Ficha do Proponente
Proponente
- Suzana Reck Miranda (UFSCar)
Minicurrículo
- Bacharel em música (piano) pela UFSM, mestre e doutora em Multimeios (cinema) pela UNICAMP.
Professora Associada do Departamento de Artes e Comunicação (DAC) e do Programa de Pós-Graduação em Imagem e Som (PPGIS), ambos da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). É pesquisadora e autora de vários textos (artigos e capítulos de livros) sobre som e música no cinema.
Coautor
- GEÓRGIA CYNARA COELHO DE SOUZA (UEG / UFG)
Ficha do Trabalho
Título
- As trilhas delas a partir da Retomada
Seminário
- Estilo e som no audiovisual
Formato
- Presencial
Resumo
- Nesta comunicação, apresentaremos resultados parciais de uma pesquisa em andamento que pretende evidenciar as mulheres que compõem trilhas musicais para o cinema brasileiro e retirá-las de uma histórica invisibilidade. O objetivo é mapear o tamanho da desigualdade de gênero e refletir sobre o que tem impedido que estas compositoras se consolidem em um domínio majoritariamente ocupado por homens. O recorte, desta vez, compreende filmes de longa-metragem lançados comercialmente entre 1995 e 2009.
Resumo expandido
- Nesta comunicação, apresentaremos resultados parciais de uma pesquisa que pretende evidenciar as mulheres que compõem trilhas musicais para o cinema brasileiro e retirá-las de uma histórica invisibilidade. O objetivo principal é mapear o tamanho da desigualdade de gênero nesta função e refletir sobre o que tem impedido que estas compositoras se consolidem em um domínio majoritariamente ocupado por homens. O recorte, desta vez, compreende filmes de longa-metragem lançados comercialmente entre 1995 e 2009.
A pesquisa também almeja incluir a criação de música para filmes no debate sobre a disparidade de gênero na produção cinematográfica no Brasil e, por outro lado, reforçar que a trilha musical é sim uma função relevante dentro da cadeia produtiva do audiovisual e que não deve ser minimizada nos mapeamentos e pesquisas sobre o cinema de um modo geral. Em particular, nos interessa também pensar a trilha musical em conexão com abordagens do cinema via perspectivas feministas.
Em circulação desde os anos 1970, estas abordagens, de um modo geral, se instauraram a partir da IMAGEM e a priorizaram, principalmente pelo fato de, como pontua Anneke Smelik (2007), aspectos ligados à representação e ao ato de olhar/assistir são temas cruciais para várias autoras feministas. Resumidamente, as primeiras teorizações dedicaram-se a criticar o modo como o cinema clássico hollywoodiano construiu a imagem de uma mulher ideal e a objetificou – ao explorar o desejo de olhar e os processos de identificação com personagens masculinos ativos e relegar às personagens femininas papéis passivos. Anos após, novas perspectivas surgiram relativas ao modo como muitos filmes reproduzem narrativas opressoras às mulheres, bem como ampliaram a reflexão sobre subjetividade e identificação feminina, além do debate sobre possibilidades (ou impossibilidades) de um olhar feminino. Ainda assim, a imagem e a representação do olhar continuam no centro do debate – mesmo nos estudos feministas posteriores, aqueles mais críticos a ideias “genéricas” sobre a natureza da espectadora mulher, sobre a tendência em levar em conta um público branco e em desconsiderar prazeres/identificações lésbicas.
Neste contexto, os aspectos sonoros são pouco mencionados. Entretanto, as poucas reflexões existentes atestam sua indubitável relevância. Mary Ann Doane (1984; 1987; 2000), por exemplo, ao refletir sobre a representação da subjetividade feminina, nunca deixou de pontuar que a voz over e a música são instâncias estratégicas na configuração da interioridade das personagens, assim como as expressões faciais, o movimento dos olhos, o plano ponto de vista, o uso de dispositivos ópticos, entre outros.
Kaja Silverman (1988) é quem de fato aprofunda os estudos sobre a voz no cinema a partir de uma abordagem feminista. Entre outras coisas, ela sustenta que o cinema clássico hollywoodiano opera num modelo textual que aprisiona a voz e o corpo feminino no interior da diegese, enquanto que ao personagem/sujeito masculino é permitido assumir posições discursivas exteriores.
Em relação à trilha musical, estudos de fôlego que a enfocam a partir de uma perspectiva feminista ainda são raros, dentre os quais se destacam os livros de Caryl Flinn (1992) e de Heather Laing (2007). Ambos empreendem uma investigação crítica de como a música, no cinema clássico hollywoodiano, também reforça a lógica patriarcal e reproduz hierarquias e estereótipos de gênero. Em estudos similares, inclusive com filmes não hollywoodianos e de distintas épocas, percebe-se que a trilha musical analisada geralmente foi composta por homens. Análises que priorizem trilhas de mulheres ainda são raras. Na verdade, o interesse em observar a disparidade de gênero na autoria das músicas de cinema é muito recente, o que evidentemente resulta na ausência de um corpus teórico expressivo, conforme demonstraremos.
Bibliografia
- DOANE, Mary Ann. The “Woman’s Film”: Possession and Address. In: DOANE, Mary Ann; MELLENCAMP, Patricia; WILLIAMS, Linda (Ed.). Re-Vision: Essays in Feminist Film Criticism. Los Angeles: American Film Institute, 1984, p. 67-82.
DOANE, Mary Ann. The Desire to Desire: The Woman’s Film of the 1940s. Bloomington : Indiana University Press, 1987.
FLINN, Caryl. Strains of Utopia: Nostalgia, Gender, and Hollywood Film Music. Princeton: Princeton University Press, 1992.
LAING, Heather. The Gendered Score: Music in 1940s Melodrama and the Woman’s Film (Ashgate, 2007).
SILVERMAN, Kaja. The Acoustic Mirror: The Female Voice in Psychoanalysis and Cinema. Bloomington, Indiana University Press, 1988.
SMELIK, Anneke. “Feminist Film Theory” in: In P. Cook, & M. Bernink (Eds.), The cinema book (3rd ed.). London: British Film Institute, 2007, pp. 353-365.