Ficha do Proponente
Proponente
- Armando Manoel Neto (UFSCar)
Minicurrículo
- Doutorando em Sociologia pelo Programa de Pós Graduação em Sociologia e Mestre em Educação pelo Programa de Pós Graduação em Educação, ambos pela Universidade Federal de São Carlos. Especialista em Ensino de Sociologia pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul CPNV/UFMS. Cientista social (bacharel e licenciatura) pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo – FFLCH/USP. Atua como professor, documentarista e parecerista de projetos audiovisuais.
Ficha do Trabalho
Título
- Mares intranquilos: mídia e racismo em Bahia de Todos os Santos (1960)
Formato
- Presencial
Resumo
- Este trabalho apresenta os resultados das pesquisas sobre o racismo nos discursos midiáticos em torno do filme Bahia de Todos os Santos (1960) de Trigueirinho Neto. Trata-se de uma análise de fontes primárias – as notícias, notas e matérias – publicadas em três jornais impressos de grande circulação nacional nos anos 1960. O objetivo é reavivar o debate e o entendimento desta narrativa, mas também da história social da obra, se entrelaçando com as discussões históricas sobre o racismo no cinema.
Resumo expandido
- O objetivo deste trabalho é apresentar os resultados das pesquisas sobre o racismo nos discursos midiáticos em torno do filme Bahia de Todos os Santos (1960) de Trigueirinho Neto. Trata-se de uma análise de fontes primárias – as notícias, notas e matérias – publicadas em três jornais impressos de grande circulação nacional nos anos 1960. São textos sobre o filme que vão a público num intervalo de alguns anos, partindo de sua concepção e produção, passando pelo lançamento, e reverberando ainda na história social das pessoas envolvidas na obra após sua exibição em diferentes circuitos. O texto que se segue alterna diferentes perspectivas metodológicas, como teoria do cinema (ANDREW, 2002) e análise fílmica (ADAMATTI & UCHOA, 2020), para buscar criar um entendimento de como à narrativa, mas também a história social da obra, se entrelaçam com as discussões históricas sobre o racismo no cinema.
Nesta investigação, analisaremos os textos publicados por uma série de críticos e jornalistas, em colunas e cadernos especializados que demonstram a importância de se investigar tais escritos em sua forma discursiva, ou seja retomando sua estrutura textual e visual enquanto veículo de mídia, que guarda certas intencionalidades historicamente configuradas. De fato, Bahia de Todos os Santos (1960) ficou conhecido por ser uma obra que trouxe às telas uma série de debates sociais, mas também por receber alguns prêmios nacionais e lançar atores e atrizes em carreiras de sucesso (CARVALHO, 2003). Nosso objetivo neste trabalho é discutir como estes aspectos se relacionam com os entendimentos e compreensão da questão racial nos anos 1960, num intervalo que vai desde pouco antes do lançamento, até à entrega de premiações e o trágico falecimento de seu ator principal alguns anos depois.
A pesquisa partiu de uma pesquisa na base de dados disponibilizada pela Fundação Biblioteca Nacional, que buscou os discursos produzidos pelos jornais impressos “Jornal do Brazil”, “Correio da Manhã” e “Diário de Notícias” do Rio de Janeiro, e “Correio da Noite” e “Correio Paulistano” de São Paulo. Neste cenário foi possível constatar à hipótese de que, mesmo o filme insistindo em trazer uma narrativa sobre o racismo e discussões racialmente interessadas, o que inclui as condições dos “mestiços” e sua inserção na sociedade, havia uma camada de leitura interpretativa por parte da mídia que obstrui a essas discussões. Observa-se que são raros os artigos ou matérias que sequer citam a palavra racismo, ou mesmo raça, em suas análises ou críticas sobre o filme. Há ainda, uma profunda perspectiva de hierarquização quando são abordadas as diferentes “raças” presentes no filme. O que nos leva a identificar a força do chamado “mito da democracia racial” nos círculos de analistas, jornalistas e críticos de cinema que emitiram seus pareceres públicos sobre o filme.
Ainda, voltando ao tema do mito da democracia racial, observamos como no artigo “Cinema na Bahia de Todos os Santos”, do Caderno B do Jornal do Brasil de 24 de setembro de 1960, o mito da democracia racial se faz forte como discurso sobre o filme de Trigueirinho Neto. E, ainda, como força que nega o racismo, insistindo numa espécie de apagamento sobre o conceito. Veja o excerto:
“A Bahia é a terra da democracia racial. Quando o mundo luta para combater o racismo, uma velha cidade da América do Sul abriga, brancos, mestiços, louros e negros numa comunidade social e sexual. (JORNAL DO BRASIL, 1960)”
A tentativa de estabelecer os paradigmas raciais é evidente no discurso da imprensa na época do lançamento da obra. Primeiro como perspectiva ufanista : a resolução do problema do racismo, passa a ser um “problema do resto do mundo”, na medida que na Bahia o racismo é resolvido pelo filme. Essa camada discursiva de análises, em um contexto que se via às voltas com o discurso “democracia racial”, se faz presente também quando se nomeia as “raças” presentes no filme.
Bibliografia
- ADAMATTI, Margarida; UCHÔA, Fábio. “Cinema, estilo e análise fílmica”. ArtCultura, Uberlândia, v. 22, n.40, jan./jun. 2020, p. 289-308.
ANDREW, J. Dudley. As principais teorias do cinema – uma introdução. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2002.
ARAÚJO, J. Z. O negro na dramaturgia, um caso exemplar da decadência do mito da democracia racial brasileira. Revista Estudos Feministas, V.16/n.3, 2008.
CARVALHO, Maria do Socorro. A Nova Onda baiana; cinema na Bahia (1958 – 1962), Salvador: Edufba, 2003.
CARVALHO, Maria do Socorro. O filme, a crítica e a cidade; a recepção de Bahia de Todos os Santos. Anais Digitais 15º Encontro SOCINE. 2011.
FOUCAULT, M. A ordem do discurso. Rio de Janeiro. Loyola, 2002.
MENEZES, Paulo. Sociologia e Cinema – aproximações teórico-metodológicas. Teoria e Cultura, v. 12, p. 17-36, 2017.
SILVA, Carolinne Mendes da. Antônio Pitanga: A persona revolucionária no cinema novo. In: Cinema Negro Brasileiro. Carvalho. Noel dos Santos. Campinas. Papirus Editora. 2022