Trabalhos aprovados 2024

Ficha do Proponente

Proponente

    Adil Giovanni Lepri (UFBA)

Minicurrículo

    É professor adjunto da Faculdade de Comunicação da UFBA. Possui doutorado pelo Programa de Pós Graduação em Cinema e Audiovisual da Universidade Federal Fluminense e mestrado em Comunicação pela mesma instituição. É pesquisador do Grupo (An)arqueologias do sensível (UFBA) e do Nex – Núcleo de Estudos do Excesso nas Narrativas Audiovisuais (UFF) onde desenvolve pesquisas na área de cinema, particularmente no campo do audiovisual nas plataformas de redes sociais.

Ficha do Trabalho

Título

    O que é um vídeo “satisfatório”? Uma análise do ASMR visual no TikTok

Formato

    Presencial

Resumo

    A comunicação propõe um estudo inicial e exploratório dos vídeos ASMR no TikTok, coletados por meio do método de raspagem da web a partir da busca pela tag #satisfying. Com base nos conceitos de prazer visual (MULVEY, 1975) e visualidade háptica (MARKS, 2000) a análise revela uma grande diversidade nas estratégias poéticas dos vídeos, mas que se unificam em torno do foco no apelo a “tatilidade” dos objetos retratados e as ações empreendidas.

Resumo expandido

    Esta comunicação se propõe a fazer um estudo exploratório e inicial categoria de conteúdo audiovisual ligada aos vídeos de ASMR conforme ela aparece na plataforma TikTok. A sigla em inglês ASMR se refere ao fenômeno da Resposta Sensorial Meridiana Autônoma e é descrito como uma reação positiva a certos estímulos auditivos ou visuais (ZAPPAVIGNA, 2023).
    Por meio do método de raspagem da web com o auxílio do aplicativo Apify foram coletados 50 vídeos a partir da busca pela tag #satisfying. A escolha desta tag em especial decorre do contato prolongado do autor com a plataforma e a interação casual com vídeos da categoria em questão, percebendo sua recorrência nas obras assistidas. Deste corpus foram escolhidos de maneira aleatória 10 vídeos para realização de uma análise fílmica mais detalhada. Esta análise foi pensada em diálogo com os conceitos de prazer visual (MULVEY, 1975) e visualidade háptica (MARKS, 2000) levando em conta as leituras feitas por Baltar (2023) e Vieira Jr. (2015), respectivamente.
    O aspecto mais importante da reflexão de Mulvey (1975) para a análise dos vídeos ASMR é sua percepção sobre como o cinema oferece para o espectador um prazer no olhar em si, que ela chama de escopofilia, em diálogo com o pensamento de Freud. Baltar (2023) mobiliza o conceito por meio da leitura de Bukatman (2006) do texto original. De caráter menos psicanalítico, a leitura do autor vai entrelaçar a ideia de prazer visual com o cinema de atrações (GUNNING, 2006) em sua capacidade de interromper o tecido narrativo, por meio da “força excessiva das performances dos corpos nas telas” (BALTAR, 2023, p. 12. Nesse sentido, algo que emerge a partir da análise dos vídeos é que, mesmo em sua grande diversidade, sempre chamam atenção para o caráter de espetáculo em si. Os vídeos focam nas suas qualidades visuais e constituem um fluxo em si, algoritmicamente elaborado e perceptualmente infinito para o espectador que pode ficar constantemente “arrastando para cima” e vendo novas obras diferentes, mas similares em seu efeito “escopofílico”. Aspecto que as aproxima tematicamente do cinema de atrações em sua dimensão contextual, como filmes que funcionavam a partir de uma lógica de programação disjuntiva (Hansen, 1995).
    A ideia de visualidade háptica (MARKS, 2000) implica em uma qualidade da imagem de suscitar respostas táteis ao espectador, ou pelo menos sugerir uma certa textura ao que é visto. Para Vieira Jr., é “outra pedagogia do visual e do sonoro, muitas vezes aliado a certa dose de tatilidade na imagem” (p. 1221), que convida a aprender novamente a ver e ouvir filmes. Nos vídeos analisados emerge essa característica de maneira variada, mas fundamental ao seu funcionamento, frequentemente trazendo planos próximos de objetos com texturas e qualidades específicas, além de um destaque especial a dimensão sonora da interação entre diferentes objetos e materiais. Este último aspecto pode inclusive ser pensado pelo prisma da escuta háptica, proposta por Marks (2000), como uma tendência a escutar sonos específicos em meio a um panorama sonoro ambiental. Nos vídeos de ASMR, mesmo aqueles que tem a visualidade como seu princípio formal básico, a sonoridade também joga um papel importante, mas contrariamente ao sugerido por Marks (2000), não há a emergência de sons específicos em meio a uma sonoridade mais ampla, mas sim um hiper foco em uma sonoridade específica e frequentemente captada com extremo detalhe.
    A análise a partir deste primeiro contato com a categoria revela um conjunto de vídeos diverso em temática e conteúdo, mas unificado em torno de uma certa característica de prazer no olhar por meio sobretudo da ativação da visualidade háptica, resumido pelo termo satisfatório (satisfying). A pesquisa é inicial e pouco representativa do objeto mas aponta para alguns caminhos de investigação do fenômeno a partir do campo de estudos do cinema e audiovisual.

Bibliografia

    BALTAR, Mariana. Corpo e afeto: atualizações do regime de atrações no cinema brasileiro contemporâneo. Aniki, v. 10, n. 2, p. 4–28, 2023.
    GUNNING, Tom. “The Cinema of Attraction[s]: Early Film, Its Spectator and the Avant-Garde” In STRAUVEN, Wanda (org.). The cinema of attractions reloaded. Amsterdam University Press, 2006.
    HANSEN, Miriam. Early cinema, late cinema: transformations of the public sphere. Viewing positions: Ways of seeing film, 134-52, 1995.
    MARKS, Laura U. The skin of the film: intercultural cinema, embodiment, and the senses. Durham: Duke University Press, 2000.
    MULVEY, Laura. Visual pleasure and narrative cinema.pdf. Screen, v. 16, n. 3, 1975.
    VIEIRA JR, Erly. Por uma exploração sensorial e afetiva do real: esboços sobre a dimensão háptica do cinema contemporâneo. FAMECOS, 2015.
    ZAPPAVIGNA, Michele. Digital intimacy and ambient embodied copresence in YouTube videos. Visual Communication, v. 22, n. 2, p. 297–321, 2023.