Trabalhos aprovados 2024

Ficha do Proponente

Proponente

    Estevão de Pinho Garcia (IFG)

Minicurrículo

    Docente do curso de Cinema e Audiovisual do Instituto Federal de Goiás, Câmpus Cidade de Goiás, desde 2015. Doutor em Meios e Processos Audiovisuais pela ECA/USP, mestre em Estudos Cinematográficos pela Universidade de Guadalajara, e bacharel em Cinema pela UFF. Foi professor visitante da UNILA entre 2012 e 2014. Atuante em pesquisas e publicações sobre o cinema latino-americano. Dirigiu e roteirizou O latido do cachorro altera o percurso das nuvens (2005) e Que cavação é essa? (2008)

Ficha do Trabalho

Título

    A imagem e o som da cura: Psicomagia (2019), de Alejandro Jodorowsky

Seminário

    Cinema e audiovisual na América Latina: novas perspectivas epistêmicas, estéticas e geopolíticas

Formato

    Presencial

Resumo

    Psicomagia possibilita um novo acesso à terapia criada pelo cineasta chileno Alejandro Jodorowsky nos anos 1970. Este novo acesso não se restringe às palavras, escritas ou faladas, de seu criador, como antes víamos em livros e entrevistas sobre o tema e sim se potencializa por meio de imagens e sons. Mas, como filmar um ato psicomágico? Como transpor para o cinema a busca pela cura e a cura em si? Como fazer do cinema uma experiência psicomágica? Nossa comunicação procurará sondar essas questões

Resumo expandido

    Em um jardim, observamos caminhar um homem que aparenta ter mais de noventa anos de idade. Ele se dirige até um lugar para sentar-se, tira o caderninho que estava embaixo do braço e começa a ler suas anotações. Trata-se de Alejandro Jodorowsky, diretor do filme e criador da terapia que o filme aborda. Os seus olhos alternam-se entre a lente e o caderno quando diz: “A psicanálise foi criada por Sigmund Freud, um médico neurologista, suas raízes são científicas. A psicomagia foi criada por Alejandro Jodorowsky, um cineasta e diretor de teatro, suas raízes são artísticas. A psicanálise é uma terapia mediante palavras. A psicomagia é uma terapia mediante atos. A psicanálise proíbe ao terapeuta tocar em seus pacientes. A piscomagia recomenda ao terapeuta tocar em seus consultantes. Essa forma de curar, mais além das palavras, me nasceu há 50 anos na forma de massagem iniciática. Eis aqui uma das minhas primeiras massagens iniciáticas, mãe e pai da psicomagia”. Ao pronunciar essas palavras, Jodorowsky, ao mesmo tempo em que realiza um breve prólogo do que veremos ao longo da projeção, faz uma estratégica distinção entre a sua terapia e a psicanálise afastando-a inteiramente do campo da ciência e localizando-a confortavelmente na esfera da arte e das manifestações artísticas. Posto que a psicomagia não é uma ciência e que não almeja ser explicada ou validada pela ciência é lícito indicar suas origens dentro de um marco temporal – nasceu há 50 anos – e sublinhar a forma que a antecedeu: a massagem iniciática. Em seguida anuncia a próxima imagem, que será um registro captado em vídeo de uma de suas primeiras massagens. A imagem de arquivo é antecedida por intertítulos grafados em letras brancas sob fundo negro que enuncia: “A rivalidade de dois irmãos pelo amor de sua mãe” e é isso que veremos, o cineasta terapeuta aplica massagem nos dois irmãos e em outro momento aparece a mãe, que se posiciona entre eles. Constatamos nossa ideia de “massagem” ser completamente desmontada uma vez que aqui não observamos o massageado passivo deitado em uma maca recebendo serenamente as mãos do massagista. No vídeo, os massageados são ativos e interagem entre si, cabendo em certos instantes ao terapeuta mediar e conduzir os gestos de seus consultantes. A finalidade tampouco é o relaxamento e sim a cura de traumas e conflitos familiares. É o grito dilacerante, o extravasamento e, posteriormente, o alívio. Essa será uma das poucas imagens de arquivo que serão utilizadas ao longo do documentário. Psicomagia se concentrará, sobretudo, em imagens geradas exclusivamente para o filme, isto é, em atos psicomágicos captados pelas lentes da câmera no momento presente. Antes desse filme o acesso que tínhamos à informações sobre a terapia estava restrito aos livros que o autor publicou ou a vídeos de entrevistas e conferências. A primeira publicação é um livro de entrevistas conduzidas pelo terapeuta Gilles Farcet em Paris em 1989 com o título La tricherie sacrée. Em 1995, em Paris, é lançado Psicomagia: uma terapia pânica, mais denso e com volumoso material das correspondências dos pacientes. Posteriormente publica na Espanha, em 2001, sua autobiografia intitulada La danza de la realidad, em que aborda a psicomagia e sua influência dos curandeiros populares mexicanos em diversos capítulos. De lá para cá, além de vermos a publicação de mais dois livros é possível localizar um número expressivo de conferências e entrevistas sobre a psicomagia concedidas à televisão francesa, espanhola, mexicana e chilena disponíveis no YouTube. Psicomagia, enfim, possibilita um novo acesso à terapia. Um acesso que não se restringe às palavras, escritas ou faladas, de seu criador. Se a psicomagia, ao contrário da psicanálise, é uma terapia feita por atos e não por palavras, a melhor maneira de conhecê-la é por meio dessa via. Mas, como filmar um ato psicomágico? Como transpor em imagens e sons a busca pela cura e a cura em si? Nossa comunicação procurará sondar essas questões.

Bibliografia

    COSTA, Marianne; JODOROWSKY, Alejandro. Metagenealogía. Barcelona: Siruela, 2011.
    FARCET, Gilles; JODOROWSKY, Alejandro. La trampa sagrada: el camino de la bondad. Madrid: Chandra, 2007.
    JODOROWSKY, Alejandro. De la psicomagia al psicotrance. Correspondencia psicomágica: la vía de la imaginación. Barcelona: Siruela, 2022.
    ________. La danza de la realidad. México: Siruela, 2007.
    _______ . Psicomagia. Buenos Aires: Debolsillo, 2010.
    ________. Manual de psicomagia. Consejos para sanar su vida. Barcelona: Siruela, 2009.