Ficha do Proponente
Proponente
- Benedito Ferreira dos Santos Neto (Uerj)
Minicurrículo
- Benedito Ferreira é artista visual, diretor de arte e pesquisador. Doutorando em Artes na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), com apoio da Capes. É pesquisador vinculado ao Núcleo de Investigação em Direção de Arte Audiovisual (UFPE/CNPq).
Ficha do Trabalho
Título
- Também quero assumir a direção
Seminário
- Estética e teoria da direção de arte audiovisual
Formato
- Presencial
Resumo
- Esta comunicação objetiva discutir as implicações dos trabalhos de diretores de arte que alternam ou conciliam suas atuações como diretores cinematográficos. Para isso, recorre aos depoimentos de Alberto Cavalcanti e Luiz Carlos Ripper a fim de propor um diálogo com a produção brasileira contemporânea. Entre a feitura de cenário e cena, nota-se um dinamismo apto a combinar as genealogias de ambos os ofícios.
Resumo expandido
- Cena e cenário possuem simbioses que determinaram a constituição do nascimento da profissão do diretor de arte ao serem deflagradas pelo detalhamento visual das pranchas do production designer William Cameron Menzies. No Brasil, o cineasta Alberto Cavalcanti (1977) recorre ao quintal da família Lumière para demonstrar a importância da cenografia na constituição da narrativa. Trata-se de uma imagem emblemática que aparentemente não sofreu quaisquer intervenções. Embora não elabore uma reflexão que problematize os enredamentos entre cena e cenário, diretor e diretor de arte, Cavalcanti pontua que “um bom cenógrafo, como um bom diretor, deve conhecer a fundo as objetivas e saber escolhê-las para o efeito desejado” (p. 122). Mais do que acenar para a aproximação das funções, sua declaração, instituída aos moldes dos célebres manuais de cinema, recupera os esforços de Menzies, Anton Grot e Carl Jules Weyl, artistas que prontamente inscreveram a profissão do diretor de arte no panteão da indústria hollywoodiana.
Em entrevista à revista Filme Cultura, cujo título é “Quero assumir a direção”, o diretor de arte Luiz Carlos Ripper comenta que após o reconhecimento de seu trabalho como cenógrafo e figurinista, “tudo lhe parece um pouco retake” (RIPPER, 1972, p. 30) e que “acho que possuo bastante experiência prática para assumir a direção” (ibid., p. 31). Ripper aproxima-se inicialmente do teatro com o intuito de buscar subsídios para compreender a totalidade do processo criativo, inclusive da experiência de ator, para então experimentar a direção cinematográfica.
O cinema brasileiro contemporâneo, sobretudo as produções realizadas a partir dos anos 2010, tem atribuído à direção de arte uma responsabilidade crucial na criação da visualidade ao optar pela valorização de gestos inventivos de produção e finalização de imagem. Os financiamentos públicos que estimularam a descentralização das produções audiovisuais requisitaram outras formatações de equipe e muitos outros modelos têm sido experimentados.
Também tem se tornado cada vez mais comum diretores de arte interessados em assumir a direção cinematográfica, seus intercâmbios e processos criativos, a exemplo de Renata Pinheiro, diretora de Amor, Plástico e Barulho (2013) e Carro Rei (2021), Glenda Nicácio, codiretora de Café com Canela (2017) e Juliano Dornelles, codiretor de Bacurau (2019). Entre uma proposta mais discreta, referida por muitos como “invisível”, ou aquela que “chama a atenção”, de modo a superlativar a caracterização do espaço e dos personagens, a direção de arte é capaz de instituir uma realidade do zero, dotando os ambientes de elementos não usuais ou sugerindo uma época a partir de um único elemento cênico. A artesania em determinados projetos anuncia resultados interessantes no que concerne às imagens dos filmes. Essas produções compreendem a ficção como o real em efervescente remodelação, o que interfere de maneira substancial na atuação da direção de arte obstinada a provocar uma espontaneidade latente nas imagens. Elas revelam, ainda, outros ímpetos e alcances da direção de arte, a batalha pela autonomia do campo e as formações profissionais que podem extrapolar as graduações em arquitetura ou artes plásticas.
Bibliografia
- CAVALCANTI, Alberto. Filme e Realidade. Rio de Janeiro: EMBRAFILME, 1977.
DIDI-HUBERMAN, Georges. Diante da Imagem: questão colocada aos fins de uma história da arte. Tradução: Paulo Neves. São Paulo: Editora 34, 2013.
FERREIRA, Benedito et al. (org). Dimensões da direção de arte na experiência audiovisual. Rio de Janeiro: Nau, 2023.
RIPPER, Luiz Carlos. “Quero assumir a direção”. Filme Cultura, Rio de Janeiro, n. 32, p. 30-32, jul.-ago. 1972.
RIZZO, Michael. The Art Direction Handbook for Film. New York: Focal Press, 2005.
SANTOS NETO, Benedito Ferreira dos. Três reflexões sobre a direção de arte no cinema brasileiro. 2019. 138 f. Dissertação (Mestrado em Arte e Cultura Visual) – Universidade Federal de Goiás, Goiânia, 2019.