Trabalhos aprovados 2024

Ficha do Proponente

Proponente

    Antonio Tavares de Sousa Neto (USP)

Minicurrículo

    Bacharel em Cinema e Audiovisual (UFC) e mestrando no Programa de Pós-graduação em Artes Cênicas (PPGAC-USP), além de aluno da Escola de Arte Dramática (USP). Membro do Outro Grupo de Teatro, trabalha como ator e produtor cultural, e é um dos idealizadores do projeto “Pausa Para o Fim do Mundo”.

Ficha do Trabalho

Título

    Cinemão: o cinema que transborda a tela?

Seminário

    Tenda Cuir

Formato

    Presencial

Resumo

    Se a pornografia foi vista como lixo cultural (e ainda é) pelas teorias do cinema, recorro aos Porns Studies para pesquisar sobre os chamados “cinemões”, lugares de pegação e exibição de filmes pornográficos que, mesmo diante dos novos estudos no cinema, têm ficado muitas vezes restritos ao campo da sociologia enquanto objeto de estudo. A partir do conceito de Transcinema (Maciel, 2009) e cinema de dispositivo (Parente, 2009), me proponho a pensar o cinemão como um acontecimento cinematográfico.

Resumo expandido

    Cinemões são estabelecimentos comerciais onde há exibição de filmes pornográficos, normalmente voltados para o público masculino, e onde há ainda a prática de pegação. Antes de ir pela primeira vez a um desses estabelecimentos, fiz uma pesquisa na internet para entender como funcionavam. Essa breve busca online me levou a vários relatos publicados em blogs e redes sociais de pessoas que tiveram experiências por lá, assim como levou também a sites de exibição de vídeos pornográficos, como XVídeos, que hospedavam uma quantidade considerável de vídeos amadores de sexo explícito gravados nesses locais. Com esse elemento, havia um primeiro indicativo de como esses espectadores se relacionavam com os filmes e com aquele espaço de exibição, que se mostrava ser também um espaço de produção de imagens audiovisuais pornográficas.

    Para essa comunicação, me concentro no Cine Arena, localizado no centro de Fortaleza (CE). Uma espécie de labirinto, com pequenas salas e corredores que fazem a todo momento com que haja contato ou pelo menos proximidade entre as pessoas que estivessem lá. Essa arquitetura “atípica” para o que conhecemos como salas de cinema, formada ainda por pequenas cabines com projeções irregulares ou ainda pequenas telas de TV, com vários filmes sendo exibidos simultaneamente em compartimentos diferentes, chamou a atenção na forma que influenciava a relação com o frequentador-espectador.

    Refletir sobre a pornografia requer um olhar para sua relação com a linguagem cinematográfica, como bem nos lembra Preciado (2018). Pensar o cinemão é um dos passos para questionar os regimes pornográficos que, além do urbano e do museístico, se dão também no âmbito cinematográfico. Partindo dos Porn Studies, que tornaram possível o estudo da pornografia no âmbito das teorias do cinema, utilizo também o conceito de Transcinema de Kátia Maciel (2009), que dialoga diretamente com o de “cinema de dispositivo” de André Parente (2009), para pensar como o cinemão pode ser um importante objeto de estudo para refletir não só sobre as representações queer, feministas e dissidentes no âmbito da pornografia, mas também sobre a representação do cinema hegemônico.

    Transcinemas são experiências onde o corpo do “participador” é central na construção do espaço-tempo cinematográfico. O cinemão reinventa o dispositivo cinematográfico? Coloco essas teorias em diálogo com o cinemão para entender uma teoria cinematográfica que olha a “imagem não mais como objeto e sim como acontecimento, campo de forças ou sistema de relações que põe em jogo diferentes instâncias enunciativas, figurativas e perceptivas da imagem.” (PARENTE in MACIEL, 2009, p.23)

    Entre o escuro e a luz da tela; entre a imagem projetada e a imagem criada entre os corpos que participam da exibição; entre o discurso que se constrói dentro do espaço e a partir da tela; entre a arquitetura da caixa preta, dos labirintos e do dark room. Imagens e provocações que me surgem ao “mergulhar” no Cine Arena.

    Parto da análise desses elementos para compreender o cinemão e contribuir com os Porn Studies, ao mesmo tempo em que se pensa sobre o dispositivo cinematográfico proposto por Parente (2009), que o entende como um campo de forças e de relações de elementos heterogêneos, ao mesmo tempo técnicos, arquitetônicos, discursivos e afetivos.

Bibliografia

    FOUCAULT, Michel. História da sexualidade : a vontade de saber. Rio de Janeiro: Graal, 2001. v.1.
    MACIEL, Kátia. Transcinemas. Rio de Janeiro: Editora Contra-capa, coleção N-imagem, 2009.
    PARENTE, André. A Forma Cinema: Variações e Rupturas in MACIEL, Kátia. Transcinemas. Editora Contra-capa, coleção N-imagem, 2009.
    PRECIADO, Paul B. Museu, lixo urbano e pornografia. Revista Periódicus, [S. l.], v. 1, n. 8, p. 20–31, 2018. DOI: 10.9771/peri.v1i8.23686.
    SESTER, Eros. Em São Paulo a gente nunca sabe se poluição é neblina – Notas sobre etnografia em um “cinemão” paulistano. Primeiros Estudos, [S. l.], n. 6, p. 44-64, 2014. DOI: 10.11606/issn.2237-2423.v0i6p44-64.
    SONTAG, Susan. A imaginação Pornográfica in A Vontade Radical. tradução João roberto Martins Filho. — São Paulo: Companhia das letras, 2015.
    WILLIAMS, Linda. Porn Studies: Proliferating Pornographies On/Scene: An Introduction, Berkeley, 1998.