Ficha do Proponente
Proponente
- Eliany Salvatierra Machado (UFF)
Minicurrículo
- Professora do Departamento de Cinema e Vídeo e do Programa de Pós-Graduação em Cinema e Audiovisual – PPGCine – UFF.
Atualmente está finalizando o pós-doutorado na UNIDELAR – Montevidéu – Uruguai. Tem como tema de pesquisa, orientação e supervisão, a formação do/da educador/a audiovisual.
Ficha do Trabalho
Título
- A colonialidade do ver e as imagens-arquivo: reflexões
Seminário
- Cinema e audiovisual na América Latina: novas perspectivas epistêmicas, estéticas e geopolíticas
Formato
- Presencial
Resumo
- O presente texto tem por objetivo apresentar parte da pesquisa que tem como tema a perspectiva decolonial e suas contribuições na formação do/a educador/a audiovisual dentro da relação cinema-audiovisual-educação. A questão que orientou o estudo é: até que ponto o conceito de colonialidade do ver pode ser apropriado pelos/pelas educadores audiovisuais nas práticas pedagógicas na Educação Básica? O estudo passa pelo grupo Modernidade/ Colonialidade (M/C) e pela pesquisa de Joaquín Barriendos.
Resumo expandido
- A Colonialidade do ver.
Joaquín Barriendos, professor e pesquisador mexicano, desenvolve o conceito de colonialidade do ver em diálogo com o grupo Colonialidade/Modernidade. O pesquisador estabelece um contraponto (chamado de contraponto tático) entre os outros três níveis de colonialidade: o epistemológico (saber), o ontológico (ser) e o corpocrático (ou corpo-político). “Esse contraponto abriria, a partir do ponto de vista deste quadrívio decolonial, um novo campo de análise das maquinarias visuais de racialização que acompanharam o desenvolvimento do capitalismo moderno/colonial” (Barriendos, 2019, p. 41). Surge o conceito, em gestação, de colonialidade do ver.
Poder olhar de fora para certas genealogias e certos ecos de práticas sociais profundamente enraizadas a partir das quais opera a colonialidade do poder numa sociedade como o México foi, sem dúvida, o que radicalizou a minha necessidade de encarar a forma como o ocidentalismo latino-americano expressa-se na sua dimensão política e afetiva; isto é, ao nível da construção da subjetividade (Barriendos, 2010).
Barriendos, desde a sua participação no grupo Tristestópicos , faz uma série de exercícios críticos em torno dos imaginários do latino-americano na Europa, ou seja, em torno de como, a partir da Europa, os imaginários são construídos, colocados em circulação, renovados e implementados.
Em grande medida, a investigação que tenho vindo a desenvolver (sic) recentemente procura compreender exatamente como determinadas hierarquias estéticas atravessam e põem em funcionamento a matriz colonial do poder, do saber, do ser e do ver nestes três espaços: na universidade (isto é, no conhecimento acadêmico e nas relações geoepistemológicas), no arquivo (isto é, na ordem dos discursos, em como as políticas arquivísticas e a acumulação de documentos conduzem a formas de invisibilidade, inferiorização e racialização da diferença) e no museu (especificamente, nos dispositivos expositivos e nas políticas de representação, na gestão da diversidade cultural e nas políticas de aquisição, conservação e catalogação de obras de arte). Em suma, o que tento fazer é pensar como as hierarquias estéticas da modernidade-colonialidade se manifestam e se recombinam no sistema da arte atual e como se inscrevem e se transformam nessas três instituições, nos dispositivos expositivos e nas políticas de representação, na gestão da diversidade cultural e nas políticas de aquisição, conservação e catalogação de obras de arte) (Barriendos, 2010).
A colonialidade do ver é um conceito, segundo Barriendos, que coaduna com as análises realizadas pelo grupo M/C com relação ao processo de colonização contínua que ultrapassa o território, o espaço geográfico, político e econômico; que coloniza a subjetividade e oprime grupos sociais racializados, como indígenas e negros. Ao mesmo tempo, a colonialidade do ver consiste em uma série de superposições, derivações e recombinações heterárquicas, que em sua descontinuidade interconectam o século XV ao século XXI, o século XVI ao XIX etc.
A heterogeneidade histórico-estrutural desmonta a ideia progressista que afirma que a transformação histórica do visual se estrutura por fases, que vão das menos complexas e modernas às mais complexas e desenvolvidas. “A colonialidade do ver deve ser entendida como uma maquinaria heterárquica do poder que se expressa ao longo de todo o capitalismo, mas sob a forma explícita do que Quijano chama de heterogeneidade histórico-estrutural” (Barriendos, 2019, p. 43). A descolonização epistemológica é necessária, afirma Quijano, “para finalmente abrir caminho para uma comunicação intercultural, para uma nova troca de experiências e de significados, como a base de uma outra racionalidade que possa pretender, com legitimidade, alguma universalidade” (Quijano, 2000, p. 447).
Bibliografia
- BALLESTRIN, Luciana. América Latina e o giro decolonial. Revista Brasileira de Ciência Política, nº11. Brasília, maio – agosto de 2013, p. 89-117.
BARRIENDOS, J. De las políticas de reconocimiento a la reciprocidad en la diversidad: nuevas estrategias de subjetivación radical desde la diferencia. In: Pensar las dinámicas interculturales. Aproximaciones y perspectivas. Foro de doctorandos. Barcelona: Cibod Edicions, 2007, p. 56-63.
BARRIENDOS, Joaquín. A colonialidade do ver: rumo a um novo diálogo visual interepistêmico. Revista Epistemologias do Sul, v. 3, n. 1, p. 38-56, 2019.
BARRIENDOS, J.; CARTAGENA, M.F., LEÓN, C. Diálogos sobre la colonialidad del ver. Entrevista com Joaquín Barriendos. La Tronkal, 1 maio de 2010. Disponível na Internet via: http://latronkal. blogspot.com/2010/05/dialogos-sobre-la- colonialidad-del-ver.html. Acesso em 24 ago. 2023.
COTRIM, Gilberto. História global 1. 3ª ed. São Paulo: Saraiva, 2016.
DUSSEL, Enrique. 1492, o encobrimento do outro: a origem