Ficha do Proponente
Proponente
- Patrícia Adélia Rêgo Oliveira Azevedo (UFF)
Minicurrículo
- Mestranda pelo Programa de Pós-Graduação em Cinema e Audiovisual pela Universidade Federal Fluminense, possui bacharelado em Comunicação Social – Rádio e TV pela Universidade Federal do Maranhão. Atualmente pesquisa decolonialidade e documentário.
Ficha do Trabalho
Título
- Orí e AmarElo: uma análise sobre narrativas comuns da contramemória
Formato
- Presencial
Resumo
- A partir do contexto apresentado por Sueli Carneiro (2023), baseado no seu conceito de dispositivo de racialidade, o presente trabalho busca apresentar uma perspectiva histórica da cultura negra brasileira a partir dos documentários Orí (1989) e AmarElo (2020), em que dividem a percepção do negro enquanto sujeito participante da construção do Brasil para além do lugar subalterno, inferiorizado e limitante que ele é visto desde o período da escravidão.
Resumo expandido
- O movimento negro brasileiro está relacionado a um quadro social geral, atrelado principalmente a política e a cultura. Em decorrência da desumanização, oriunda da colonização, da população escravizada, tanto do povo originário quanto do povo preto, esses movimentos atuam especialmente em uma posição de luta. Essa perspectiva da cor enquanto um conceito definido só consegue ser um critério que, em tese, dá conta das diferenças sociais existentes na relação branco e negro pela existência de conceitos anteriores, em que a cor é determinante. Essa ideia racista se sustenta sob o que Sueli Carneiro (2023) entende enquanto um dispositivo de racialidade, que ao ocupar a posição de demarcar a humanidade como sinônimo de brancura, vai redefinir as diversas dimensões humanas e hierarquizá-las de acordo com a distância que possui desse padrão (CARNEIRO, 2023, p. 31).
Há um reforço nas estruturas sociais e políticas para que o povo negro continue sendo percebido de maneira inferiorizada, como coadjuvante, marcador do racismo estrutural (ALMEIDA, 2018). Partindo desse cenário, o presente trabalho pretende apontar estratégias narrativas comuns aos documentários Orí (1989) e AmarElo (2020), assim como ressaltar as especificidades de cada um, percebendo-os como filmes particulares sobre a história da cultura negra no Brasil a partir dos momentos históricos em que foram produzidos. Para alcançar esse objetivo, em um primeiro momento, faremos um resgate da história da população negra brasileira, em seguida, faremos análises nos filmes selecionados e, por fim, apontaremos as estratégias narrativas comuns entre eles.
Tanto Orí quanto AmarElo, trazem personagens das religiões de matriz africana, especialmente a figura de Exú, como aquele que é detentor da sabedoria e dos caminhos. No documentário de 1989, fala-se sobre a junção das culturas negra e indígena como sendo a verdadeira identidade do Brasil, negando a ideia de cultura que a Europa tentou incutir, como sinônimo de nobreza e superioridade apenas aquilo que corresponde à branquitude europeia.
Nos dois filmes há uma ideia que costura toda a narrativa, que é a presença no negro na construção do que se entende enquanto Brasil. Em Orí, Beatriz Nascimento narra que durante os quatro séculos de escravidão é possível notar a atuação do povo negro brasileiro como sujeito participante da sociedade, embora sua origem racial tenha sido negada em alguns momentos. Em AmarElo, Emicida destaca o surgimento do samba e sua influência cultural e social ao longo do tempo, que pode ser notado também em Orí, que aponta as escolas de samba como espaços de quilombo, assim como os terreiros.
Ambos os filmes retratam também o papel dos grupos politicos organizados, como é o caso do Movimento Negro Unificado, que durante a ditadura militar lutou contra o racismo e a violência policial direcionada ao negros. Além desse grupo, Beatriz Nascimento (2022) destaca alguns outros que se estruturaram enquanto unidade com o objetivo de firmar a cultura afro-brasileira no cenário cultural nacional, o que Nascimento considerou uma contracultura, por questionar e ir na contramão da cultura estabelecida naquele momento.
O que o documentário de Emicida apresenta, ao evidenciar pessoas como Tebas, Abdias do Nascimento e Lélia Gonzalez, é a materialização do que Beatriz Nascimento traz em um trecho de Orí sobre a urgência da imagem para recuperação da identidade, para se tornar visível. Sendo assim, dar espaço a essas pessoas e histórias possibilita que os sujeitos possam se perceber e se conectar com a própria história, reforçando o que bell hooks (2019, p.40) fala sobre enxergar a própria história como uma contramemória, “usando-a como forma de conhecer o presente e inventar o futuro”. É importante que se recupere o que Beatriz chama de conhecimento da terra, para que se entenda quilombo não mais como um espaço geográfico, mas como um direito ao próprio espaço, o direito de ser e estar de um povo.
Bibliografia
- ALMEIDA, Silvio. O que é racismo estrutural?. Belo Horizonte: Letramento, 2018.
CARNEIRO, Sueli. Dispositivo de racialidade: a construção do outro como não ser como fundamento do ser. Rio de Janeiro: Zahar, 2023.
hooks, bell. Olhares negros. São Paulo: Elefante, 2019.
NASCIMENTO, Beatriz. O negro visto por ele mesmo. São Paulo: Ubu Editora, 2022.