Trabalhos aprovados 2024

Ficha do Proponente

Proponente

    Pedro Maciel Guimaraes Junior (Unicamp)

Minicurrículo

    Professor Associado do Departamento de Multimeios, Mídia e Comunicação (Instituto de Artes/Unicamp), autor de Helena Ignez, atriz experimental (Sesc Ed. 2021) e de artigos sobre atuação fílmica, gêneros cinematográficos e história e estética do cinema e do audiovisual.

Ficha do Trabalho

Título

    O código histriônico na atuação : análise de uma forma de jogo atoral

Formato

    Presencial

Resumo

    Pretende apresentar as sobrevivências do código histriônico de atuação (Pearson, 1992), identificado com os filmes do início do cinema, em outros momentos históricos, demonstrando a recorrência do jogo opaco ou apresentacional como elemento expressivo dos atores e atrizes de cinema.

Resumo expandido

    O texto seminal de Roberta E. Pearson, Eloquent Gestures – The transformation of performance style in Griffith Biograph Films (1992), propõe a dicotomia do estilo performático em códigos histriônicos e verossímeis – o primeiro identificado com o “puro melodrama” dos filmes mudos até cerca de 1910; e o segundo com filmes realistas psicológicos que se consolidaram na mesma década. Afirmar que a performance melodramática difere de outros registros de atuação focados em preceitos transparentes naturalistas é a base da reflexão de outros estudiosos do cinema, como T. Elsaesser, C. Baron, L. Williams e C. Gledhill.
    Sem fazer um inventário exaustivo das características desse jogo melodramático histriônico, Pearson aponta algumas características dele: a) o alargamento espacial dos gestos; b) o congelamento das posturas físicas em determinados momentos de elevação dramática; c) a autoconsciência semiótica despertada pela inscrição desse gestual num repertório mais ou menos estruturado de posturas físicas no cinema, o que ela chama de “léxico limitado” d) o isolamento do gesto, tornando-o aparentemente segmentado.
    Esses escolhas de atuação tornam o “jogo palpável” (terminologia proposta por crítico da época e retomada por Pearson) e “eminentemente visível”(Baron, Carnicke, 2008, p. 18) fazendo com que o espectador note o artifício da atuação e tenha a consciência de estar diante de um ator reproduzindo atos e gestos já codificados dentro das artes figurativas. O jogo se torna portanto opaco e gradiloquente, ao contrário da transparência e do comedimento que ele adquire no registro verossímil, e salta aos olhos como sendo algo intermediado pela experiência cultural e profissional do ator; em outras palavras, assumindo seu histrionismo (a etimologia da palavra remete aos primeiros atores da humanidade, que atuavam sustentando a grandiloquência e artificialidade de seus gestos).
    A dicotomia de Pearson já apareceu na literatura sob outros nomes como transparência/opacidade (oriunda da linguística) ou o jogo representacional/apresentacional (James Naremore, 1988, p. 28). Esse paper pretende fazer um panorama de como esse histrionismo (opacidade, apresentacionalidade) se tornou peça integrante de filmes de diferentes momentos do cinema, não apenas dentro do cinema melodramático. Pretendemos investigar como esse jogo opaco percorreu tempos e espaços e se alojou em cinemas muito distintos daquele que viu nascer a proposta de terminologia de Roberta Pearson. Pretendemos demonstrar em imagens como o jogo histriônico se torna figura de estilo para cineastas e atores/atrizes através dos tempos e local de reivindicação da quebra com a transparência física sem necessariamente ameaçar as bases naturalistas gerais de uma narrativa fílmica.

Bibliografia

    BARON, Cynthia. Tales of sound and fury reconsidered. Melodrama as a System of Punctuation. Spectator 13, no. 2, 1993, p. 46-59.
    BARON, Cynthia. CARNICKE, Sharon Marie. Reframing Screen Performance. Ann Arbor : University of Michigan Press, 2008.
    GLEDHILL, Christine. Between mélodrame et réalisme: Anthony Asquith’s Underground and King Vidor’s The Crowd. Ed. Jane Gaines. Classical Hollywood Narrative. The Paradigm Wars. Durham and London : Duke Univ. Press, 1992.
    GUNNING, Tom. D.W. Griffith and the narrator system. New York University, PhD. 1986.
    NAREMORE, James. Acting in the Cinema. Berkeley, Los Angeles: University of California Press, 1988
    PEARSON, Roberta E. Eloquent gestures. The Transformation of Performance Style in the Griffith Biograph Films. Berkeley: University of California Press, 1992.
    WILLIAMS, Linda. Melodrama revised. Ed. Nick Browne. Refiguring American Film Genres: History and Theory. Berkeley : University of California Presse, 1998, p. 42-88.