Trabalhos aprovados 2024

Ficha do Proponente

Proponente

    Iury Peres Malucelli (Unespar)

Minicurrículo

    Mestrando (bolsista CAPES 2024/25) do Programa de Pós-Graduação em Cinema e Artes do Vídeo (PPG-CINEAV) – da Universidade Estadual do Paraná (Unespar), orientado pelo Prof. Dr. Pedro de Andrade Lima Faissol. Pela mesma instituição, é bacharel em Cinema e Audiovisual. Membro do grupo de pesquisa Eikos (Unespar/PPG-CINEAV/CNPq). Atua em atividades artísticas no meio do cinema e audiovisual, com participação em equipes de realização de filmes, festivais e cineclubes.

Ficha do Trabalho

Título

    Problemas na análise comparada do cinema com outras artes visuais

Formato

    Presencial

Resumo

    Pretendemos formular uma reflexão teórico-metodológica sobre o espaço de contiguidade entre as imagens do cinema e das artes visuais, buscando habilitar o ato comparativo entre formas imagéticas distintas. Posta em jogo essa possibilidade analítica, o objetivo central deste trabalho é discorrer sobre os problemas e pontos de tensão que surgem no decorrer do ato comparativo, quando ele consiste no choque entre imagens de natureza ontológica distintas.

Resumo expandido

    Ao tentarmos delinear uma metodologia de análise da imagem cinematográfica que invista em sua relação com obras de outras artes visuais (pintura, escultura, gravura, desenho etc.), estamos deliberadamente mirando no “intervalo” entre as imagens. Ao mirar nas “fendas” que seccionam as formas visuais, nos deparamos com o problema da singularidade: como tratar do específico de uma forma artística? Qual a particularidade, por exemplo, da imagem cinematográfica, que a diferencia de outras imagens? Ao nosso ver, um método comparatista de análise não pode deixar de levar em conta essa pergunta, pois, no debate com (e entre) as imagens, o que há de irreconciliável por vezes é justamente o ponto de tensão em que surgem detalhes, contradições e deslizamentos de sentido essenciais para um projeto interpretativo.
    Tratamos as imagens, neste trabalho, como flores de um “jardim de arquivos declaradamente vivos” (SAMAIN, 2012, p. 23), ou seja, como agentes mnemônicos na história das imagens, objetos que participam de um fluxo de retorno de formas e de visões da humanidade no decorrer da história. Propomos que as imagens mantêm diálogo anacrônico entre si, e que as imagens do cinema não se isolam dessa história rizomática das artes visuais.
    A partir de tais pressupostos, temos um questionamento duplo. Em primeiro lugar, nos debruçaremos sobre o ato de montagem (DIDI-HUBERMAN, 2012, 2015; JACQUES, 2018) como proposta de pensamento analítico para o cinema: quais são alguns dos principais arcabouços teóricos com os quais podemos dialogar para estabelecer um método de análise comparativa do cinema com as artes visuais? Partindo da já conhecida noção matriz de Pathosformeln, elaborada por Aby Warburg, uma série de novas reflexões nesse campo poderão nos ajudar a construir esse raciocínio.
    Em segundo lugar, nosso problema derradeiro: quais conflitos metodológicos surgem na imediatez do ato de aproximar uma imagem do cinema, em movimento, com uma imagem estática, de outra forma artística qualquer? São realmente “comparáveis”, se levarmos em conta as cisões fundamentais entre as formas? A metáfora da “constelação”, conforme elaborada pela pesquisadora Mariana Souto, “pode historicizar um fato ou objeto do presente à luz de seus diálogos com possíveis antepassados” (2020, p. 155). Tal diálogo se dá na imaginação de linhas constelares entre obras, de conexões e desenhos que transgridem a contação teleológica da história. Mas como proceder ao esbarrarmos nas especificidades de cada forma visual?
    O objetivo principal deste trabalho é, portanto, planificar e discorrer acerca de tais problemas. Até o momento, identificamos seis elementos de cisão fundamentais que desafiam o específico cinematográfico: da imagem em movimento, da duração, do fora de quadro, da textura, do enquadramento, do lugar do autor. Cada um desses aspectos diz respeito a um traço fundamental da imagem fílmica que, quando posto em relação comparativa a outras artes, pode também ser levado em conta em suas particularidades. Neste trabalho, estes tópicos serão expostos e desenvolvidos de forma correlata, pois fazem parte de um mesmo objeto originário – o cinema, em sua relação com outras artes visuais. Nossas reflexões partem, entre outros, do trabalho de Jacques Aumont (2004) acerca da relação entre cinema e pintura, sendo que ali o pesquisador aglutina e mobiliza um diálogo com diversos conceitos e autorias pertinentes, como as noções de quadro-objeto, limite e janela, ou o conceito de “instante pregnante”, conforme Lessing.
    Vale ressaltar que essa problematização não visa contestar a validade do trabalho comparativo de imagens do cinema. Busca justamente o contrário: fortalecer a investida comparatista, com o objetivo de que não caiamos em simplificações em nosso exercício analítico, suprimindo aspectos incontornáveis de determinada forma imagética, visto a diversidade de formas existentes, com suas intrincadas formulações estilísticas, veredas historiográficas e valores ontológicos.

Bibliografia

    AUMONT, Jacques. O Olho Interminável – Cinema e pintura. Tradução de Eloisa Araújo Ribeiro. São Paulo: Cosac Naify, 2004
    DIDI-HUBERMAN, Georges. “Quando as imagens tocam o real”. Tradução de Patrícia Carmello e Vera Casa Nova. PÓS, Belo Horizonte, v. 2 n. 4, p. 204 – 219, nov. 2012.
    _______________. Diante do Tempo: História da arte e anacronismo das imagens; tradução Vera Casa Nova, Márcia Arber. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2015.
    JACQUES, P.B. “Pensar por montagens”. In: JACQUES, P.B., and PEREIRA, M.S., comps. Nebulosas do pensamento urbanístico: tomo I – modos de pensar [online]. Salvador: EDUFBA, 2018, p. 206 – 234.
    SAMAIN, Etienne (org). Como Pensam as Imagens. Campinas: Editora Unicamp, 2012.
    SOUTO, Mariana. “Constelações fílmicas: um método comparatista no cinema”. Galáxia, São Paulo, n. 45, p. 153 – 165, set./dez. 2020.