Trabalhos aprovados 2024

Ficha do Proponente

Proponente

    Sancler Ebert (PPGCine-UFF/FMU)

Minicurrículo

    Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Cinema e Audiovisual da Universidade Federal Fluminense (PPGCine-UFF) com período sanduíche na Universidade Nova de Lisboa; professor do Centro Universitário FMU/FIAM-FAAM e secretário executivo da Socine. Membro do grupo de pesquisa Modos de Ver – Estudos das salas de cinema, exibição e audiências cinematográficas (ESPM-UFF/CNPq). Cocriador da base de dados historiasdecinemas.com.br. Além da Socine, é associado da ABPA, AsAECA, AIM e Domitor.

Ficha do Trabalho

Título

    O transformista Darwin volta aos palcos: uma reencenação performática

Seminário

    Tenda Cuir

Formato

    Presencial

Resumo

    Nesta comunicação vamos recriar/reencenar uma performance do transformista Darwin, conhecido como imitador do belo sexo. O artista se apresentou no palco dos cineteatros brasileiros entre anos 1910 e 1930 e teve grande destaque na cena cultural carioca. A partir de uma pesquisa histórica realizada ao longo de sete anos, vamos recriar os números de Darwin, numa performance que reencenará a imitação corporal de mulheres, com reprodução de figurino e com as músicas dos espetáculos do imitador.

Resumo expandido

    Nesta comunicação vamos apresentar uma reencenação/recriação das performances do artista transformista Darwin nos palcos dos cineteatros brasileiros. Conhecido como imitador do belo sexo, Darwin se apresentou nos cineteatros de diversas cidades do país entre os anos de 1910 e 1930 e teve seu auge nos anos 1920 na cidade do Rio de Janeiro, então Capital Federal. A relevância do artista na cena cultural carioca pode ser compreendida a partir de três evidências: o longo tempo de permanência nos palcos dos cinemas da cidade; o uso de sua imagem na capa de partituras de canções do seu repertório; e a participação do imitador na comédia muda “Augusto Annibal quer casar” em 1923, dirigida por Luiz de Barros.

    Após sete anos de pesquisas em arquivos, pudemos compreender como eram as performances do transformista. Iremos refazer um de seus figurinos a partir de fotos publicadas na imprensa, reproduzir canções de seu repertório divulgadas em anúncios publicitários e reencenar sua performance corporal a partir de relatos publicados na imprensa da forma como se movia e conduzia seu espetáculo. Exibiremos uma performance gravada realizada pela artista drag Mercedez Vulcão que trabalhou junto ao autor da pesquisa na criação da reencenação.

    A partir da investigação realizada sabemos que Darwin apresentava cerca de três números em seu espetáculo. Entre as canções do seu repertório podemos citar os fox-trot La chula tanguista (Letra de E. Tegglen e música de Juan Rica), Cosi piange Pierrot (letra e música de C. A. Bixio), e os tangos La paiquita (música de J. M. Codonez), Talán-talán (Letra de A. Vacarezza e música de E. Delfino), Pobre Madre! (Letra de Alfredo Lamarca e música de L. Martinez Serrano), Cascabelito (Letra Juan A. Caruso e música Joé Böhr).

    Sobre os figurinos, Darwin exibia roupas de luxo que eram anunciadas nas publicidades como “Luxuosíssimas toilettes, últimas novidades da moda! Cenários deslumbrantes! Uma fortuna empregada em cena! Elegância! Arte! Beleza, Graça e Donaire” (Gazeta de Notícias, 08 de agosto de 1922, p. 8); “[…] esplendor das 70 diferentes ‘toilettes’ de luxo que exibirá” (Correio da Manhã, 09 de dezembro de 1932, p. 8); “com as suas luxuosíssimas toilettes, dos mais afamados costureiros de Paris […]” (Correio da Manhã, 20 de dezembro de 1932, p. 10); “Vem de Paris. Traz toilettes de Patou, Worth!” (A Noite, 10 de dezembro de 1932, p. 2), se referindo ao estilista francês Jean Patou e ao costureiro inglês Charles Frederick Worth.

    Em relação as imitações das mulheres, temos relatos das performances, como o publicado no artigo O poder do artifício do jornalista Costa Rego: “[…] porque Darwin não seria perfeito se não houvesse estudado a maneira como a mulher costuma apoiar-se sobre o pé direito, deixando ligeiramente suspenso o pé esquerdo; dos dotes pessoais, porque essa observação de nada lhe valeria se a natureza não houvesse dado um físico acessível ao esforço da adaptação” (Correio da Manhã, 21 de abril de 1922, p. 2). Em outra nota, outros detalhes são descritos: […] A exteriorização é perfeita. É perfeita pela verdade do gesto, pela leveza do caminhar, pelo encanto das poses. Engana maravilhosamente. Darwin, que é um rapagão formoso, em cena, dentro de um vestido decotado, onde o seu colo desabrocha, como uma flor muito branca e muito linda, é fascinada criatura, uma perfeita mulher com toda a perturbação do seu encanto dominador. (…) E a graça encantadora das mulheres fascinadoras, das mulheres que seduzem, está estampada na sua expressão do seu rosto, na doçura de seu sorriso, na meiguice daquele seu olhar rasgado e quente. Darwin então é mulher […] (Gazeta de Notícias, 01 de novembro de 1914, p. 2).

    Dessa forma, nesta comunicação, além de apresentar a recriação/reencenação do espetáculo de Darwin, vamos refletir sobre o processo de construção dessa performance a partir da investigação histórica e permitir a discussão sobre o tipo de performance do feminino realizada pelo artista.

Bibliografia

    A Noite. Rio de Janeiro, RJ: Empresa Jornalistica A Noite, 1911-1964. Disponível em: http://bndigital.bn.br/acervo-digital/noite/348970.

    CORREIO da Manhã. Rio de Janeiro, RJ: [s.n.]. Disponível em: http://bndigital.bn.br/acervo-digital/correio-manha/089842.

    EBERT, Sancler. “Darwin casa-se por engano: um transformista em destaque na comédia Augusto Annibal quer casar (Brasil, Luiz de Barros, 1923)”, Vivomatografías. Revista de estudios sobre precine y cinesilente en Latinoamérica, n. 8, diciembre de 2022, pp. 169-198.

    GAZETA de Noticias. Rio de Janeiro, RJ: Typ. da Gazeta de Noticias, 1875-1956. Disponível em: http://bndigital.bn.br/acervo-digital/gazeta-noticias/103730.

    GREEN, James. Além do Carnaval. A homossexualidade masculina no Brasil do século XX. São Paulo: Editora Unesp, 2000.

    TREVISAN, João Silvério. Devassos no paraíso: a homossexualidade no Brasil, da colônia à atualidade. Rio de Janeiro: Record, 2018.