Trabalhos aprovados 2024

Ficha do Proponente

Proponente

    Frederico Franco (UNESPAR)

Minicurrículo

    Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Cinema e Artes do Vídeo (PPG-CINEAV) da Universidade Estadual do Paraná (Unespar), vinculado à linha de pesquisa Teorias e Discursos no Cinema e nas Artes do Vídeo. Membro do grupo de pesquisa Navis (Unespar/FAP/CNPq). Graduado em Realização Audiovisual pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos). A atual pesquisa versa sobre as relações estético-políticas entre cinema experimental brasileiro e artes visuais ao longo dos anos 1960 e 1970.

Ficha do Trabalho

Título

    Recortes tropicalistas em Sentença de Deus (1972), de Ivan Cardoso

Seminário

    Cinema experimental: histórias, teorias e poéticas

Formato

    Presencial

Resumo

    O presente trabalho trata-se de uma análise fílmica do filme Sentença de Deus, de Ivan Cardoso, a partir de sua relação estética e política com o movimento tropicalista – tanto na música quanto nas artes visuais. O objeto de estudo será contemplado a partir da leitura de textos de Celso Favaretto, Marcos Napolitano e Frederico Coelho, a fim de compreender como essa intersecção estética se coloca, também, como um ativo político frente à realidade dos anos 1960 e início da década de 1970.

Resumo expandido

    A segunda metade da década de 1960 ficou marcado pelo endurecimento do mecanismo estatal repressivo e, também, pelo desenvolvimento massivo de inúmeras expressões de arte de vanguarda. O ano de 1967, no entanto, surge como principal ponto de ancoragem temporal para compreender a produção artística do Brasil. Alguns dos eventos centrais do ano são: a primeira encenação de O Rei da Vela, de Oswald de Andrade, feita por José Celso Martinez, o surgimento do Cinema Novo e a exposição Nova Objetividade Brasileira, seguida pelo texto Esquema Geral da Nova Objetividade de Hélio Oiticica. É neste último acontecimento que ganha fama a construção Tropicália, idealizada e construída por Oiticica.

    Tropicália, de Hélio Oiticica, responsável por dar nome ao movimento artístico aqui contemplado, evoca diretamente alguns principais pontos estéticos que se refletem em momentos subsequentes. O cerne da construção é trazer, ao mesmo tempo, características de uma estética exclusivamente brasileira e recursos visuais inspirados pela pop art e outras experimentações vindas do exterior. Seu jogo de ambiguidades entre o primitivo e o moderno – as plantas, a areia, versus a televisão – são, possivelmente, seu principal ponto discursivo, sendo levado a diversas esferas culturais

    O mesmo ano de 1967 também marca o desenvolvimento do movimento tropicalista na esfera musical. No III Festival de Música Popular Brasileira da TV Record, nomes como Caetano Veloso e Gilberto Gil ganham destaque ao apresentar estilos musicais até então inéditos dentro do cenário brasileiro.

    Tratando temática atuais e as misturando com novas interpretações da antropofagia oswaldiana dos anos 1920, o tropicalismo logo estendeu seu alcance para outros diversos ramos da produção artística e intelectual. Através de ambiguidades e uma espécie de espírito de colagem, as principais propostas estéticas do tropicalismo naturalmente se desprendem do centro musical, encontrando seu caminho em atitudes estéticas que ultrapassam o campo artístico e se tornando um estilo de vida baseado em princípios contraculturais

    Passado o ano de 1967, são notados novos trabalhos diretamente influenciados pela arte tropicalista. A manifestação artística Apocalipopótes, também coordenada por Hélio Oiticica, o icônico Bandido da Luz Vermelha, de Sganzerla, e o surgimento de nomes como Jards Macalé e Waly Salomão são alguns resultados do impacto direto do tropicalismo na cultura brasileira.

    O presente trabalho busca dar conta de uma análise fílmica de Sentença de Deus a partir de algumas características vitais da estética tropicalista – musical ou não. O filme, desse modo, poderá vir a se tornar uma ponte entre os debates levantados pela tropicália e a esfera fílmica para além do cinema marginal, lançando seus limites até o cinema experimental brasileiro.

Bibliografia

    COELHO, Frederico. Eu, brasileiro, confesso minha culpa e meu pecado: cultura marginal no Brasil das décadas de 1960 e 1970. 1ª ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2010.

    FAVARETTO, Celso. Tropicália: alegoria, alegria. 3ª ed. Cotia: Ateliê Editorial, 2000. 

    FAVARETTO, Celso. O jogo com a ambivalência na Tropicália. Artcultura: Revista de História, Cultura e Arte, v. 23, n. 42, p. 247-258, 2021.

    NAPOLITANO, Marcos; VILLAÇA, Mariana Martins. Tropicalismo: as relíquias do Brasil em debate. Revista brasileira de História, v. 18, p. 53-75, 1998.

    SGANZERLA, Rogério. Por um cinema sem limites. 1ª ed. Rio de Janeiro: Azougue Editorial, 2001.

    XAVIER, Ismail. Alegorias do subdesenvolvimento: cinema novo, tropicalismo, cinema marginal. 2ª ed. São Paulo: Cosac Naify, 2012.