Ficha do Proponente
Proponente
- Allex Rodrigo Medrado Araújo (IFB/UNB)
Minicurrículo
- Doutor em Artes pela Universidade de Brasília, curta-metragista, professor do Instituto Federal de Brasília no curso técnico de Produção em Audio e Vídeo. Organizador do Festival Recanto do Cinema – audiovisual na periferia. Dadaísta-videoartista.
Ficha do Trabalho
Título
- O festival de cinema como elemento de confluência em periferias
Seminário
- Festivais e mostras de cinema e audiovisual
Formato
- Presencial
Resumo
- Este texto propõe aproximar o Festival Recanto do Cinema – audiovisual na periferia , realizado dentro de um processo formativo e de aprendizagem no IFB , com o conceito de confluência de Antônio Bispo dos Santos. Então refletir, descrever e pensar como as ações e práticas de uma comunidade escolar, periférica se une a outros coletivos e ocupações culturais e interagindo e se apropriando do festival para demarcar discursos e processos de resistência.
Resumo expandido
- A terceira edição do festival Recanto do Cinema – audiovisual na periferia, realizada em 2022 é marcado por atravessamentos de uma juventude periférica em todas as circunstâncias, e não por coincidência, mas por confluência (SANTOS, 2023) . O festival faz parte de uma prática pedagógica e integradora que visa ampliar os saberes e ações de difusão cinematográficas e outros audiovisuais. Para tanto, reúne estudantes em processos formativos, docentes, técnicos e comunidade externa, através de projeto de extensão do Instituto Federal de Brasília na feitura de um projeto que atende a um cinema possível, com recortes específicos, principalmente focados no resgate do território, alteridade e memória.
A curadoria é um grande ponto balizador para pensar a resistência e a confluência de saberes que estão dispersos no país. Há um processo insurgente na curadoria que atravessa o tempo, chega na última edição, em 2022, e convoca estudantes egressos para dialogar e auxiliar no processo formativo de novos estudantes, e assim construírem juntos a linha curatorial, o tema e a programação do festival que envolve pensar territórios, corpos, tempos e narratividades múltiplas que há muito marginalizadas, violentadas , invisibilizadas. Há fissuras, há debates acalourados, há disputas, há contradições. Mas para Antônio Bispo (2023) quando a gente confluencia, a gente não deixa de ser a gente, a gente passa a ser a gente e outra gente – a gente rende. A confluência é uma força que rende, que aumenta, que amplia.
A noção de confluência assume através do tema “Futuros imagináveis, reorganização do sensível” os saberes, imagens e práticas da cultura urbana periférica do hip hop. Além dos estudantes em diversas frentes, alguns como bolsistas, o campus Recanto das Emas, do IFB, faz parceria com o coletivo e ocupação cultural da Ceilândia, Jovem de Expressão, para a organização do evento, formado por jovens periféricos. Para o festival e para a comunidade entre os dois locais e territórios é simbólico a parceria, já que o festival de cinema se torna elo de algo que já existia e se consolida, pois o coletivo de Ceilândia oferta cursos não-formais na área de audiovisual e muitos dos seus estudantes acabam se matriculando no curso de Produção em Áudio e Vídeo do IFB Recanto das Emas, e o contrário também é verdadeiro. As duas comunidades se unem, se dividem entre produção, logística, tráfego de filmes, comunicação e vão estabelecendo essa confluência.
A confluência é um compartilhamento de ações e poéticas e ao passo que os filmes do país vão apresentando imagens-narrativas protagonizadas por mulheres, negros e negras, indígenas e pessoas LGBTQIA+, pessoas com deficiência em diversidades de situações e afetos o desenho da produção também traz esse recorte. A concepção visual do festival traz o trabalho do artista grafiteiro Oberas, com sua poética afrofuturista para cards, material impresso, vinheta e muros do campus. A programação formativa traz realizadores de outras periferias do país e do DF. As apresentações culturais trazem estudantes egressos em shows de rap, batalhas de rima, blues e artesanatos locais.
O Festival Recanto do cinema, audiovisual na periferia, não é pois, um festival de cinema periférico, denominado assim, talvez como estratégia de domínio, de minorizar, de invisibilizar, ou de criar uma narrativa e estética única. Há, portanto, uma recusa, uma desidentificação, ou ainda um processo epistemológico contra denominação compulsória. São cinemas contra colonizadores produzido por povos/pessoas contra colonizadores, ou ainda aliados ao pensamento contra colonizador. A autodenominação “audiovisual na periferia” está na busca de descentralizar, não somente, mas de ir contra o movimento centralizador, homogêneo e hegemônico. É um processo de resistir produzindo e re-produzindo imagens e outras formas de expor artisticamente a confluência territórios, corpos e tempos muito além da marginalização e violência.
Bibliografia
- SANTOS, Antônio Bispo dos, Colonização, quilombos: modos e significações, Brasília, INCT/UnB, 2015.
SANTOS, Antônio Bispo dos, A terra dá, a terra quer. São Paulo: Ubu Editora/ PISEAGRAMA, 2023.
INSTITUTO FEDERAL DE BRASÍLIA (IFB). Campus Recanto das Emas. Plano do curso Técnico de Produção de Áudio e Vídeo. Brasília, 2017.