Ficha do Proponente
Proponente
- Amanda de Sousa Veloso (UFG)
Minicurrículo
- Graduada em Direção de Arte pela Universidade Federal de Goiás, mestra e doutoranda em Comunicação pelo Programa de Pós-graduação em Comunicação da mesma universidade (PPGCOM/UFG) na linha de pesquisa Mídia e Cultura. Interessa-se por insólito ficcional sobretudo no cinema brasileiro, direção de arte e produção de sentido, sua pesquisa de mestrado centrou-se no filme Bacurau (2019) inserido no Circuito de Cultura. Lattes: https://lattes.cnpq.br/2847738122151795.
Coautor
- LARA LIMA SATLER (PPGCom/ UFG)
Ficha do Trabalho
Título
- O insólito em Bacurau: macro-gênero e a cultura vivida no Brasil
Seminário
- Estudos do insólito e do horror no audiovisual
Formato
- Presencial
Resumo
- Entendemos por insólito ficcional elementos narrativos que causam estranhamento no público e ainda como um macro-gênero que se opõe ao padrão real-naturalista. Nosso objetivo é pensar o insólito enquanto macro-gênero no filme Bacurau, de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, e suas relações com o estranhamento no público. Para isso, nosso percurso teórico-metodológico parte do Circuito de Cultura, de Richard Johnson, a fim de propor um diálogo entre produção, obra e espectadores.
Resumo expandido
- Bacurau, longa escrito e dirigido por Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, é o nome da pequena comunidade fictícia localizada a oeste do estado de Pernambuco onde toda a narrativa se desenrola. Apesar de sofrer com o constante descaso do poder público, a população se organiza coletivamente para suprir suas necessidades. Até que a aparente tranquilidade do povoado muda com uma série de acontecimentos estranhos e logo descobrimos o que está por trás disso: a população se tornara alvo de um grupo de estrangeiros cujo objetivo é realizar um jogo macabro de caça humana, no qual as mortes seriam contabilizadas em pontos para cada “jogador”, sua única opção agora é resistir e sobreviver ao ataque.
Ao ser lançado no Brasil, em agosto de 2019, o filme levou cerca de 800 mil espectadores ao cinema, feito importante para uma obra brasileira do “cinema de autor”, como aponta Ismail Xavier (2020, p. 37): “houve um sucesso de público raras vezes alcançado por essa modalidade de filme brasileiro nas últimas décadas – cerca de 800 mil espectadores”. Atribuímos o sucesso de Bacurau a dois fatores principais: 1. a aproximação que o filme tem com a conjuntura brasileira de lançamento; e 2. sua narrativa pouco convencional, que gera uma série de quebra de expectativas no espectador ao propor uma mescla de gêneros. Ambos os fatores se encontram no insólito, neste trabalho, nosso objetivo é fazer uma aproximação a partir do segundo fator.
O insólito, conceito mais comumente discutido nos estudos literários, se origina da literatura fantástica, de acordo com Costa (2023, p. 85), “aborda-se o insólito como um elemento estranho, desestabilizador, em meio à narrativa, mencionado como ‘caráter insólito’, ‘fatos insólitos’, ou ‘fenômenos insólitos’”. O insólito no cinema ocupa o lugar do elemento ou recurso narrativo que gera estranhamento no público (Costa, 2023), ao passo que, assim como na literatura, também pode se manifestar enquanto um macro-gênero que foge do padrão real naturalista. Outro ponto que nos chama a atenção é que, segundo Costa (2023, p. 85): “O insólito é construído na narrativa como um potencial e só se instaura, de fato, na reação do público”. Assim, para entender a relação entre a mescla de gêneros e o estranhamento causado no público, nos amparamos teórico-metodologicamente no Circuito da Cultura, proposto por Richard Johnson (2014).
O Circuito conta com quatro categorias principais: produção, texto (ou filme), leituras e culturas vividas, estas categorias se referem aos momentos dos processos culturais: produção, publicação e consumo. Esses quatro momentos apresentados por Johnson (2014), ainda que diferentes, dialogam entre si, por isso o circuito opera num movimento de retroalimentação. Já que as culturas vividas carregam elementos culturais ativos, como um reservatório de discursos e, para o autor, esses “reservatórios de discurso e significados constituem, por sua vez, material bruto para uma nova produção cultural” (Johnson, 2014, p, 25). Portanto, as culturas vividas alimentam a produção de um determinado texto que é lido em diálogo com as próprias culturas vividas.
Partindo dos diálogos entre os eixos da produção, texto (filme) e leituras (comentários publicados na rede social Letterboxd), compreendemos que o insólito em Bacurau aparece enquanto um macro-gênero, pois a mescla de gêneros cinematográficos acaba por subverter a expectativa do espectador e gerar um certo estranhamento com relação à obra. Além disso, essas quebras de expectativas criam uma tensão em tela, assim como o momento da escrita do seu roteiro, como comentado pelo diretor: “O conceito de ‘subida de tom’ era estarrecedor na vida real cidadã, mas como escritor parecia libertador, pedia um desafio” (Mendonça Filho, 2020, p. 18). Assim, o insólito enquanto macro-gênero em Bacurau aparece também em diálogo com os reservatórios de elementos e discursos presentes nas culturas vividas.
Bibliografia
- COSTA, Cynthia Beatrice. Tendências do insólito no cinema atual. In: MARKENDORF, Marcio; SÁ, Daniel Serravalle de; DROZDOWSKA-BROERING, Izabela (org.). GÓTICOS: Perspectivas contemporâneas. Florianópolis: UFSC, 2023. p. 85-99.
JOHNSON, Richard. O que é, afinal, Estudos Culturais?. In: SILVA, Tomaz Tadeu da (org.). O que é, afinal, Estudos Culturais?. 5. ed. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2014. p. 7-85.
MENDONÇA FILHO, Kleber. Três roteiros: O som ao redor, Aquarius, Bacurau. 1. ed: Companhia das Letras, 2020.
XAVIER, Ismail. Prefácio: Documentando Processos de criação. In: MENDONÇA FILHO, Kleber. Três roteiros: O som ao redor, Aquarius, Bacurau. 1. ed.: Companhia das Letras, 2020. p. 21-38.
ZINANI, Cecil Jeanine Albert. O insólito na literatura: perspectivas da narrativa fantástica. In: ZINANI, Cecil Jeanine Albert; KNAPP, Cristina Löff (org.). O Insólito na Literatura: Olhares Multidisciplinares. 1. ed. Caxias do Sul, RS: Educs, 2020. p. 18-36.