Trabalhos aprovados 2024

Ficha do Proponente

Proponente

    Marta Cardoso Guedes (SME)

Minicurrículo

    Doutora Educação UFRJ. Mestre Educação UFRJ. Especialista Psicomotricidade UNIIBMR. Professora Educação Física UGF. Atriz (DRT 20.318). Professora Educação Física Rede Municipal do Rio de Janeiro (SME). Professora responsável pelo Projeto Cinema para Aprender e Desaprender (CINEAD/LECAV/UFRJ) na Escola Municipal Prefeito Djalma Maranhão no Rio de Janeiro.
    Link Lattes: http://lattes.cnpq.br/7776876291421009

Ficha do Trabalho

Título

    CINEMA E ELABORAÇÃO DE MEMÓRIA NA ESCOLA: PRECARIEDADE E URGÊNCIA

Formato

    Presencial

Resumo

    A partir da investigação da história da favela do Vidigal (CINEAD), descobrimos e restauramos em parceria com a Cinemateca do MAM-Rio, imagens Super-8, fotografias e fitas cassete sobre a luta dos moradores da favela contra sua remoção para Antares/Santa Cruz em 1978. Desde então a elaboração de uma memória de luta da favela na escola desenvolveu-se como abertura à alteridade. Porém, após a pandemia, trabalhar com o cinema na escola da favela vem constituindo-se um desafio de desver.

Resumo expandido

    O presente estudo parte do princípio de que a articulação entre cinema, escola e história da favela é potente enquanto assunto a ser colocado “sobre a mesa/na tela” para matéria de estudo (MASSCHELEIN & SIMONS, 2013; 2014), além de ser de fundamental relevância na elaboração de uma memória coletiva e no direito ao exercício desta memória pelos estudantes da Escola de Cinema do Djalma, pelos estudantes da escola e quiçá para além dela. A característica do “tempo livre” da escola ressaltada por Masschelein & Simons (2013) enfatiza um tempo escolar livre de finalidades mercadológicas, ou seja, um tempo para o estudo que coloca os estudantes em uma condição de igualdade. Um “tempo livre” para materializar a skholé. Na Grécia Antiga skholé queria dizer o momento em que se escapava da determinação do fazer. “Em outras palavras, a escola fornecia tempo livre, isto é, tempo não produtivo, para aqueles que por seu nascimento e seu lugar na sociedade (sua “posição”) não tinham direito legítimo de reivindicá-lo” (MASSCHELEIN & SIMONS, 2013, p. 26). A propriedade do “tempo livre”, aliada à transformação de conhecimentos e habilidades em “bens comuns”, são os agentes fundamentais para que a nova geração supere e renove o mundo, independentemente dos antecedentes, talentos naturais ou aptidões de cada um, pois seriam o tempo e o espaço que os estudantes teriam para saírem de seu ambiente conhecido.
    Foi assim que em 2015, a partir da aposta da Escola de Cinema do Djalma com a investigação da história da favela do Vidigal, foi possível realizar o documentário Paraíso Tropical Vidigal. A partir de suas exibições potentes encontros se deram fazendo-nos descobrir e restaurar, em parceria com a Cinemateca do MAM-Rio, imagens Super-8, fotografias e fitas cassete sobre a luta dos moradores da favela contra sua remoção para Antares/Santa Cruz em 1978. Daí em diante, a elaboração de uma memória de luta da favela na escola desenvolveu-se como abertura à alteridade. Porém, com a interrupção das aulas presenciais causada pela pandemia do Covid-19, os estudantes que participaram tanto da restauração do material fílmico de outrora quanto das gravações de um novo filme documentário realizado no confronto das imagens de arquivo com as testemunhas da história (LEANDRO, 2018), já não se encontravam mais na escola Djalma Maranhão em 2022.
    Destarte, foi preciso iniciar uma retomada da Escola de Cinema do Djalma com outros estudantes e novas parcerias. Porém com a intervenção da Segunda Coordenadoria Regional de Educação (2ª CRE) na Escola Municipal Prefeito Djalma Maranhão, que instituiu uma nova equipe gestora desde final de 2022, vem sendo cada vez mais difícil prosseguir com o trabalho de elaboração de uma memória de luta da favela com as imagens na escola. Existe um certame de versões que visa projetar a nova gestão em detrimento da anterior. Nesta batalha as imagens estão em disputa. “Essa guerra de imagens é uma guerra por narrativas que estão na base de construção de visões de mundo que nos atravessam e que sustentam as nossas ações e nosso próprio bem estar no mundo” (SELIGMANN-SILVA, 2023, p. xii). Deste então, voltar a trabalhar com o cinema na escola da favela vem constituindo-se um desafio de desver, uma vez que são cada vez mais constantes e acirrados os ataques das políticas públicas educacionais de cunho neoliberal que visam cercear a criação e a imaginação das crianças e jovens da classe trabalhadora e a prática pedagógica autônoma de professores, bloqueando o processo emancipatório de ambos.
    Fazer, estudar e pesquisar audiovisual nessa escola tem sido conviver cotidianamente com uma certa precariedade e urgência, mas, “a natureza que fala à câmera é diferente da que fala aos olhos. Diferente sobretudo porque a um espaço conscientemente explorado pelo homem se substitui um espaço em que ele penetrou inconscientemente” (BENJAMIN, 2017, p. 39). Assim sendo, buscamos fazer reemergir essa historiografia diversa em um contexto deveras adverso.

Bibliografia

    BENJAMIN, Walter. A obra de arte na época da possibilidade de sua reprodução técnica (5ª versão). In. Walter Benjamin Estética e sociologia da arte. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2017.

    LEANDRO, Anita. Testemunho filmado e montagem direta dos documentos. In. DELLAMORE, Carolina; AMATO, Gabriel; e BATISTA, Natália, orgs. A ditadura na tela. Questões conceituais. Belo Horizonte: Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas – UFMG, 2018, pp. 219-232.

    MASSCHELEIN, Jan & SIMONS, Maarten. Em defesa da escola: uma questão pública. Belo Horizonte: Autêntica, 2013.

    ________________, Jan & Maarten. A pedagogia, a democracia, a escola. Belo Horizonte: Autêntica, 2014.

    SELLIGMANN-SILVA, Márcio. Walter Benjamin e a guerra de imagens. São Paulo: Editora Perspectiva, 2023.