E. Lander (org.). La colonialidad del saber: eurocentrismo y ciências sociales. Perspectivas latino-americanas. Buenos Aires: CLACSO, 2000.
Soberón Torchia, E. Los cines de América Latina y el Caribe. La Habana. Ediciones EICTV, 2012 (Vol. I e II)