Trabalhos aprovados 2024

Ficha do Proponente

Proponente

    Álvaro André Zeini Cruz (FIB)

Minicurrículo

    Doutor e mestre em Multimeios pela UNICAMP, com doutorado-sanduíche pela University of Leeds; especialista em Roteiro pela FAAP; bacharel em Cinema pela UNESPAR. Professor nas Faculdades Integradas de Bauru. Crítico na Revista Pós-créditos.

Ficha do Trabalho

Título

    Renascer: reflexão teórica-empírica de uma crítica folhetinesca

Formato

    Presencial

Resumo

    Esta comunicação apresenta uma reflexão teórico-empírica acerca do exercício da crítica a partir da escrita diária sobre a novela Renascer. Além de um relato analítico sobre as complexas negociações acerca dessa crítica (com leitores, autores e, claro, com a própria obra), propõe-se debater a hipótese de uma crise em formato propício à telenovela — a crítica folhetinesca, cuja forma é delineada no (per)seguir diário dos capítulos desse gênero.

Resumo expandido

    Entre 2011 e 2013, pesquisei a crítica de cinema no Brasil realizada na internet desde seu início (no final dos anos 1990) até aquele momento (Cruz, 2013). A pesquisa seguinte (Cruz, 2018), entre 2014 e 2018, debruçou-se sobre a telenovela, ainda que carregasse o olhar anterior sobre a mise en scène, lançado, então, à novela Renascer. Sem uma intencionalidade prévia, esses dois estudos se encontram de maneira inédita agora, em 2024, uma vez que o lançamento da releitura de Renascer provocou-me a voltar ao objeto da tese, não propriamente pela escrita acadêmica, mas pelo exercício da crítica — isto é, pela prática do ofício analisado mestrado.
    Assumo esse “renascimento mutualista” como não premeditado, pois não houve projeto ou preparo para a efetivação desse retorno; a ocorrência se deu de forma orgânica a partir de breves comentários que escrevi sobre o capítulo de estreia, em stories no Instagram da Revista Pós-créditos (publicação dedicada à crítica que mantenho desde o doutorado). Essa escrita pontual e descompromissada — feita afoita e na afeição pela obra — acabou chamando a atenção não só dos que já acompanhavam a publicação online, como atraiu novos leitores; entre eles artistas, diretores e escritores envolvidos na obra — autores de Renascer.
    Coloca-se, portanto, uma circunstância inédita tanto ao crítico quanto à publicação: além da assinalada leitura — decodificações atestadas em compartilhamentos e comentários nas redes, que, por sua vez, sinalizavam o aguardo de novas codificações críticas —, a crítica desponta como uma zona de contato em comum e incomum, instaurada no tempo de veiculação da obra, entre crítica, crítico, autores, telespectadores e, claro, a telenovela.
    Esse novo cenário se abre como um redemoinho, que agita a mensagem na garrafa (a crítica) ao passo que levanta um turbilhão de questões. A mais imediata concerne a um reposicionamento dos textos: se antes o Instagram era estratégia auxiliar para a divulgação da revista, neste caso, a rede social toma a posição principal tanto na produção quanto na recepção desses stories diários, contendo pequenas críticas em texto. Nesse sentido, o fluxo fragmentado dessa ferramenta impulsiona um formato que, entre jornalismo, teoria e literatura (Bogado, 2023) se encontra em crise, visto o cenário de uma crítica cada vez mais atrelada aos vídeos talking heads. Mais delicada é a questão ética: se a crítica é uma carta à obra (Daney, 1993) e não exatamente aos autores, seria hipócrita dizer que ela é impermeável à recepção autoral. Da mesma forma, essa crítica não passa incólume ao fato de voltar a uma obra amada, esmiuçada outrora academicamente; agora, solta das limitações científicas.
    É nesse sentido que se propõe aqui uma extensão da reflexão iniciada no texto crítico Renascer: paixão e… lucidez?, que retoma a equação crítica proposta por Jean Douchet (1961), aplicando-a nesse contexto de inúmeras aberturas — se a novela é fundamentalmente uma obra aberta, essa crítica folhetinesca, dada diariamente na relação com leitores, autores e obra, tem o desafio de se auto fiscalizar, ou, quando for o caso, assumir o desequilíbrio da equação. Nessa luta capitular para que o amor não vire condescendência, uma hipótese se abre: é possível que o formato folhetinesco propicie a uma adesão afetiva capaz de corroborar as ideias de prolongamento da obra (Bazin, 2018) e educação (Wood, 2006) das emoções e do intelecto? Mais do que isso: não seria a crítica folhetinesca — calcada na principal narrativa ficcional brasileira — uma forma de retomar diálogos e, consequentemente, entrelaçamentos que tem se afrouxado no modelo de televisão generalista?
    É a partir desse estudo empírico que a presente comunicação reflete acerca dessa escrita sobre Renascer, especulando caminhos para uma crítica de telenovela que interseccione meios, espectatorialidades, obras, e essa escrita fragmentada, que, ao (per)seguir a exibição, renegocia abertamente — e diariamente — a dicotomia paixão e lucidez.

Bibliografia

    BAZIN, André. O que é o cinema?. São Paulo: Ubu Editora, 2018.
    BOGADO, Maria. Crítica é conversa. In: RODRIGUES, Laécio Ricardo de Aquino (org.). Crítica e curadoria em cinema: múltiplas abordagens. Belo Horizonte: Ufmg, 2023. p. 141-154.
    CRUZ, Álvaro André Zeini. A crítica cinematográfica na internet. 2013. Dissertação (mestrado) – Unicamp, Instituto de Artes, Campinas, SP.
    ___, Álvaro André Zeini. “Renascer”: narrativa cordial e estilo maneirista na telenovela brasileira. 2018. Tese (doutorado) – Unicamp, Instituto de Artes, Campinas, SP.
    ___, Álvaro André Zeini. Renascer: paixão e… lucidez?. 2024. Disponível em: https://revistaposcreditos.com/renascer-paixao-e-lucidez/. Acesso em: 28 mar. 2024.
    DANEY, Serge. A Derrota do pensamento (crítico). 1993. Tradução de Calac Nogueira. Acesso em: 28 mar. 2024.
    DOUCHET, Jean. A arte de amar. 1961. Tradução de Ruy Gardnier. Acesso em: 28 mar. 2024.
    WOOD, Robin. Personal views: Explorations in film. Detroit: Wayne State University Press, 2006