Ficha do Proponente
Proponente
- Luiz Ancona (FFLCH-USP)
Minicurrículo
- Bacharel e Licenciado em História e Mestre em História Social pela USP. Atualmente, é doutorando no mesmo programa com pesquisa sobre o filme O homem do pau-brasil (Joaquim Pedro de Andrade, 1981) e orientação de Marcos Napolitano. Em 2023 desenvolveu estágio de pesquisa na Université Versailles Saint-Quentin-en-Yvelines com bolsa FAPESP. Integra o grupo de pesquisas CNPq História e audiovisual: circularidades e formas de comunicação, coordenado por Eduardo Morettin e Marcos Napolitano.
Ficha do Trabalho
Título
- Oswald de Andrade no cinema da Abertura: três filmes emblemáticos.
Formato
- Presencial
Resumo
- O trabalho analisará três filmes brasileiros do início dos anos 1980: O homem do pau-brasil (Joaquim Pedro de Andrade, 81), Tabu (Júlio Bressane, 82) e O rei da vela (José Celso Corrêa e Noilton Nunes, 82). Além da proximidade temporal, os filmes adaptam, cada qual a sua maneira, vida e obra do escritor brasileiro Oswald de Andrade. A comunicação identificará e contrastará as representações e memórias construídas por cada filme acerca do legado oswaldiano e da história do modernismo brasileiro.
Resumo expandido
- Esta comunicação analisará três filmes concluídos no Brasil no início da década de 1980: O homem do pau-brasil (Joaquim Pedro de Andrade, 1981), Tabu (Júlio Bressane, 1982) e O rei da vela (José Celso Martinez Corrêa e Noilton Nunes, 1982). Além da proximidade temporal, os três filmes adaptam, cada qual a sua maneira, vida e obra do escritor paulista Oswald de Andrade (1890-1954). Cada filme empreendeu uma releitura distinta do legado oswaldiano, em particular, e do modernismo brasileiro em geral. Com isso, revisitaram eventos, personagens e obras da primeira metade do Século XX e se posicionaram num conjunto de debates que se desenrolavam desde a década de 1960 e que eram redimensionados no Brasil da Abertura. O momento era de balanços e revisões, de produção e embate de memórias sobre a ditadura, inclusive sobre as lutas culturais travadas em seu interior. E isso passava obrigatoriamente pela rediscussão do legado modernista, especialmente de Oswald, dado o destaque que sua obra assumiu a partir de meados dos anos 1960.
Um marco nessa guinada foi a encenação de O rei da vela pelo Oficina em 1967. O filme homônimo concluído em 1982 parte de filmagens realizadas em 1971 durante os ensaios para uma montagem carioca. Peça e filme foram interrompidos pela ditadura e o diretor Zé Celso exilou-se com os negativos. De volta ao Brasil em 1978, o material foi editado, somado a novos registros, imagens de família de Zé Celso e de Noilton Nunes, e diversas referências iconográficas e musicais numa colagem frenética e nada linear. Assim como na montagem de 1967, o filme empregou a dramaturgia oswaldiana para uma leitura trágica e fatalista, embora festiva, do Brasil e um ataque à esquerda nacionalista e comunista. O filme construiu ainda uma memória celebratória de Oswald e do Oficina, cujo retorno era anunciado como prolongação do legado oswaldiano no novo período que se esboçava no horizonte.
Em Tabu Oswald é personagem ao lado do compositor de marchinhas de carnaval Lamartine Babo. A escolha de atores é sugestiva: Oswald é interpretado por Colé, nome clássico das chanchadas, e Babo por Caetano Veloso, astro tropicalista comumente associado à antropofagia oswaldiana. Nesse jogo de aproximações entre atores e personagens, permeado por diversas referências numa colagem altamente experimental, o filme propõe uma espécie de memória alternativa do legado oswaldiano, que é deslocado de narrativas excessivamente paulistas e vinculado a elementos da cultura popular e de massas carioca. Assim, compõe-se uma história-mosaico da cultura brasileira, da qual o filme se apresenta como herdeiro e veículo.
O homem do pau-brasil também tem Oswald como personagem, interpretado por dois atores, um homem (Flávio Galvão) e uma mulher (Ítala Nandi). Em clima pornochanchadesco, o filme traz uma biografia bastante peculiar, que recusa qualquer noção de fidelidade histórica e mescla radicalmente vida e obra do escritor. O longa não só incorpora como endossa a palavra oswaldiana e diferentes releituras de seu legado. Mas o faz a fim de expor os limites e contradições da atuação do escritor – e também de seus desdobramentos ao longo do tempo, aí incluído o próprio cinema moderno, do qual Joaquim Pedro foi um importante protagonista. Em tom também autocrítico, a memória construída é a uma só vez celebratória e crítica, consciente das tensões e limitações da tradição modernista.
Bibliografia
- AGUILAR, Gonzalo. Os herdeiros da antropofagia. In ANDRADE, Gênese (org.). Modernismos 1922-2022. São Paulo: Companhia das Letras, 2022. p. 723-753.
ANCONA, Luiz. O homem do pau-brasil (1981) de Joaquim Pedro de Andrade: releitura oswaldiana no Brasil da Abertura. Anais eletrônicos XXV Encontro Estadual de História ANPUH-SP, 2020. Disponível em: https://www.encontro2020.sp.anpuh.org/anais/trabalhos/trabalhosaprovados
NAPOLITANO, Marcos. Coração civil: a vida cultural brasileira sob o regime militar (1964-1985). São Paulo: Intermeios, 2017.
ORTIZ, José Mário; AUTRAN, Arthur. O cinema brasileiro das décadas de 1970 e 1980. In RAMOS, Fernão; SCHVARZMAN, Sheila (org.). Nova história do cinema brasileiro. São Paulo: SESC, 2018. V. 2. p. 202-265.
REAL, Elizabeth. Modernismo e tropicalismo: releituras no cinema brasileiro dos anos 1980. Tese (Doutorado em Comunicação), UFF, Niterói, 2014.
XAVIER, Ismail. Roteiro de Júlio Bressane: apresentação de uma poética. Alceu, v. 6, n. 12, p. 5-26, 200