Trabalhos aprovados 2024

Ficha do Proponente

Proponente

    Matheus José Pessoa de Andrade (UFPB)

Minicurrículo

    Doutor em Ciência da Informação (UFPB). Professor do Departamento de Comunicação da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), da área de Direção de Fotografia do curso de Cinema e Audiovisual. Integrante do GPCEP – Grupo de Pesquisa Cinematografia, Expressão e Pensamento (CNPq/UFF). theujp1@gmail.com.

Coautor

    Theresa Christina Barbosa de Medeiros (UFRN)

Ficha do Trabalho

Título

    Os paramentos de luz do filme Morte, morte, morte

Seminário

    Estética e plasticidade da direção de fotografia

Formato

    Presencial

Resumo

    Este é um trabalho sobre o uso dos paramentos de luz na narrativa do filme Morte, morte, morte (Halina Reijn, 2022), pontualmente nas cenas noturnas da trama a partir da falta de energia elétrica. Nossas ponderações são sobre a composição visual através de dois pontos de vista: da direção de fotografia e da direção de arte, tomando os referidos artefatos como um ponto de interseção peculiar de ambos numa obra de ficção.

Resumo expandido

    Chamamos de paramento de luz toda fonte luminosa aparente no enquadramento de uma narrativa audiovisual. Objetos como abajur, luminária ou fogueira, entre tantos outros, quando vistos pelo espectador na tela, são paramentos de luz. Entendemos que uma fonte luminosa na imagem é, também, um notável ponto de interseção entre a direção de fotografia e a direção de arte. Por isso, nosso olhar analítico aqui busca o entorno dos paramentos de luz, isto é, os processos de ambos referentes ao uso deles nas cenas, pensando, juntamente, como esses setores dialogam em função da composição visual.
    Os paramentos de luz são artefatos muitos recorrentes nas cenas noturnas das obras de ficção, por contribuírem com a construção da atmosfera notívaga de uma imagem (Andrade, 2023), como no caso do filme Morte, morte, morte (Bodies, bodies, bodies), lançado em 2022, da diretora e atriz holandesa Halina Reijn. A trama apresenta um grupo de jovens ricos que se reúne na casa de um deles para uma festa. À noite, alguém sugere uma brincadeira chamada “Morte, morte, morte” para terem mais diversão. Entretanto, depois da primeira partida, há um desentendimento no grupo. Para piorar, falta energia elétrica, o que faz com que os paramentos de luz ganhem mais ênfase na narrativa: pulseiras luminosas, celulares e lanternas manuseadas pelas personagens; e janelas, lareira e luzes de emergência, para citar os mais perceptíveis.
    Nosso estudo se atém à composição visual do quadro. Observamos como esses elementos incidem tanto sobre a construção da iluminação quanto sobre a construção do espaço cenográfico, tendo em vista que as escolhas criativas de Jasper Wolf, diretor de fotografia do filme, e April Lasky, diretora de arte, carregam aspectos dessa relação de produção.
    Sobre a Direção de Arte, parte-se aqui do entendimento de que se refere à “concepção do ambiente plástico de um filme, compreendendo que este é composto tanto pelas características formais do espaço e objetos quanto pela caracterização das figuras em cena” (Hamburger, 2014, p. 18). Sendo assim, o trabalho com a cenografia e a produção de objetos, evidenciados nesta comunicação, constrói o universo plástico do filme e sua produção de sentido está inteiramente relacionada ao clima e atmosfera que se pretende. Estes objetos, que aqui entram no conjunto do que estamos chamando de paramentos, estão relacionados com as características da casa em questão, espaço cenográfico onde, durante uma noite, os personagens desenvolvem suas ações até que a luz do dia seguinte se faça presente. Assim como, podem ser considerados importantes elementos de caracterização dos personagens, um exemplo expressivo disso são os adereços, como pulseiras e colares neon fluorescentes, usados de forma recorrente pelos personagens.
    Sobre a direção de fotografia, nosso interesse está na iluminação, pois acreditamos que a existência de paramentos numa cena é fundamental para se elaborar os esquemas de luz: “(…) essas fontes serão nossa orientação na montagem da iluminação” (Monclair, 1999, p.184). Vale salientar que os esquemas de luz são “estilos de iluminação” (Hurter, 2010, p.119). Eles se referem à maneira como as fontes de luz são montadas e combinadas diante de uma ação. Cada fonte desempenha uma função num esquema: ataque, preenchimento, recorte e luz de fundo, de acordo com as intenções dramáticas. A cinematografia escolhe a direção, a intensidade e a cor das fontes para o quadro. Nisso, itens como os celulares na mão das personagens são levados em consideração para a criação dos esquemas de luz. Identificamos que, na obra, eles transitam entre as funções, conforme os quadros.
    Entendemos, por fim, que os paramentos de luz são um ponto nodal da relação entre a DF e a DA em prol da composição visual de um filme de ficção. O que o torna um potente objeto de análise, no movimento de evidenciar e problematizar o trabalho colaborativo dos campos envolvidos na produção cinematográfica e na produção de sentido da obra.

Bibliografia

    ANDRADE, Matheus. A noite no cinema: ensaios sobre direção de fotografia em cenas noturnas. João Pessoa: EDUFPB, 2023.

    BASTOS, Dorotea Souza; PAIVA, Milena Leite; MEDEIROS, Thereas. Apontamentos iniciais para uma metodologia de análise fílmico a partir da direção de arte. In: SUING, Abel et al. Imagens em Movimento. Lisboa: RIA Editorial, 2023.

    HAMBURGER, Vera. Arte em cena, a direção de arte no cinema brasileiro. São Paulo: Editora Senac, 2014.

    HURTER, Bill. A luz perfeita: guia de iluminação para fotógrafos. Balneário Camboriú, SC: Photos, 2010.

    MONCLAR, Jorge. O diretor de fotografia. Rio de Janeiro: Solutions comunicações, 1999.