Trabalhos aprovados 2024

Ficha do Proponente

Proponente

    Justo Planas (LeMoyne)

Minicurrículo

    Professor Assistente de Estudos Latino-Americanos no Le Moyne College. Doutor em Culturas Latino-Americanas, Ibéricas e Latinas pela Universidade da Cidade de Nova Iorque. Mestrado em Estudos Latino-Americanos pela Universidade Nacional Autônoma do México. Bacharelado em Jornalismo pela Universidade de Havana. Autor de El Cine Latinoamericano del Desencanto (Ediciones ICAIC, 2018) e coeditor da compilação Isla Diseminada: Ensayos sobre Cuba (Editorial Hypermedia, 2022).

Ficha do Trabalho

Título

    Vampiros da Pobreza: Escopofilia e Paródia no Cinema Latino-americano

Formato

    Presencial

Resumo

    A partir da análise de Celestino e o Vampiro (Porto Rico, 2003) e A Fera e A Besta (República Dominicana, 2019), esta apresentação explora como a paródia pode desafiar o olhar escopofílico sobre a América Latina das indústrias cinematográficas hegemônicas. Os filmes retratam vampiros estrangeiros movidos pelo desejo de satisfazer tanto seu apetite quanto seu olhar por mulheres latinas. No entanto, essas paródias não apenas se concentram no prazer de assistir à frustração desses personagens.

Resumo expandido

    “Não em Santo Domingo: Furacões, vulcões em erupção. Não para mim. Obrigado!”; disse o vampiro europeu no filme dominicano A Fera e A Besta (Laura Amelia Guzmán & Israel Cárdenas, 2019). “Notícias falsas!”; respondeu a diretora de cinema francesa. “Você vai adorar. É o paraíso!” Este diálogo encapsula as representações hegemônicas dos espaços latino-americanos como infernais ou paradisíacos, além da invisibilização de suas populações. A partir da análise de Celestino e o Vampiro (Radamés Sánchez, 2003) em Porto Rico e A Fera e A Besta (Laura Amelia Guzmán & Israel Cárdenas, 2019) na República Dominicana, esta apresentação explora a representação paródica da escopofilia cinematográfica global sobre a América Latina. Como a paródia promove uma visão contra-hegemônica que questiona as narrativas turísticas, especialmente aquelas que envolvem a erotização e comodificação das culturas afro-latino-americanas?
    A economia do turismo, vista sob um olhar decolonial, revela relações transnacionais onde o prazer e o capital se entrelaçam em dinâmicas de poder. Considerando que corporações estrangeiras dominam o setor, Amalia Cabezas associa o turismo na América Latina a um processo de transferência de riquezas para o Norte Global, em detrimento das populações locais. Espaços latino-americanos marcados pela presença de populações afro-latino-americanas, como San Juan e Santo Domingo, atraem milhões de visitantes estrangeiros, mas a experiência destes não começa com a chegada. O consumo de mídia molda as expectativas dos turistas, fazendo com que sua visita se desenrole muitas vezes como uma reencenação (Appadurai, p. 35; Bruner, p. 22), enquanto representações exotizadas do sul global se tornam um recurso lucrativo para empresas de turismo transnacionais (Padilla, p. 3).
    A influência global dessas narrativas sobre a América Latina, significativamente reforçada por grandes indústrias cinematográficas como Hollywood, leva Mimi Sheller a questionar: “Podemos olhar para as práticas representacionais coloniais de uma maneira que as torne estranhas ou reconheça os estranhamentos que perturbam o olhar do turista?” Este artigo examina como filmes latino-americanos, como Celestino e o Vampiro e A Fera e A Besta, criam discursos contra-hegemônicos que desafiam a escopofilia do cinema e do turista global.
    A escopofilia está associada a um prazer específico de olhar que tem relevância tanto nos estudos de cinema quanto de turismo. Laura Mulvey sustenta que a escopofilia é um dos prazeres possíveis do cinema, que consiste em transformar as mulheres em objetos eróticos, impondo sobre elas um olhar patriarcal. Por sua vez, Annette Pritchard e Nigel Morgan colocam o olhar do turista dentro do que caracterizam como um “círculo hermenêutico”, enraizado em práticas de masculinidade, militarismo, imperialismo e ciência. Não é sem intenção que Luis Ospina aparece como ele mesmo em A Fera e A Besta. Em 1977, os diretores de cinema colombianos Luis Ospina e Carlos Mayolo cunharam o termo “pornomiséria”, criticando um cinema sobre a América Latina que transforma a miséria em espetáculo, em mercadoria. A pornomiséria é uma das várias formas que a escopofilia cinematográfica sobre a América Latina e o Sul Global em geral pode assumir.
    Os filmes em questão retratam a perseguição erótica a mulheres dominicanas e portorriquenhas por vampiros estrangeiros, movidos não apenas pelo desejo de saciar seu apetite, mas também pela vontade de satisfazer seu olhar. Diferentemente das indústrias cinematográficas hegemônicas, estes filmes criam uma estética baseada na constante negação dessa forma de prazer, tanto para seus personagens vampíricos quanto para os espectadores. Em seu lugar, estas paródias se concentram no prazer de assistir à frustração dos estrangeiros. Por meio de representações paródicas que equiparam o prazer estrangeiro ao vampirismo, os filmes analisados desconstruem a comodificação erótica da América Latina, dentro e fora da grande tela.

Bibliografia

    Appadurai, A. (2005). Modernity at large: Cultural dimensions of globalization. Minneapolis: University of Minnesota Press.

    Bruner, E. M. (2005). Culture on tour: Ethnographies of travel. Chicago: The University of Chicago Press.

    Cabezas, A. L. (2009). Economies of desire: Sex and tourism in Cuba and the Dominican Republic. Philadelphia: Temple University Press.

    Gregory, S. (2007). The devil behind the mirror: Globalization and politics in the Dominican Republic. Berkeley: University of California Press.

    Ospina, L., & Mayolo, C. (2015, February 25). ¿Qué es la porno miseria? Hambre: Espacio de Cine Experimental. Retrieved May 26, 2022, from https://hambrecine.com/2015/02/25/que-es-la-porno-miseria/

    Padilla, M. (2007). Caribbean pleasure industry: Tourism, sexuality, and AIDS in the Dominican Republic. Chicago: University of Chicago Press.

    Satarain, M., & Wehr, C. (2020). Escenarios postnacionales en el nuevo cine latinoamericano. München: Akademische Verlagsgemeinschaft München.