Ficha do Proponente
Proponente
- NEZI HEVERTON CAMPOS DE OLIVEIRA (COC)
Minicurrículo
- Possui graduação em Cinema pela Universidade de São Paulo (1994), mestrado em Ciências da Comunicação pela Universidade de São Paulo (2006) e doutorado em Cinema e Audiovisual pela Universidade Federal Fluminense (2022). É assessor da Direção da Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz, onde atua nas áreas do Patrimônio Cultural, da Divulgação Científica e da Produção Audiovisual. É curador da Mostra de Filmes “Memória em Movimento”, evento integrante da Semana Fluminense do Patrimônio.
Ficha do Trabalho
Título
- “Cinema Novo and Beyond”: mostra do cinema brasileiro (1998)
Seminário
- Festivais e mostras de cinema e audiovisual
Formato
- Presencial
Resumo
- Este trabalho busca analisar a programação da mostra retrospectiva “Cinema Novo and Beyond” realizada em 1988 no Museu de Arte Moderna de Nova Yorque. A partir de uma abordagem histórica, o objetivo é discutir os critérios que balizaram a seleção dos filmes exibidos nesse evento num momento em que críticos e cineastas promoviam uma espécie de acerto de contas com o passado, promovendo um redimensionamento do legado do Cinema Novo na trajetória da cinematografia brasileira.
Resumo expandido
- A mostra “Cinema Novo and Beyond” aconteceu no Museu de Arte Moderna de Nova Iorque entre 13 de novembro de 1998 a 22 de janeiro de 1999. O evento foi uma iniciativa de Jytte Jensen, uma das curadoras do Departamento de Filme e Vídeo da instituição nova-iorquina. Para realizar a seleção dos filmes, ela contou com a colaboração de José Carlos Avellar e Ismail Xavier. O cardápio incluiu 60 longas e 15 curtas-metragens realizados entre 1960 e 1997. Os dois filmes mais antigos exibidos foram Bahia de todos os santos de Trigueirinho Neto e Aruanda de Linduarte Noronha, ambos de 1960. A exibição de filmes brasileiros mais contemporâneos buscou caracterizar a diversidade da produção, sem deixar de colocar em pauta suas conexões com o passado, seja reagindo radicalmente a ele, seja em diálogo com esse legado.
As cópias dos filmes mais recentes foram cedidas pela distribuidora Riofilme, mas a grande maioria das cópias exibidas foram confeccionadas pelo Laboratório da Cinemateca Brasileira a partir dos negativos originais ou de matrizes intermediárias. A Cinemateca também se encarregou da legendagem dos filmes e da obtenção das autorizações para exibição.
Em comparação com a retrospectiva “Cinéma Brésilien”, exibida em Paris no Centre Georges Pompidou em 1987, esta mostra apresenta uma seleção mais equilibrada e diversificada, ainda que se verifique uma predileção pelos filmes da década de 1960, com ênfase na produção do Cinema Novo.
A mostra contou com um luxuoso livro-catálogo, organizado por João Luiz Vieira, contemplando além de artigos, também fichas técnicas, biofilmografias, cronologia (1960-1998), glossário e bibliografia selecionada. Após um texto de apresentação de Jytte Jansen e um pequeno prefácio de Francisco Weffort, Ministro da Cultura à época, a publicação foi dividida em duas partes. A primeira intitulada “The Historical and Aesthetic Context” contém textos dos brasilianistas Randal Johnson e Robert Stam, além de ensaios de Ismail Xavier e José Carlos Avellar. A segunda parte, intitulada “Special Topics”, deu espaço para diferentes olhares sobre a questão cinematográfica, contando com artigos de críticos de cinema (Inácio Araújo e Carlos Alberto de Mattos), pesquisadores (João Luiz Vieira e Ivana Bentes), além de um texto da produtora Zita Carvalhosa e outro do programador Fabiano Canosa. Como nos diz Jensen no texto introdutório: “O ímpeto por trás da mostra é o desejo de reintroduzir os extraordinários, e agora clássicos, filmes dos diretores do famoso Cinema Novo, ver essas obras no contexto de outras correntes cinematográficas da época, e poder contextualizar a revitalização da cena cinematográfica na década de 1990 no Brasil.”
A partir dos filmes incluídos na programação da mostra e dos textos presentes no livro-catálogo, com destaque para os artigos de Jytte Jansen e de Randal Johnson, vamos analisar os critérios balizadores dessa seleção num momento em que críticos e cineastas brasileiros promoviam uma espécie de acerto de contas com o passado. Esse processo envolveu um redimensionamento do peso histórico e estético atribuído ao Cinema Novo na trajetória da cinematografia brasileira (as contradições do movimento, a noção problemática do popular, o paternalismo das formulações, o fracasso em alcançar um público mais amplo e diversificado, as complexas relações com o Estado, etc), advogando a necessidade de se buscar outras estratégias (narrativas, estéticas, de produção) em sintonia com as vicissitudes impostas por uma nova conjuntura política, econômica e social.
Bibliografia
- RAMOS, Fernão Pessoa (Org.). Os novos rumos do Cinema Brasileiro (1955-1970). In: RAMOS, Fernão (Org.). História do Cinema Brasileiro. São Paulo: Círculo do Livro, 1987.
SOUZA, Carlos Roberto de. A Cinemateca Brasileira e a preservação de filmes no Brasil. São Paulo, 2009. Tese (Doutorado em Ciência da Comunicação) – Escola de Comunicações e Artes, Universidade de São Paulo.
UCHÔA, Fábio Raddi. Ozualdo Candeias e o cinema de sua época (1967-83): perambulação, silêncio e erotismo. São Paulo: Alameda, 2019
VIANY, Alex. O processo do Cinema Novo. Rio de Janeiro: Aeroplano, 1999.
VIEIRA, João Luiz. Cinema Novo and Beyond. New York: The Museum of Modern Art, 1998.
XAVIER, Ismail N. O Cinema Brasileiro Moderno. São Paulo: Paz e Terra, 2001.