Ficha do Proponente
Proponente
- Maria Luiza Silva (UFMS)
Minicurrículo
- Doutoranda em Estudos Literários pela Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS), Mestra em Cinema e Artes do Vídeo pela Universidade Estadual do Paraná (Unespar) e Graduada em Cinema e Audiovisual pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Bolsista Técnica no Centro Acadêmico de Letramento e Escrita (CALE) da Universidade Estadual do Paraná (Unespar).
Ficha do Trabalho
Título
- Monstruosidade feminina em “Medusa” (2021) e “Raquel 1:1” (2023)
Seminário
- Estudos do insólito e do horror no audiovisual
Formato
- Presencial
Resumo
- Essa pesquisa objetiva realizar uma análise dos filmes “Medusa” (2021), escrito e dirigido por Anita Rocha da Silveira e “Raquel 1:1” (2023), escrito e dirigido por Mariana Bastos, compreendendo como o cinema de horror brasileiro contemporâneo feito por mulheres vem desenvolvendo novas formas de representação da monstruosidade feminina. Partindo dos conceitos de Barbara Creed, bell hooks e Noël Carroll, pretende-se ressaltar a importância do discurso no horror nacional e suas novas abordagens.
Resumo expandido
- A pesquisa tem a intenção de abordar as novas nuances da representação da monstruosidade feminina nos filmes de horror brasileiro dirigidos por mulheres. Os filmes analisados serão “Medusa”, de 2021, dirigido por Anita Rocha da Silveira, e “Raquel 1:1”, de 2023, dirigido por Mariana Bastos, com o intuito de entender como os filmes propostos reinventam a figura da mulher monstruosa no gênero do horror.
O horror tem como uma de suas principais potências o fato de conseguir refletir as mazelas sociais com formatos originais. Mark Jancovich (2002) discorre sobre o tema de um filme de horror ser um objeto de estudo que levanta questões de análise cultural, bem como aquelas com teor político cultural. Simultaneamente, o gênero também tem o poder de reproduzir estereótipos que estejam intrínsecos no imaginário social.
Barbara Creed, ao escrever sobre a monstruosidade feminina, vai defender que, nas histórias de horror, as mulheres que não seguiam um padrão de comportamento, normalmente associados a conjunturas moralistas e religiosas, só podiam ser representadas a partir de dois olhares: os de vítima ou os de monstro. Enquanto alguns filmes retratavam essas personagens “rebeldes” como padecentes, outros acabavam por limitá-las a vilania.
Entretanto, com os filmes sendo escritos e dirigidos a partir de novas perspectivas, o horror nacional contemporâneo vem driblando esses papeis estereotipados e utilizando dessas mesmas premissas vistas no gênero para angariar novas formas de representação das personagens femininas que se esquivam desses rótulos intrínsecos nessas histórias. Partindo do princípio que o horror tende a funcionar como um espelho da sociedade, podemos observar como os filmes “Medusa” (2021) e “Raquel 1:1” (2023), reavaliaram o discurso característico da construção das personagens femininas que são vistas como “monstras” nas narrativas.
Em “Medusa”, temos um grupo de jovens mulheres evangélicas que perseguem e violentam outras meninas que elas consideram “do mundo”, até que uma jovem religiosa, por conta de uma obsessão com uma das meninas que ela julgava, acaba descobrindo o pecado e quem ela realmente é fora da igreja. Já em “Raquel 1:1”, também observamos um grupo de meninas evangélicas que, após uma delas se questionar sobre a subserviência da mulher na religião, resolvem reescrever a bíblia, removendo e atualizando passagens partindo de um viés feminista. As protagonistas dos dois filmes são vistas no contexto narrativo como hereges e perversas, entretanto, apesar dessa clara visão, essas atitudes que elas tomam não as condenam a um lugar infeliz de monstras, mas reflete como uma forma de libertação dessas mulheres. O monstro não é mais uma condição repulsiva, mas sim um método de emancipação.
Além de Creed, para embasar esse estudo se considera o método de Francis Vanoye e Anne Goliot-Lété sobre análise fílmica, que abordam que a análise de um filme é a ação de revê-lo, diferenciando-se de um olhar passivo, que o toma apenas como entretenimento, e agindo da perspectiva de espectador ativo, que o examina com um outro olhar, compreendendo-o conforme as significações que o(a) analista busca e suas implicações. Também serão usadas as pesquisas de bell hooks para abordar a análise fílmica e a mulher dentro da sociedade, além de Karla Holanda para falar sobre as mulheres no cinema, em adição a estudiosos do horror como Noël Carroll e Ann Radcliffe.
Esse trabalho se justifica pensando na urgência de se discutir as peculiaridades e originalidades que nascem conforme o horror se expande no território brasileiro, objetivando ampliar as pesquisas sobre as mulheres no cinema e apontar a posição de destaque das produções nacionais.
Bibliografia
- CARROLL, Noël. A filosofia do horror ou paradoxos do coração. Tradução: Roberto Leal Ferreira. Campinas: Papirus Editora, 1999.
CREED, Barbara. The monstrous-feminine: Film, feminism, psychoanalysis. Routledge, 2015.
HOLANDA, Karla. Da história das mulheres ao cinema brasileiro de autoria feminina. Revista FAMECOS: mídia, cultura e tecnologia, v. 24, n. 1, 2017.
HOOKS, Bell. O feminismo é para todo mundo: Políticas arrebatadoras. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos, 2018.
HOOKS, Bell. Reel to real: race, class and sex at the movies. Routledge, 2009.
JANCOVICH, Mark (Ed.). Horror, the film reader. Routledge, 2002.
RADCLIFFE, Ann. On supernatural in poetry. 2020.
VANOYE, Francis; GOLIOT-LÉTÉ, Anne. Ensaio sobre a análise fílmica. Papirus Editora, 1994