Trabalhos aprovados 2024

Ficha do Proponente

Proponente

    Fabián Rodrigo Magioli Núñez (UFF)

Minicurrículo

    Professor Associado do Departamento de Cinema e Vídeo da Universidade Federal Fluminense (UFF), onde também é credenciado ao Programa de Pós-Graduação em Cinema e Audiovisual (PPGCine). É líder do grupo de pesquisa CNPq Plataforma de Reflexão sobre o Audiovisual Latino-Americano (PRALA) e pesquisador vinculado ao Laboratório Universitário de Preservação Audiovisual (LUPA).

Ficha do Trabalho

Título

    O cinema “periférico” de Campusano e Queirós

Seminário

    Cinema e audiovisual na América Latina: novas perspectivas epistêmicas, estéticas e geopolíticas

Formato

    Presencial

Resumo

    A partir das reflexões sobre a cidade neoliberal e globalizada dos dias atuais, em consonância com o conceito de “arena cultural” de Morse, pretendemos realizar uma análise comparativa das obras de dois cineastas latino-americanos contemporâneos, a saber, o argentino José Celestino Campusano e o brasileiro Adirley Queirós.

Resumo expandido

    Autores como Barrenha e Depetris Chauvin sublinham o chamado “giro espacial” que o pensamento contemporâneo sofreu nas últimas décadas. Não apenas se deve ao “giro cultural” sofrido pela geografia, mas também de uma transformação no campo das ciências sociais e humanas, ao inter-relacionar espaço, saber e poder. Sob a influência de Foucault e Deleuze, podemos encontrar nos últimos anos todo um vasto campo de reflexão a partir do conceito de espaço para pensar as relações cognitivas e sociais. No campo audiovisual, tais reflexões também ganharam relevância, em especial, para estudar o cinema contemporâneo. E por este viés, podemos encontrar estudos sobre a cidade no cinema latino-americano contemporâneo.

    Morse formula o seu conceito de arena cultural ao entender as cidades “periféricas” – sim, entre aspas, pois Morse problematiza esse jogo entre centro e periferia – como “cadinhos da modernidade”. Assim, seguindo Morse, entendemos o cinema como um dos agentes importantes dentro do jogo de forças que forma tal arena. Por outro lado, tampouco estamos preocupados em analisar a representação da cidade nos filmes, ao buscar saber se tais obras são fiéis ou não à cidade “real”, mas analisar como os debates sobre o espaço urbano se apresentam nos filmes, entendendo que os cineastas também são partícipes na construção desses discursos sobre a cidade. Portanto, não se trata de analisar as obras audiovisuais como simples meios de transmissão das ideias sobre a cidade, mas, voltando a repetir, a intenção é analisá-los por sua própria proposta estética já que o fazer artístico é parte constituinte da arena cultural que compõe uma cidade. Logo, a cidade que está na tela faz parte dos debates sobre o meio urbano no qual estes cineastas se encontram inseridos. Desse modo, postulamos o entendimento de um olho-urbanitas, no sentido de que o cineasta não apenas apresenta para nós, espectadores, um olhar sobre a cidade, uma determinada imagem sobre a cidade, mas também como os debates sobre a cidade se apresentam em sua obra, uma vez que o cineasta como um ser urbano, como um urbanita, é atravessado por esses discursos.

    Dipaola postula que o registro fotográfico ou a demografia populacional não dá conta das relações que constituem a cidade pós-moderna. Vários autores, como Rolnik, Harvey e Santos, frisam o quanto a cidade contemporânea, sob os efeitos do neoliberalismo e da globalização, se fragmentou com as políticas de segregação socioespacial. Assim, já não é mais possível afirmar em um projeto de cidade, uma vez que o seu território se fragmentou – e continua a se fragmentar – consideravelmente, não havendo, portanto, condições de uma experiência única e global da cidade, como frisa Dipaola. Os fluxos entre pessoas e mercadorias, o que sempre caracterizou a cidade burguesa desde as grandes reformas urbanas do século XIX, se acelerou em um alto nível, continuando a levantar barreiras, físicas ou não, aos seus indesejados.

    No entanto, apesar de entendermos as restrições de Dipaola, divergirmos de suas asseverações, uma vez que disciplinas como história urbana, geografia, demografia e ciências sociais, entre outras, são importantes para o nosso viés teórico-metodológico, embora não estejamos interessados em fazer história urbana ou análises sociais a partir dos filmes. Não encaramos os filmes como fontes, documentos ou dados sociais. Nosso propósito é refletir como a condição humana sob a experiência urbana é expressa no cinema latino-americano contemporâneo? E, por isso, nossas preocupações se aproximam das reflexões de DiPaola, ainda que partamos de caminhos teóricos distintos.

    Voltamos a interrogar: como a condição humana sob a experiência urbana é expressa no cinema latino-americano contemporâneo? Diante dessa questão, partiremos do conceito de “arena cultural” de Morse para pensarmos as obras dos cineastas José Celestino Campusano e Adirley Queirós.

Bibliografia

    DIPAOLA, E. Trayectos y performatividad: preliminares nociones para el abordaje de una imagen-espacio en el cine contemporáneo. AsAECA, 2012.

    GORELIK, A.; ARÊAS PEIXOTO, F. (Org). Cidades sul-americanas como arenas culturais. São Paulo: Sesc, 2019.

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    MARTINELLI, L. S. Crímen, sexualidad y conurbano en José Celestino Campusano. Astrolabio, 27, 2021, p. 325-341.

    MORSE. R. As cidades “periféricas” como arenas culturais:. Estudos históricos, v. 8, n. 16, 1995, p. 205-225.

    RUIZ, S.; TRIQUELL. X. (Org.). Imágenes en conflicto: construcciones audiovisuales de la conflictividad social en Argentina. Córdoba: UNC, 2019.

    SANDOVAL, L. C. Brasília e Cinema: paisagens cinemáticas. Tese de Doutorado. FAU-UnB, Brasília, 2022.