Trabalhos aprovados 2024

Ficha do Proponente

Proponente

    Benedito Ferreira dos Santos Neto (Uerj)

Minicurrículo

    Benedito Ferreira é artista visual, diretor de arte e pesquisador. Doutorando em Artes na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), com apoio da Capes. É pesquisador vinculado ao Núcleo de Investigação em Direção de Arte Audiovisual (UFPE/CNPq).

Ficha do Trabalho

Título

    Também quero assumir a direção

Seminário

    Estética e teoria da direção de arte audiovisual

Formato

    Presencial

Resumo

    Esta comunicação objetiva discutir as implicações dos trabalhos de diretores de arte que alternam ou conciliam suas atuações como diretores cinematográficos. Para isso, recorre aos depoimentos de Alberto Cavalcanti e Luiz Carlos Ripper a fim de propor um diálogo com a produção brasileira contemporânea. Entre a feitura de cenário e cena, nota-se um dinamismo apto a combinar as genealogias de ambos os ofícios.

Resumo expandido

    Cena e cenário possuem simbioses que determinaram a constituição do nascimento da profissão do diretor de arte ao serem deflagradas pelo detalhamento visual das pranchas do production designer William Cameron Menzies. No Brasil, o cineasta Alberto Cavalcanti (1977) recorre ao quintal da família Lumière para demonstrar a importância da cenografia na constituição da narrativa. Trata-se de uma imagem emblemática que aparentemente não sofreu quaisquer intervenções. Embora não elabore uma reflexão que problematize os enredamentos entre cena e cenário, diretor e diretor de arte, Cavalcanti pontua que “um bom cenógrafo, como um bom diretor, deve conhecer a fundo as objetivas e saber escolhê-las para o efeito desejado” (p. 122). Mais do que acenar para a aproximação das funções, sua declaração, instituída aos moldes dos célebres manuais de cinema, recupera os esforços de Menzies, Anton Grot e Carl Jules Weyl, artistas que prontamente inscreveram a profissão do diretor de arte no panteão da indústria hollywoodiana.
    Em entrevista à revista Filme Cultura, cujo título é “Quero assumir a direção”, o diretor de arte Luiz Carlos Ripper comenta que após o reconhecimento de seu trabalho como cenógrafo e figurinista, “tudo lhe parece um pouco retake” (RIPPER, 1972, p. 30) e que “acho que possuo bastante experiência prática para assumir a direção” (ibid., p. 31). Ripper aproxima-se inicialmente do teatro com o intuito de buscar subsídios para compreender a totalidade do processo criativo, inclusive da experiência de ator, para então experimentar a direção cinematográfica.
    O cinema brasileiro contemporâneo, sobretudo as produções realizadas a partir dos anos 2010, tem atribuído à direção de arte uma responsabilidade crucial na criação da visualidade ao optar pela valorização de gestos inventivos de produção e finalização de imagem. Os financiamentos públicos que estimularam a descentralização das produções audiovisuais requisitaram outras formatações de equipe e muitos outros modelos têm sido experimentados.
    Também tem se tornado cada vez mais comum diretores de arte interessados em assumir a direção cinematográfica, seus intercâmbios e processos criativos, a exemplo de Renata Pinheiro, diretora de Amor, Plástico e Barulho (2013) e Carro Rei (2021), Glenda Nicácio, codiretora de Café com Canela (2017) e Juliano Dornelles, codiretor de Bacurau (2019). Entre uma proposta mais discreta, referida por muitos como “invisível”, ou aquela que “chama a atenção”, de modo a superlativar a caracterização do espaço e dos personagens, a direção de arte é capaz de instituir uma realidade do zero, dotando os ambientes de elementos não usuais ou sugerindo uma época a partir de um único elemento cênico. A artesania em determinados projetos anuncia resultados interessantes no que concerne às imagens dos filmes. Essas produções compreendem a ficção como o real em efervescente remodelação, o que interfere de maneira substancial na atuação da direção de arte obstinada a provocar uma espontaneidade latente nas imagens. Elas revelam, ainda, outros ímpetos e alcances da direção de arte, a batalha pela autonomia do campo e as formações profissionais que podem extrapolar as graduações em arquitetura ou artes plásticas.

Bibliografia

    CAVALCANTI, Alberto. Filme e Realidade. Rio de Janeiro: EMBRAFILME, 1977.

    DIDI-HUBERMAN, Georges. Diante da Imagem: questão colocada aos fins de uma história da arte. Tradução: Paulo Neves. São Paulo: Editora 34, 2013.

    FERREIRA, Benedito et al. (org). Dimensões da direção de arte na experiência audiovisual. Rio de Janeiro: Nau, 2023.

    RIPPER, Luiz Carlos. “Quero assumir a direção”. Filme Cultura, Rio de Janeiro, n. 32, p. 30-32, jul.-ago. 1972.

    RIZZO, Michael. The Art Direction Handbook for Film. New York: Focal Press, 2005.

    SANTOS NETO, Benedito Ferreira dos. Três reflexões sobre a direção de arte no cinema brasileiro. 2019. 138 f. Dissertação (Mestrado em Arte e Cultura Visual) – Universidade Federal de Goiás, Goiânia, 2019.