Trabalhos aprovados 2024

Ficha do Proponente

Proponente

    Aricia de Oliveira Machado (UNESPAR)

Minicurrículo

    Aricia Machado é professora colaboradora do curso de graduação em Cinema e Audiovisual da UNESPAR, lecionando as disciplinas de direção de arte e videoarte. É mestre em Cinema e Artes do Vídeo (PPG-CINEAV) – linha de pesquisa em Processos de Criação no Cinema e nas Artes do Vídeo – pela Universidade Estadual do Paraná (Unespar), e é mestre em Ecologia e Evolução pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro. Aricia é diretora de Arte e membro do BRADA, Coletivo de diretoras de arte do Brasil.

Coautor

    Fábio Jabur de Noronha (UNESPAR)

Ficha do Trabalho

Título

    Processos da direção de arte: Rodrigo Martirena em a A Vida Invisível

Seminário

    Estética e teoria da direção de arte audiovisual

Formato

    Presencial

Resumo

    O trabalho expõe e analisa o processo do diretor de arte Rodrigo Martirena no filme A Vida Invisível (2019) dirigido por Karim Aïgnouz. Leva em consideração as soluções propostas por Martirena, contadas em entrevista inédita, frente a limites orçamentários. É possível, então, identificar a capacidade e o trabalho de storytelling do diretor de arte, que precisou, sobretudo, entender a narrativa e seus personagens para, não só, dar suporte à ela, mas acentuar seu caráter envolvente.

Resumo expandido

    Nosso argumento geral é de que o papel do diretor de arte deve ser observado nos estudos de desenvolvimento e produção cinematográfica, ele fornece grande valor para o campo, pois é uma função que cria e formaliza conceitos, da pré-produção à produção.
    O trabalho expõe e analisa o processo do diretor de arte Rodrigo Martirena no filme A Vida Invisível (2019) dirigido por Karim Aïnouz. O filme é inspirado no romance de Martha Batalha (2016) e conta a história de duas irmãs, no Rio de Janeiro dos anos 1950, Eurídice de 18 anos e Guida de 20. O filme é uma co-produção entre Brasil e Alemanha e ganhou diversos prêmios, entre eles o Un Certain Regard em Cannes (2019). A partir de entrevista concedida pelo diretor de arte em 25/09/2023, delineamos suas escolhas estéticas e processuais e as implicações destas para visualidade do filme. Nesta análise, os desenhos e moodboards ajudam a entender o trabalho de Martirena nas etapas fílmicas; um modo de operação fluido e vivo onde o diretor de arte expande o universo criado, baseado no roteiro, nas decisões da direção e da produção do filme. É possível destacar, principalmente, a capacidade e o trabalho de storytelling de Martirena. Ele precisou, sobretudo, entender a narrativa e seus personagens para, não só, dar suporte à ela, torná-la crível, mas acentuar seu caráter envolvente.
    Os documentos de processo expõem não só a pesquisa da época diegética do filme, mas a visão e interpretação da narrativa por Martirena, e deixam claro, pelas imagens nas pranchas da proposta conceitual, o destaque à colaboração em rede de apoio entre mulheres e um distanciamento e apatia das figuras masculinas ali retratadas. O conceito visual, então, sustenta bem a narrativa do filme: a história de duas irmãs separadas por um contexto patriarcal.
    Além disso, é possível observar na sua proposta conceitual ideias de solidão e memória: fotografias revelam espaços com poucos mobiliários e paredes vazias que presentificam o corpo humano e o espaço em si. Martirena ressalta em sua entrevista que os espaços são reflexos dos seus personagens. A ideia de ‘’produção de presença” de John H. U. Gumbrecht (2010) aponta para todos estes tipos de eventos e processos nos quais se inicia ou se intensifica o impacto dos objetos presentes sobre os corpos humanos.
    Entendemos que a pesquisa e criação do conceito são operações determinantes para que o diretor de arte lide com os limites da sua criação. É nas questões de equilíbrio entre recurso financeiro e dramaturgia que a ”mão” do diretor de arte pode ser entendida como determinante, pois dá suporte necessário e valoriza a narrativa e os recursos da produção. Essa ”mão” compreende a bagagem cultural do diretor de arte, o reconhecimento do peso dramático das cenas e seu saber tácito, que envolve a previsão do trabalho e do dinheiro que se gastaria para determinados cenários. Podemos pensar, com Les Roberts (2012), em uma ”geografia cinematográfica” como uma abordagem interdisciplinar que reflete a relação entre filmes ou séries dramáticas de televisão e a cidade ou local geográfico onde são filmados.
    Martirena lidou com as características espaço-visuais das locações e propôs mudanças de cenários para algumas cenas, criando códigos visuais, conceitos ou histórias coerentes com sua interpretação da narrativa. Seria possível, então, falar do diretor de arte como um artista executivo e co-autor de um universo e de uma situação (provocativa, plástica e concreta) para que o filme aconteça.

Bibliografia

    Blandford, Steven and McElroy, Ruth (2011). Promoting Public Service? Branding, Place and BBC Cymru Wales’ Idents, Promos and Trailers. In: Journal of British Cinema and Television (8.3) pp. 392–410, Edinburgh University Press
    Roberts, Les (2012). Film, Mobility and Urban Space – a Cinematic Geography of Liverpool. Lancaster, Liverpool University Press.
    Wille, J. I. E Waade, A. M. (2016). Production Design and Location in the Danish Television Drama Series The Legacy | Kosmorama pp. 1-16.
    Gumbrecht, H.U. A (2010). produção de presença, o que o sentido não consegue transmitir. Rio de Janeiro: Contraponto.