Trabalhos aprovados 2024

Ficha do Proponente

Proponente

    Maria Helena Braga e Vaz da Costa (UFRN)

Minicurrículo

    Professora Titular do Departamento de Artes da UFRN. Possui Pós-Doutorado (2023) em Geografia pela University of Sussex – UK e Pós-Doutorado (2012-2013) em Cinema pelo International Institute – University of California Los Angeles – USA; Doutorado (2001) e Mestrado (1993) em Media Studies pela University of Sussex – UK; Graduação (1986) em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal de Pernambuco – UFPE. É Bolsista Produtividade em Pesquisa do CNPq.

Coautor

    Veruza de Morais Ferreira (Sem vínculo)

Ficha do Trabalho

Título

    O fantástico e a relação espaço-tempo em filmes Potiguares

Formato

    Presencial

Resumo

    A experiência estética da tradição cultural do Nordeste pode ser percebida pela reiteração estética e técnica de elementos na mise-en-scène nos filmes potiguares Lua de Fogo (Walfran Guedes, 2016) e Era Uma Vez Lalo (Wigna Ribeiro, 2017). Vinculando-os analiticamente ao enredo fantástico, sob a perspectiva Armorial dos filmes ficcionais produzidos no Rio Grande do Norte, esse trabalho discute sobre a estética plástica Armorial entendendo-a como ‘ferramenta-guia’.

Resumo expandido

    Esse trabalho trata da experiência estética de uma possível tradição cultural do Nordeste, percebendo a reiteração estética e técnica de elementos na mise-en-scène nos filmes Lua de Fogo (2016) e Era Uma Vez Lalo (2017), vinculando-os analiticamente ao enredo fantástico, sob a perspectiva Armorial dos filmes ficcionais produzidos no Rio Grande do Norte. Aqui, a estética plástica Armorial segue como ferramenta-guia para a definição de uma estética cinematográfica vigente e que exalta a matriz nordestina. Ademais, há que se ressaltar que as produções citadas são independentes e não alcançaram o subsídio de editais fomentadores, buscando alternativas em patrocínios e recursos próprios.
    Os diretores norte-riograndenses dos filmes Lua de Fogo e Era Uma Vez Lalo desfrutaram da liberdade artística ao representar um enredo fantástico. Está circunscrita nos filmes uma abordagem sobre a transitoriedade entre o real e o imaginário, o erudito ao popular. A partir da categoria do enredo fantástico observamos os aspectos fundamentais dos elementos presentes na mise-en-scène (figurino, maquiagem, cenário e encenação). Por meio da delimitação e apresentação dos fatos que compõem a narrativa, observaremos no cenário – se estilizado e/ou realista – locais existentes, ambientes externos e internos, o figurino e a maquiagem e, na encenação, os movimentos e a interpretação que atendemos estar a serviço da fantasia. Dialogicamente percorremos o terreno do mítico e do popular na relação com o cronotopo (espaço-tempo) (BAKHTIN, 1997, 2002) e as experiências estéticas constituídas com o tempo.
    O cronotopo – aqui, entendido na perspectiva das imagens em movimento – sugere uma intensa atividade de retomada (reiteração), representado por lembranças, fatos, textos e discursos. Reminiscências de um período histórico significativo e a possibilidade de superar a demarcação entre espaço e tempo na linguagem cinematográfica são postas em ação.
    O enredo tendenciosamente fantástico dos dois filmes conduz a uma análise de narrativas emblemáticas. Apreende-se, nos dois casos, o fantástico como uma manifestação artística, expressiva e perceptiva do encadeamento de fatos narrados pelo popular, o fabuloso e o mítico contextualizados em uma estética discursiva entendida como uma estética plástica Armorial a partir das contribuições de autores como Ayala (2003; 2015), Santos (1999) e Suassuna (1974).
    O espírito fantástico e a construção poética da estética Armorial conduzem a referenciais culturais constatados na obra de Ariano Suassuna, por exemplo, pela existência de uma estética literária e artística consolidada nas raízes nordestinas em diálogo com a cultura erudita. O erudito encontra-se sobreposto ao paradoxo de que as manifestações populares não foram consideradas puramente eruditas, mas sintetizadas como eruditas pelo Movimento Armorial. O popular transforma-se em erudito por, auto conscientemente, manter uma tradição popular sem deixá-la dissolver no universalismo.
    A perspectiva teórico-metodológica estruturalmente adaptada e aplicada ao enredo e narrativa dos filmes sob a perspectiva de Bordwell (2008; 2018), levou ao desenvolvimento das categorias de análise (cenário, figurino, maquiagem e encenação) indispensáveis à construção estética fílmica favorecendo o poder narrativo da imagem em uma perspectiva multicultural. Dessa forma, defende-se a existência de influências estéticas na produção fílmica ficcional do Rio Grande Norte, e elucida-se elementos/técnicas-coringa de uma estética fílmica recorrente nas produções, com o objetivo de delinear uma tradição estética seguida pelos filmes potiguares.

Bibliografia

    AYALA, Marcos.; AYALA, Maria Ignez Novais (Org.). Cultura popular no Brasil. São Paulo: Editora Ática, 2003.
    _______. Metodologia para a pesquisa das culturas populares: uma experiência vivenciada. Crato: Edson Soares Martins. São Paulo: Martins, 2015.
    BAKHTIN, Mikhail Mjkhailovitch. Estética da criação verbal. 2.ed. Tradução Marina Appenzeller. São Paulo: Martins Fontes, 1997.
    _______. Questões de Literatura e de Estética: A Teoria do Romance. 5 Ed. Tradução Aurora Fornoni Bernardini et al. São Paulo: Hucitec Annablume, 2002.
    BORDWELL, David. Figuras traçadas na luz: a encenação no cinema. Tradução Maria Luiza Machado Jatobá. Campinas: Papirus, 2008.
    ______; THOMPSON, Kristin. A arte do cinema: uma introdução. Tradução Roberta Gregoli. Campinas: Editora Unicamp, 2018.
    SANTOS, Idelette M. F. dos. Em demanda da poética popular: Ariano Suassuna e o Movimento Armorial. Campinas: Unicamp. 1999.
    SUASSUNA, Ariano. Almanaque Armorial. Rio de Janeiro: José Olympio, 2008.