Ficha do Proponente
Proponente
- Catarina Andrade (UFPE)
Minicurrículo
- Doutora em Comunicação/Cinema (PPGCOM/UFPE). Professora do Departamento de Letras da UFPE. Professora e pesquisadora no Programa de Pós-graduação em Comunicação (PPGCOM-UFPE) e colaboradora no Programa de Pós-graduação em Letras (PPGL-UFPE), atuando principalmente nas áreas de Estética do Audiovisual, Cinema e Literatura, Cinema e Educação. Vice-líder do Grupo de Pesquisa LEVE – Laboratório de Experiência Visualidade e Educação.
Coautor
- Álvaro Renan José de Brito Alves (Sem vínculo)
Ficha do Trabalho
Título
- Transver as imagens – gestos possíveis do ensaísmo em cinema-educação
Formato
- Presencial
Resumo
- Esta comunicação reflete sobre experimentações com o audiovisual, envolvendo grupos de oficinas, a partir de discussões no âmbito do grupo de pesquisa Laboratório de Experiência, Visualidades e Educação (LEVE/UFPE). Diante da articulação do dispositivo Fotografias narradas com a proposta Une minute pour une image (Agnès Varda, 1982), tratamos de atribuir sentidos aos gestos de fabulação dos participantes, buscando em uma “experiência de emancipação” caminhos para uma decolonialidade do olhar.
Resumo expandido
- Esta comunicação reflete sobre experimentações com o audiovisual em sala de aula (MIGLORIN, 2014; MIGLORIN;PIPANO, 2019) – envolvendo grupos de oficinas e minicursos, a partir das discussões realizadas no âmbito do grupo de pesquisa Laboratório de Experiência, Visualidades e Educação (LEVE/UFPE), buscando tecer uma forma de pensar o audiovisual e a educação cotejando os conceitos de emancipação, de Jacques Rancière, e de experiência, de Jorge Larrosa. Diante de uma articulação do dispositivo Fotografias narradas, encontrado no caderno do Inventar com a Diferença – projeto de formação pedagógica em práticas audiovisuais para a educação –, com a proposta de Agnès Varda, em Une minute pour une image, tratamos de atribuir sentidos aos gestos de fabulação dos participantes. Queremos, pois, compreender de que modo podemos pensar com o cinema, tendo como ponto de chegada uma “experiência de emancipação”, pode contribuir para uma decolonialidade do olhar.
A sala de aula é – ou deveria ser – um lugar privilegiado para a experimentação, para a transformação dos sujeitos – tanto discentes quanto docentes. É o terreno fértil para se re-pensar o eu e o outro no mundo, re-elaborar as maneiras de habitar e partilhar o mundo, ou seja, é o lugar onde podemos semear a decolonização do ser, do saber e do poder (BALLESTRIN, 2013; ALBÁN, 2013). Pensar com a arte – e com o experimentar dentro do âmbito do sensível – nos dá condições de nos re-posicionarmos, buscando entender nossas escolhas e nos transformando a partir delas.
Sustentamos nosso desejo de trazer o cinema para a sala de aula como um motor para a emancipação. Duas obras do filósofo francês Jacques Rancière nos são caras nesse sentido: O mestre ignorante – cinco lições sobre a emancipação intelectual (2011) e O espectador emancipado (2012). Para Rancière, “a emancipação intelectual é a comprovação da igualdade das inteligências” (2012, p.14) e, para o espectador, a emancipação “começa quando se questiona a oposição entre olhar e agir, quando se compreende que as evidências que assim estruturam as relações do dizer, do ver e do fazer pertencem à estrutura da dominação e da sujeição” (2012, p.17). Na esteira de Jorge Larrosa (2002) tomamos a experiência como fundação de saber em termos de uma interrupção do fluxo da realidade. Se, por um lado, a imaginação inerva a experiência, por outro, a experiência se dá na carne do real. Larrosa propõe um saber da experiência como alternativa à pedagogia entendida seja como ciência aplicada, seja como práxis crítica. O que nos interessa é a sua definição de experiência como aquilo “que nos passa” que se funda na duração do tempo e na disponibilidade exercitada nos sujeitos para ver, ouvir, perceber, sentir e conhecer as coisas (2002, p.21-24). Interessa aqui perceber o cinema como um produtor de experiência que desloca a consciência de ser e estar, a ideia de sujeito, em direção à alteridade e ao desconhecido. Por outro lado, o saber fundado na experiência é também um saber dos sentidos, aquém ou além da cognição do mundo.
Dentre as atividades recolhidas durante a experiência proposta ao PET/Letras-UFPE (Programa de Educação Tutorial), realizada em agosto de 2023, identificamos alguns gestos e características típicas da prática ensaística no cinema, bem como do cinema experimental. Enumeramos alguns desses gestos, informando como articulam imagem e palavra para produzir um pensamento polifônico, dialógico, proteiforme, descentralizado e polissêmico, operando um deslocamento ou passagem entre o documentário e o experimental. Importa, contudo, entender como esses gestos podem ser acionados em propostas de educação não centradas em uma monocultura da razão, na esteira de Luiz Rufino (2019). As imagens propostas borram o limiar do visível e da figurabilidade, provocando deslocamentos nas formas corriqueiras de inteligibilidade do olhar.
Bibliografia
- ALBÁN, Adolfo. Pedagogías de la re-existencia, artistas indígenas y afrocolombianos. In: WALSH, Catherine. Pedagogías decoloniales: Prácticas insurgentes de resistir, (re)existir y (re)vivir. Tomo 1. Quito: Abya Yala, 2013.
BALLESTRIN, Luciana. América Latina e o giro decolonial. Revista Brasileira de Ciência Política, nº11. Brasília, pp. 89-117, maio – agosto de 2013.
LARROSA, Jorge Bondía. Notas sobre a experiência e o saber de experiência. Rev. Bras. Educ. 2002, n.19, pp.20-28.
MIGLORIN, Cezar. O ensino de cinema e a experiência do filme-carta. E-Compós 17(1). https://doi.org/10.30962/ec.1045, 2014.
MIGLIORIN, Cezar; PIPANO, Isaac. Cinema de Brincar. Belo Horizonte: Relicário, 2019.
RANCIÈRE, Jacques. O espectador emancipado. Tradução: Ivone C. Benedetti. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2012.
RANCIÈRE, Jacques. O mestre ignorante. Tradução: Lílian Do Valle. 1a ed. [s.l.] São Paulo: Autêntica, 2002.
RUFINO, Luiz. Pedagogia das encruzilhadas. Mórula: Rio de Janeiro, 2019.