Ficha do Proponente
Proponente
- Moacir Francisco de Sant´Ana Barros (UFMT)
Minicurrículo
- Professor do curso de Cinema e Audiovisual – UFMT. Membro do Grupo de Estudos em Cinemas e Audiovisuais. Ministra as disciplinas de Edição e Montagem e Teorias da Comunicação. Coordenou por 10 anos a Mostra de Audiovisual Universitário da América Latina (MAUAL). Participou da equipe de reformulação da programação da TV Universidade. Produziu e dirigiu a série televisiva Especial TVU, sobre eventos de cultura e arte em Mato Grosso. Fotografou o documentário Paradiso de Anibal (Diego Baraldi).
Ficha do Trabalho
Título
- Cinema mato-grossense anos 1990/2000: entre tradição e modernidade
Formato
- Presencial
Resumo
- Dois filmes mato-grossenses do período 1990/2000 perpassam uma discussão sobre a presença da cultura tradicional em diálogo com a modernidade. Trata-se de A Cilada com Cinco Morenos (1999), de Luiz Borges, e Saringangá (2001), de Marcio Moreira. Ambientados nas paisagens da Baixada Cuiabana, os filmes reforçam um sentimento de pertencimento e identidade regional por meio da valorização da sua cultura e lugares de memória, a partir da década de 1990, após a divisão do estado.
Resumo expandido
- Ao olhar para as décadas de 1990/2000 percebemos um cinema que floresce em Mato Grosso. Dois curtas metragens dessa época enfocam aspectos culturais de uma tradição regional em contato com a modernidade. Trata-se de A Cilada com Cinco Morenos (1999), de Luiz Borges e Saringangá (2001), de Marcio Moreira. Um questionamento que emerge é sobre situar os olhares dos realizadores em relação à região no qual os filmes se inserem. Assim, interessou-nos observar como eles apresentam traços da cultura popular mato-grossense? De que modo colocam em cena as personagens e suas narrativas? Em que medida dialogam com outras áreas do conhecimento e da cultura regional, como música e artes plásticas? Como o urbano e o rural, a tradição e a modernidade se entrelaçam nessas estórias enquanto ficção cinematográfica? Um primeiro aspecto presente é o que denominamos de Paisagem Fílmica (SOUZA, 2015), os elementos simbólicos paisagísticos que buscam referências no imaginário turístico da região da Baixada Cuiabana, onde as duas narrativas são encenadas, entre o Cerrado e o Pantanal. Os filmes deixam transparecer também, em alguma medida, os laços afetivos (simbólicos) que conectam esses lugares a seus realizadores e personagens. São aspectos geográficos com conexões emocionais entre seres humanos e o ambiente que os cerca introduzido no conceito de Topofilia (TUAN, 1980). Assim, o ambiente natural é visto também como agente da memória e da cultura, da experiência pessoal e sentimentos que atuam na construção de identificações com um lugar ou ambiente físico, como a região natal por exemplo. Aspecto que aparece em A Cilada com Cinco Morenos e Saringangá como afeição dos realizadores ao atribuir respeito aos valores e costumes “da terra”. A estória de Saringangá centra-se na tradição do Boi-à-Serra, na localidade de Mimoso, em Santo Antônio de Leverger. A festa é uma expressão da coletividade do lugar simbolizada na figura mítica do Boi-à-Serra. O filme narra as crendices do homem pantaneiro e seu imaginário, no qual o animal é também um sedutor de mulheres. A estória traz referências na lenda do boitatá, na mitologia do Minotauro e inspiração no trabalho do artista sul-matogrossense Umberto Espíndola e sua obra Bovinocultura. A ideia de Saringangá é manter a representação de um costume popular viva. Nesse sentido o filme cumpre também a função de perpetuar a memória de uma tradição de Mimoso. A cilada com cinco morenos mistura elementos tradicionais e urbanos para contar um pouco da história do grupo de rasqueado – ritmo cuiabano – Os Cinco Morenos. No filme há um constante diálogo entre tradição e modernidade evidenciado pela montagem. Um casal que passeia em Chapada dos Guimarães precisa encontrar os músicos para tocar numa festa com fins políticos. Constitui-se, assim, num filme no qual personagens estão em deslocamento, ultrapassando fronteiras geográficas locais e simbólicas. O diálogo entre tradição e modernidade reforça um pensamento sobre a importância de valorização da cultura popular, mas inserindo o tradicional na modernidade. É o caso da trilha sonora do filme sobrepondo o rock ao rasqueado; a presença de atores e atrizes locais e nacionais; e da montagem alternada mesclando ficção e não ficção. Há, assim, um apelo em abordar o tradicional sem deixar, no entanto, de estabelecer um forte vínculo com influências de culturas globalizadas por meio do cinema. Ao analisar os dois filmes observamos que a década de 1990 retomou um sentimento de valorização da cultura regional influenciada pela divisão do estado ocorrida em 1977. Para Romancine (2007) a cidade desperta seu olhar para a valorização da sua cultura, suas riquezas, a paisagem urbana e seus lugares de memória. E parece ser esse um ponto importante nos filmes: o do encontro de elementos urbanos e rurais de forma a reforçar um sentimento de pertencimento, de identidade regional seja pela presença musical, seja pelas personagens, seja pelas paisagens fílmicas e do próprio cinema.
Bibliografia
- BORGES, Luiz. A Pesquisa de Cinema em Mato Grosso: fontes, referências e acervos – uma experiência. IN: Cadernos de Pesquisa. Rio de Janeiro, 2010.
FIGUEIREDO, Aline. Arte aqui é mato. Cuiabá: UFMT,1990.
GUSHIKEN, Yuji & AZEVEDO, Helsio Amiro Motany de Albuquerque. Música popular e marcadores culturais na cidade contemporânea: o contexto no município de Cuiabá. Universidade da Beira Interior: Anuário Internacional de Comunicação Lusófona 2019/2020.
LIMA, Diego B. Local e global no cinema mato-grossense dos anos 90. Dissertação de mestrado em Estudos de Linguagem. UFMT, 2006.
SOUZA, Gabriel L. Paisagem, Geografia e Cinema: possibilidades para a retomada de um conceito-chave. GeoPUC – Revista da Pós-Graduação em Geografia da PUC-Rio Rio de Janeiro, v. 8, n. 15, p. 41-56, jul.-dez. 2015.
TOLENTINO, Celia. O rural no cinema brasileiro. São Paulo: Editora UNESP, 2001
TUAN, Yi-Fu. Topofilia. São Paulo: Difel, 1980.