Trabalhos aprovados 2024

Ficha do Proponente

Proponente

    Antônio Burity Serpa (UFCG)

Minicurrículo

    Mestre em Cinema e audiovisual pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Bacharel em Cinema e Audiovisual pelo Centro Universitário AESO Barros Melo (UNIAESO). Atualmente é professor substituto do bacharelado de Arte e Mídia da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), onde leciona as disciplinas da área de áudio e tecnologia. Pesquisador de som no cinema e cineasta.

Ficha do Trabalho

Título

    Corpo-câmera-microfone: o som do filme Espero Tua Revolta

Seminário

    Estilo e som no audiovisual

Formato

    Presencial

Resumo

    A presente pesquisa tem como objetivo investigar o impacto do som na estética de documentários militantes, embasada por teorias do som em documentários e pela filosofia dos afetos. Selecionamos assim, o longa Espero Tua Revolta (Eliza Capai, 2019), para estudo de caso. Este filme documenta a luta dos estudantes secundaristas, que entre 2015 e 2016, ocuparam as suas escolas e organizaram protestos nas ruas contra a precarização do ensino público da cidade de São Paulo.

Resumo expandido

    A presente pesquisa tem como objetivo principal, investigar como o som pode impactar a estética de um documentário que se propõe a registrar a luta de um grupo político, a partir do estudo de caso do longa-metragem Espero Tua Revolta (2019), da diretora Eliza Capai. Este documentário registra as ocupações e protestos realizados por estudantes secundaristas, entre 2015 e 2016, contra a precarização do ensino público da cidade de São Paulo. Manifestações estas, que foram rotineiramente encerradas com brutalidade pela polícia militar.
    Este filme se aproxima de outros documentários do chamado “cinema militante”, embora esse termo seja bastante amplo, passível de debate, não apenas pela sua configuração no cinema, mas também, pelo significado do próprio termo “militância”, que não é consenso entre os autores. Segundo Sales, Fontes e Yasui (2018), sua origem etimológica parte de um conjunto de contextos sociológicos, psicológicos, culturais e históricos, que geram variadas definições.
    Cesar (2017), ao analisar as obras militantes do cinema brasileiro, chegou à conclusão que tais filmes são frutos de um desejo explícito de intervenção e transformação social a partir do cinema, “gestados em contextos de disputas políticas e em associação com movimentos sociais recentes ou já consolidados” (p.12).
    Um pilar fundamental em documentários militantes, é o engajamento político dos espectadores que assistem ao documentário. O cineasta-ativista tem como objetivo final, fazer com que o público compreenda os motivos da luta que ele está documentando, apoie o grupo e quem sabe, também se engaje nesta causa.
    Existem diversas estratégias possíveis para engajar os espectadores numa causa política. Uma delas, é o engajamento por meio das emoções, produzidas pelas imagens e sons que tocam o espectador no campo subjetivo e se envereda na estética do filme como um todo. Esta é a estratégia que aqui nos interessa.
    No caso do Espero tua revolta, as imagens representam as subjetividades dos indivíduos que registram as imagens e da multidão que está sendo documentada. “É o agenciamento entre ação política e imagem que configura as produções políticas e subjetivas da multidão” (LIMA, 2017, p. 28).
    Temos, então, um conjunto de subjetividades se relacionando entre si, as dos manifestantes, das pessoas que fazem o registro e dos espectadores que, posteriormente, vão assistir a esses filmes. O tom de denúncia e a ideia de dar visibilidade a um grupo oprimido, acaba funcionando como uma estratégia de existência (e resistência) política através das imagens (LIMA, 2017).
    Ele é resultante da relação profunda estabelecida entre seu corpo e sua câmera. O dispositivo que capta a imagem, acoplado ao corpo que registra o acontecimento, transforma-se em um só na produção de sentidos, um “corpo-câmera” (LEPRI, 2021). Esse corpo, então, é afetado por tudo que acontece nas manifestações.
    O som como um elemento que agrega valor à imagem, criando simbolismos por meio da “synchresis”, (CHION, 1994), também carrega valores políticos que, nesse contexto de militância, pode contribuir com o engajamento dos espectadores por meio de um impacto dramático, emocional e afetivo do som proveniente do acontecimento político documentado.
    Em nossa pesquisa, buscamos entender como o som também é afetado pelo acontecimento e como ele afeta os espectadores. De que forma os efeitos sonoros, músicas e materialidade das vozes, conseguem adentrar neste “circuito de afecções”, formado pela multidão documentada, o cineasta-ativista e os espectadores?
    Nessa conjuntura, refletimos sobre um conceito que chamamos de “corpo-câmera-microfone”, ou seja, o processo em que as imagens e os sons são captados por um mesmo dispositivo, normalmente uma câmera com um microfone acoplado, permanentemente ligado ao corpo do cinegrafista, que é afetado por tudo que acontece ao seu redor.

Bibliografia

    CESAR, Amaranta. Cinema como ato de engajamento: Documentário, militância e contextos de urgência. C. Legenda. Niterói. V. 1, n. 35, p. 11-23. FEV. 2017.
    CHION, Michel. Audio-vision: Sound on Screen. New York: Columbia University Press, 1994.
    ESPERO TUA (RE)VOLTA. Direção de Eliza Capai. Produção de Mariana Genescá. Rio de Janeiro: TVA2DOC, 2019. 1 DVD (90 min), son., color.
    FONTES, F. F; SALES, A. L. L. F; YASUI, Silvio. Para (Re)Colocar um Problema: A Militância em Questão. Trends in Psychology. Ribeirão Preto. V. 26, n. 2, p. 1-13. JUN. 2018.
    LIMA, Roberto Robalinho. Cartografia das imagens ardentes: Imagens, política e produção subjetiva nos protestos de Junho de 2013. 207 f. Tese (doutorado) – Universidade Federal Fluminense, Departamento de Estudos Culturais e Mídia, Programa de Pós-graduação em Comunicação, 2017.
    LEPRI, Adil. Corpo, política e sensação em vídeo nas redes sociais: a “câmera-corpo” como fenômeno fílmico. Imagofagia. Buenos Aires. V. 1, n. 24, p. 628-652. DEZ.